É possível amar uma pessoa e estar apaixonada por outra?

por Anette Lewin

"Não sei o que fazer. Sou casada, amo meu marido, mas o meu casamento já não é mais o mesmo: caiu na rotina. Conheci uma pessoa que me fez me sentir melhor. Somos somente amigos, mas noto que aos poucos estamos nos aproximando cada vez mais. Tenho medo de arriscar, de terminar meu casamento e me frustrar nessa nova relação. Estou ficando louca com essa situação, não durmo direito, minha ansiedade ja tomou conta."

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Resposta: Talvez valha a pena você se perguntar se, quando casou, imaginou que o dia a dia do relacionamento seria eternamente uma grande novidade. Será que isso é possível? Não!

Todo mundo sabe disso a partir do momento em que começa a entender a vida como ela é. Assim, parece que você está saudosa dos momentos de paixão, e vê em seu "somente amigo" uma oportunidade de resgatá-los.

Pelo que você escreve, a ansiedade, por enquanto, é mais fruto de fantasias do que de uma real possibilidade. Afinal, pelo que se entende, nada aconteceu e você se atribui toda a responsabilidade de transformar uma relação de amizade em uma relação amorosa, levar essa relação adiante e garantir que ela seja melhor ou, pelo menos, eternamente mais mobilizadora do que a atual. Tarefa difícil, não? Será que você não está sendo cruel demais ao exigir de si mesma tudo isso? Será que o interessante de tudo isso não seria o fato de que, por enquanto, o que te mobiliza é sua própria cabeça e as fantasias que por ela passeiam?

Espere as coisas clarearem para que você possa repensar seu casamento antes de tomar qualquer decisão precipitada. Não, o dia a dia do casamento depois da paixão não será suficiente para mantê-la mobilizada. Com esse ou com qualquer outro parceiro. Sim, novidades são quase sempre mobilizadoras; esse ou qualquer outro – "somente amigo por enquanto" – terá um poder incrível de fazer você sonhar e se sentir ansiosa e louca, mas viva!

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Assim tente entender quais as caracteristicas do seu marido que fizeram você escolhê-lo e o que realmente existe de tão maravilhoso no "quase amigo" pelo qual você quer trocá-lo. Será que se excluirmos a fase em que cada uma dessas relações se encontra encontraríamos uma diferença tão grande entre essas pessoas?

Trocar de parceiro hoje em dia é bastante comum. E grande parte das pessoas que o faz alega exatamente o que você diz: o casamento caiu na rotina. Agora, vamos e venhamos: não é característica das relações mais prolongadas cair na rotina? Se as coisas estão equilibradas e ninguém as tira do lugar… a rotina se instala! Será que isso é tão insuportável? Quem quer casar deve entender que rotina e casamento depois de alguns anos estão intimamente ligados. Quem não quer isso para sua vida deveria pensar muito, mas muito mesmo antes de se propor a enfrentar casamento, filhos, etc. Afinal, casar deve ser encarado como uma opção, não uma imposição.

Se depois de todas essas reflexões você achar que vale a troca, encare sua tentativa e esteja pronta para o novo, o risco, a felicidade ou a decepção. Afinal, como diz a música de Caetano Veloso Dom de Iludir: "Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é".

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