por Roberto A. Santos
Parodiando uma campanha contra a violência no trânsito de algumas décadas atrás, que dizia: "Não Faça de Seu Carro Uma Arma, a Vítima Pode Ser Você…", o uso da maravilhosa tecnologia do e-mail tem feito muitas vítimas, principalmente no mundo corporativo. Se o resultado no Brasil for equivalente a nossos recordes de acidentes de trânsito, é melhor estarmos preparados para esta outra guerra, porém com uma abordagem pacificista.
Recentemente, o "imeiu" ou, mais elegantemente, o e-mail fez aniversário, 15 anos, mais ou menos, portanto, prestes a entrar na adolescência. Tão jovem e já criando tantas dores de cabeça para as empresas. Será verdade?
Será que a automatização do processo de envio de mensagens escritas, como as ultrapassadas cartas e memorandos datilografadas, com cópias em papel carbono, enviados em envelopes, com selos e tudo mais, é a culpada por tantos problemas de comunicação atribuídos aos e-mails?
Mal entendidos, agressões veladas, delações disfarçadas, distanciamento entre as pessoas, tráfico de "micos", estrangulamento de redes, quebra de sigilo, desperdício de tempo e outros problemas seriam mesmo causados por essa "obra do demônio"? Nos velhos e bons tempos da Era Pré-Internet e Pré-E-mail esses problemas todos não existiam? Será?
Desde meu primeiro artigo quinzenal no Vya Estelar, há quase um ano, já respondi centenas de e-mails recebidos de meus leitores e leitoras. Certamente, eles não teriam escrito e eu não teria tempo de respondê-los se não tivéssemos essa tecnologia que aproxima, quase que instantaneamente, tantas pessoas, com idéias, dúvidas, críticas, elogios, angústias, pedidos de ajuda e algumas respostas.
Se existe o lado do Bem desta tecnologia e seu uso, onde se encontra o Mal? Numa de minhas primeiras exposições teóricas à Informática, uns 20 anos passados, marcou-me a expressão traduzida do inglês: "entra lixo – sai lixo". Ou seja, o computador é capaz de processar o lixo que se coloca dentro dele mas não se pode esperar a sonhada alquimia de transformá-lo em ouro. Se colocarmos veneno numa comunicação por e-mail ele provocará seu efeito mortal mais rápido mas não será transformado em vitamina.
Há outros tantos vinte e poucos anos, desenvolvi um curso sobre Gerência de Tempo, então em seus primórdios. Dentre os "desperdiçadores de tempo" que abordava naquele programa, havia um capítulo especial dedicado às correspondências.
A multiplicação de cópias (carbono e depois xerox) para divulgar algo que se fez ou que alguém não fez, para o maior número possível de pessoas. A "guerra de memorandos" em que gradualmente se aumentava o volume acusatório e o nível hierárquico envolvido. A cópia para arquivo ao final do memo para lembrar ao destinatário que estava protegido contra acusações futuras. Comunicações interdepartamentais que se resolveriam com uma passada no escritório do outro, ou com uma simples ligação telefônica, eram datilografadas por uma fiel secretária ou datilógrafo que diligentemente chamava o contínuo para enviar a declaração de guerra ao oponente.
Estes são alguns dos exemplos tratados naquele curso com os executivos da empresa em que trabalhava, na tentativa de reduzir o desperdício de tempo e o desgaste provocado pelas comunicações mal intencionadas. Adiantou? Não muito, infelizmente.
De volta ao presente, atuando como consultor, rapidamente surgem reclamações exatamente da mesma natureza: a comunicação interna é um problema central, e o e-mail, geralmente, é colocado no banco dos réus.
Hoje com uma rapidez assustadora, trocas de e-mails impensados, mal escritos, desnecessários, copiados a toda empresa, com puras demonstrações de poder, filas intermináveis de e-mails prá lá e prá cá que deixariam as folhas corridas de terríveis meliantes com inveja, com metros de comprimento. Isso sem contar, os problemas mais sutis e endêmicos de nossa população: erros crassos de português, de articulação de idéias, de falta de clareza, objetividade e principalmente, etiqueta.
Por conseguinte, minha impressão é que a tecnologia desenvolvida para computadores de mesa, de colo (laptops) e de palma de mão (palm tops), apenas exacerbou a más intenções das pessoas. O banco dos réus está com o culpado errado!
Cabe a cada um de nós repensar o processo de comunicação para evitar que sejamos transformados em vítimas. Como? Clique aqui e leia.