Por Regina Wielenska
Num muro perto de minha casa colaram um lambe-lambe que dizia algo assim: “O amor deveria ser como o ipê, que quando perde todas as suas flores e folhas e parece estar prestes a morrer, renasce e nos presenteia com suas lindas flores. ” Achei inspirador, criativo, mas pensando um bocadinho mais, me vi questionando os dizeres.
Vejam só, o amor entre duas pessoas pode começar a partir de muitas histórias. Conheci a história da moça que, dando risadas, conta que conheceu “por acidente” o homem que viria a se tornar seu marido. Ela bateu no carro do moço e deu início aos trâmites para arcar com os danos que causou a ele. As prosas se estenderam para além do necessário e tudo evoluiu para a atração mútua, encontros, namoros e casamento.
E como se mantém o amor? Conheço relacionamentos brevíssimos, outros longos e lindos, uns tantos não passam de um eterno sofrimento, cheio de agressões recíprocas e amargor. Não existe uma só forma de evoluir, as pessoas podem ou não crescer juntas na estrada do amor.
Uma árvore se desenvolve de forma relativamente previsível, agrônomos e botânicos sabem descrever o que faz bem para um ipê: ele precisa de solo, luminosidade, nutrientes e água em determinadas quantidades. Quando uma das variáveis da equação se desequilibra, a árvore pode sofrer, quiçá morrer.
Mas o que acontece quando o relacionamento entre dois adultos caminha para o que cada um supõe ser o amor?
Vocês imaginam a dimensão das variáveis que afetam o comportamento amoroso de uma dupla apaixonada?
Minha avó dizia que “em muitos casos, quando a miséria bate na porta, o amor sai pela janela”. E o dinheiro é condição necessária e suficiente para sustentar o amor, mantê-lo vivo? Certamente não.
Dada a riqueza e complexidade da vida humana, não parece sensato viver passivamente o fenecer do amor para então se lutar pelo seu renascimento. Pode ser tarde demais. Amor é lavoura para ser cuidada a cada dia, e há hora para tudo: cavar sulcos, adubar, semear, regar, podar, colher, evitar pragas, proteger a plantação de intempéries etc.
Amor é uma parceria, requer dedicação dos participantes, os frutos podem ter sabores variados. Admiração e respeito recíprocos, paciência e tolerância, senso de amor, liberdade e iniciativa nas práticas sensuais, compromisso, sonhos construídos e cultivados coletivamente… São tantas as variáveis em jogo! Amor não é bem um ipê, mas talvez uma densa floresta, com seus mistérios e belezas para os corajosos apreciarem com cuidado.