por Elisa Kozasa
Esta é uma pergunta que ouço com relativa frequência. Antes de mais nada, para responder a esta pergunta, é importante ficar claro o porquê de um pai ou responsável estar interessado em ensinar meditação para uma criança.
“O meu filho é incontrolável e se ele meditar talvez fique mais calmo”. Este termo “incontrolável” pode revelar sintomas de um transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), e neste caso, a menos que a criança esteja sendo devidamente tratada pela medicina convencional, será difícil obter algum resultado com meditação ou outra forma não convencional de tratamento.
Outro ponto que acho importante ressaltar é que, caso não seja um caso de TDAH, e haja dificuldade de “controlar” a criança, é bom considerar, o quanto a dificuldade não se deve a aspectos relacionados à própria dificuldade dos pais em ter a firmeza e a assertividade de dizer “não” quando necessário. Ou seja, é preciso avaliar em que medida os próprios pais não precisam rever o seu modo de educar a criança, ao invés de depositar apenas nela os problemas encontrados.
Criança estressada
“Meu filho vive estressado”. Esta frase também deve ser ponderada: uma criança não deveria “viver estressada”. Se essa é a condição em que ela se encontra, talvez rever as atividades dela na semana seja a chave para desestressar. Os pais cada vez mais querem criar uma criança “competitiva para a vida” e acabam sobrecarregando a agenda dos pequenos. Cada criança tem um ritmo que pode ser melhorado, mas sem exageros. Criança é criança e precisa dormir, descansar e brincar.
Por outro lado, se a intenção é, por exemplo, ajudar a criança a desenvolver foco e a administrar as suas ansiedades, ensinar uma prática meditativa pode ser interessante. Mas para crianças pequenas, meditar não é exatamente o que se faria com um adulto. Na realidade o que se costuma ensinar são práticas de concentração, atenção e percepção de sensações e emoções, e não necessariamente uma meditação convencional. O que se faz também é sempre utilizar-se de artifícios lúdicos para não cansar a criança.
Em Los Angeles, nos Estados Unidos, existe uma fundação chamada Inner Kids. Uma das atividades interessantes desenvolvidas por eles é uma prática de relaxamento com atenção na respiração em que as crianças ficam deitadas com um ursinho de pelúcia sobre a barriga. Isso ajuda a treinar a atenção para a respiração abdominal. Como o foco é o movimento do ursinho sobre a barriga, as crianças tendem a se manter ligadas na prática.
Treinar as sensações com objetos de diferentes texturas e temperaturas (massa de modelar, massa gelatinosa, etc.), com os olhos fechados, é outra prática interessante para crianças. Essas atividades são sempre realizadas em grupos, e com trocas das percepções entre os participantes.
Em geral as práticas e encontros com crianças são breves, a duração pode ir de 5 a 15 minutos. A frequência de práticas idem. Em algumas escolas de ensino básico são feitas práticas diárias, curtas e simples, como atentar e contar as respirações.
Enfim, é possível sim treinar práticas meditativas com crianças, desde que sejam realizadas adaptações das mesmas para os pequenos.
Dicas de leitura e vídeo:
Inner Kids Foundation: www.innerkids.org ; http://www.youtube.com/watch?v=5aOuxn7zASw ; http://www.youtube.com/watch?v=YWVkEVirYUg&feature=related