por Roberto Santos
Recentemente, um dos maiores empresários brasileiros, Abílio Diniz, afirmou que sempre foi mais copiador do que inventor: “Copiei o Carrefour a vida inteira para procurar fazer melhor que eles”, disse a uma plateia de centenas de profissionais do varejo. “É muito mais curto o caminho para quem é copiador”. Considerando seu papel de líder de destaque no cenário empresarial brasileiro, sua afirmação soa como um questionamento da criatividade e incentivo à copia de modelos de sucesso de outras culturas e negócios.
Então, será que a escolha inteligente e perspicaz dos melhores modelos de negócio e a velocidade para copiá-los serão o diferencial de empresas de sucesso no presente e futuro?
As grandes transformações culturais ocorrem lenta, mas consistentemente. Em 1980, o futurólogo Alvin Toffler lançou o livro “A Terceira Onda”, depois do anterior, “Choque do Futuro”, que apontavam para as mudanças com a passagem da Revolução Industrial para a Era da Informação, antecipando muitas tendências hoje observadas. Porém, a ênfase das reflexões de Toffler que mais marcaram aquele período foi a crescente turbulência em nosso mundo – a única coisa permanente é a mudança.
Nos últimos anos, um novo conceito, adaptado de estratégias militares americanas, foi disseminado VUCA: Volátil, Uncertain (Incerto), Complexo e Ambíguo para descrever as características do mundo em que (sobre)vivemos.
(1) Vivemos numa instabilidade constante, de desafios inesperados e de duração desconhecida, ou seja, uma realidade Volátil;
(2) Dispomos de uma quantidade nunca imaginada de informações e dados, mas ainda, percebemos incerteza em tomada de decisões;
(3) A complexidade de múltiplas variáveis interconectadas, gerada por fatores como globalização e mudanças ambientais, torna o processo de análise do cenário extremamente desafiante
(4) Convivemos com situações sem precedentes, para nos basear, demandando a experimentação de tomada de riscos.
Será que a sobrevivência e o sucesso neste mundo VUCA serão viáveis apenas com o “exemplo do Abílio Diniz” do “copia & cola”? A criatividade deixou de ser uma competência diferenciadora de profissionais de talento?
Mais recentemente, na década em que vivemos, um novo conceito surge e se expande rapidamente, respondendo às questões acima — a Agilidade para Aprender, proposta pelo Centro para Liderança Criativa, depois incorporada pela Korn-Ferry que a define como: “…a habilidade e disposição para aprender com a experiência e aplicar a aprendizagem para se desempenhar com sucesso em novas situações.“ A agilidade para aprender substitui a inteligência, segundo seus proponentes, como melhor preditor de alto potencial.
Diante de um mundo em constantes mudanças turbulentas, a competência e energia empregues para abandonar habilidades, perspectivas e ideias que já não funcionam e aprender novas, parecem ter mais potencial de sucesso do que o “copy-paste” ou a simples criatividade de um publicitário.
O conceito de Agilidade para Aprender inclui 5 fatores:
1º) Agilidade Mental
Capacidade para analisar variáveis com rapidez e originalidade;
2º) Agilidade para Mudar
Sentir-se confortável e disposto a experimentar em cenários de mudança;
3º) Agilidade para Resultados
– Capacidade para gerar resultados em situações novas e ambíguas;
4º) Agilidade com Pessoas
Para trabalhar com grande diversidade de pessoas;
5º) Autoconhecimento
– Capacidade de conhecer nossos reais pontos fortes e fracos.
Assim, a agilidade para aprender, que na prática, pode se manifestar em se perguntar com frequência: “Por que não?” diante de sugestões que pareçam malucas, ou aquele “E se…? que desafia o jeito usual de fazermos as coisas.
Porém, estes questionamentos requerem a iniciativa de sair do meio do incêndio, distanciar-se do problema para refletir sobre as experiências e resultados atuais. Depois, o ponto crucial vem depois com nossas ações posteriores à resposta àquele questionamento – desafiar o status-quo das coisas como sempre foram feitas por aqui, requer, necessariamente, uma dose variável de tomada de risco.
Finalmente, como o mundo não para quando estamos testando novas ideias, precisamos garantir a calma e a resiliência para continuar com o desempenho gerador de resultados, como aquela imagem de trocar o pneu do avião com ele voando.
Destaca-se a competência do autoconhecimento como a base para que se avalie nossa capacidade de demonstrar as atitudes e comportamentos acima, o que depende em sua maior parte nas características de nossa personalidade.
Mediante medidas válidas de personalidade e motivações, conseguimos identificar as pessoas como mais potencial de aprenderem com agilidade. Pessoas com mais estabilidade emocional, determinação e foco nos resultados, com sensibilidade interpessoal para aumentar seu poder de influência para obter apoio a seus planos, com curiosidade intelectual e flexibilidade para rever seus posicionamentos e conceitos e buscar a renovação de conhecimentos e habilidades são algumas das características que se correlacionam com a agilidade para aprender.
Conhecer onde estão nosso pontos fortes e limitações nestas características nos permitirá fazer ajustes para ter sucesso nesse “mundo VUCA” em que o copia & cola serve apenas para a fórmula usada pelo Abílio Diniz há 50 anos quando começou sua rede de supermercados.