por Patricia Gebrim
Neste fim de semana, caminhando em um parque da cidade de São Paulo, encontrei uma jóia rara, o Sr. Dilson (mudei o nome para preservá-lo). Oitenta e um anos, todo arrumado, boina na cabeça, sentado em um banco de concreto, o Sr. Dilson serenamente tocava seu violão.
Mesmo na pressa de minha caminhada, aquela cena me encantou. Parei. Fiquei um pouco por perto, ouvindo… ele tocava bem, e tinha tanta calma naqueles acordes… uma paz… era um tocar sem pressa, o tocar de quem já viveu muito e sabe que pressa não combina com poesia… fui me aproximando aos poucos, sem querer invadir, sentando cada vez mais pertinho, até que estava lá, bem ao lado dele, me deliciando com a música e com o inusitado daquele momento.
Passei a observar as pessoas. Algumas passavam direto pelo violão e pelas mãos encantadoras que o tocavam. Outras sorriam, algumas paravam e esperavam que ele terminasse uma música para parabenizá-lo. Uma família se aproximou de nós e eu vi que estavam vivos por dentro, sentaram-se perto de nós, encantados como eu e, a cada música finda, batiam palmas, e o Sr. Dilson sorria, e eu vi que ele estava feliz com a platéia e se esmerava ainda mais em sua dança com o violão.
– O que existia de tão encantador no Sr. Dilson afinal? – fiquei me perguntando.
Vida!
Mesmo com a idade, ele continuava vivo! Isso torna uma pessoa muito brilhante, acreditem. Tinha um brilho especial naqueles olhos meigos, naquele sorriso acanhado, naquela música que brotava não só de seus dedos, mas de seu coração. Depois de um tempo lá, posso dizer que criei laços, mesmo que momentâneos, com o Sr. Dilson. Eu queria aprender com ele, saber como ele tinha feito para preservar tanta beleza. Puxei conversa. Gentilmente ele me contou sobre sua paixão pela música, sobre o quanto praticava diariamente e sobre todas as músicas que ainda não sabia tocar bem. Queria tocar algo que eu conhecesse, queria me agradar… tocava a música e depois olhava para mim e perguntava com tanta candura:
– Essa você conhecia?
Aos 81 anos, sendo gentil com uma estranha, querendo me oferecer algo, uma música, um carinho…
Vejam… aos 81 anos, ainda aprendendo algo, treinando, querendo saber mais… preciso dizer mais alguma coisa?
Todos vamos envelhecer, é uma verdade. Por mais que tentemos evitar o fato, não há como evitá-lo.
Mas, que arte … envelhecer sem perder a alma é coisa das mais lindas. Envelhecer sem perder a doçura… eu pensava nisso enquanto era tocada pelos doces acordes daquele violão.
Vocês tinham que ver o sorriso do Sr. Dilson, juro, era pura magia!
Eu gostaria de envelhecer como o Sr. Dilson, lá, sentado em um parque, tocando calmamente seu violão. Eu queria envelhecer como ele, com brilho nos olhos, a alma viva, encantando as pessoas em um dia ensolarado. Eu queria envelhecer assim, “molinha”, sem me tornar dura e cheia de cascas, sem amargura, por mais que tenha tido momentos de dureza em minha vida.
Eu queria envelhecer sempre me sentindo uma menina que ainda tem muitas coisas a aprender.
Obrigada Sr. Dilson por tudo o que me ensinou naquele sábado ensolarado, serei eternamente grata!