por Aurea Caetano
Jolande Jacobi; analista junguiana dizia: "a existência desenrola-se em vários níveis, como o material, o espiritual, o biológico, o psicológico etc, que se deixam expressar reciprocamente em analogias… No fundo, tudo na criação pode se tornar um símbolo das características, propriedades e traços do homem, assim como também representa correspondência com o cosmo…"
Os atuais estudos em neurociência têm contribuido para a compreensão da interrelação entre esses vários níveis da existência, este é um termo recente que abrange várias disciplinas envolvidas com a anatomia e o funcionamento cerebral em geral.
Hipócrates, pai da medicina teria dito que:
"Os homens devem saber que é do cérebro, e de nenhum outro lugar, que vem as alegrias, as delícias, o riso e as diversões."
Muito se tem estudado sobre o funcionamento do cérebro. A década de 90 foi chamada pelo governo americano de "A década do cérebro" e imensas somas de dinheiro para pesquisa foram utilizadas na área tanto do mapeamento cerebral quanto da tentativa de localização das funções mentais. Houve, então, um avanço considerável no conhecimento do cérebro e de seus correlatos, ou seja, o funcionamento da mente.
Enquanto para algumas pessoas, a compreensão total do funcionamento cerebral conterá tudo o que há para ser conhecido sobre a natureza e a experiência humanas. Para outros, essa tentativa é quase uma heresia. Seria como uma tentativa de explicar a mente de forma causal retirando dela suas "qualidades especiais" ou… sua imortalidade.
No entanto, segundo Rita Carter "Um mapa do cérebro não nos falará mais sobre a mente, do que um globo terrestre sobre céu e inferno. Em cada época, de acordo com as noções de mundo daquela cultura específica, um mapa de mundo será criado. Quanto maior nosso conhecimento, maior o detalhamento do mapa, mas ele será sempre um mapa. Representação gráfica de algo muito maior do que o mapa em si."
O primeiro "mapa de mente" data de cerca de 3000 a 2500 AC e foi encontrado em Luxor, em 1862, o chamado Papiro cirúrgico de Edwin Smith. Nele, estão relatadas as mais antigas descrições anatômicas, fisiológicas e patológicas de diversas doenças, foi o primeiro registro em que palavras como "cérebro", "meninges" e "liquido cefaloraquidiano", apareceram.
Antonio Damásio, neurologista português radicado nos Estados Unidos diz "A alma respira através do corpo, e o sofrimento, quer comece no corpo ou numa imagem mental, acontece na carne."
Ainda, segundo este autor:
Descobrir que um certo sentimento depende da atividade num determinado número de sistemas cerebrais específicos em interação com uma série de órgãos corporais, não diminui o estatuto desse sentimento enquanto fenômeno humano. Tampouco a angústia ou a sublimidade que o amor ou a arte podem proporcionar são desvalorizadas pela compreensão de alguns dos diversos processos biológicos que fazem desses sentimentos o que eles são. Passa-se precisamente o inverso: o nosso maravilhamento aumenta perante os intrincados mecanismos que tornam tal magia possível. A emoção e os sentimentos constituem a base daquilo que os seres humanos têm descrito há milênios como alma ou espírito humano.
Antonio Damásio