por Danilo Baltieri
Resposta: Como tenho muitas vezes reiterado, existem várias formas para a realização do tratamento dos pacientes portadores de Síndrome de Dependência de Substâncias. Esses pacientes, de fato, constituem uma população extremamente heterogênea e, para cada um deles, uma forma mais adequada de abordagem terapêutica deve ser formulada, proposta e iniciada, sempre embasada em evidências científicas de alta qualidade.
Alguns estudos têm focado na avaliação de quais variáveis apontam para o sucesso do tratamento em comunidades terapêuticas. Por exemplo, parece que as variáveis dinâmicas (tipo de tratamento, tempo de tratamento, perfil psicológico do dependente) estão mais relacionadas às variáveis de sucesso terapêutico do que as variáveis ditas estáticas (gênero, religião, nível educacional, número de substâncias abusadas, etc).
Muitos estudos têm revelado que a retenção no tratamento está associada com o sucesso terapêutico, em termos de maior tempo de abstinência. Contudo, outros estudos têm verificado que, embora o tempo de retenção no tratamento seja importante para o sucesso terapêutico, os pacientes, por serem altamente heterogêneos, podem fazer progressos em tempos diferentes, dependendo, por exemplo, de aspectos de personalidade, tipo de dependência e níveis de habilidades sociais. Por existir uma miríade de tipos diferentes de comunidades terapêuticas, com propostas e ambientes diversos, é bastante difícil realizar pesquisas com resultados que possam ser corretamente generalizadas para todas elas.
As comunidades terapêuticas devem contar com um ambiente altamente estruturado, afim de proporcionar a modificação do estilo de vida dos pacientes portadores de dependência química. Além de objetivar a cessação do uso das substâncias psicoativas, as comunidades têm a intenção de proporcionar a melhora da qualidade de vida dos seus clientes, melhorando suas habilidades sociais e modificando seu estilo de vida anteriormente caótico e disfuncional.
Os familiares, em quaisquer situações, devem estar inseridos no tratamento, para que possam desenvolver habilidades no manejo adequado do problema. Seguramente, os familiares ficam “adoentados” também, o que mais uma vez, reforça a necessidade do tratamento familiar especializado.
O tratamento das dependências químicas deve ser realizado por profissionais especializados na matéria. A especialização adequada no tema propicia a melhor adequação das condutas tomadas e sugeridas, apontando para o diagnóstico correto e para uma recomendação terapêutica mais eficaz.
De fato, o tratamento em comunidades terapêuticas tem sido reservado para pacientes que:
a) Necessitam de uma ambiente altamente estruturado para atingir uma modificação global do estilo de vida;
b) Já apresentaram múltiplas falhas no tratamento ambulatorial ou internações curtas;
c) Apresentam significativo comprometimento na capacidade de socialização e na habilidade para obter e manter uma atividade laboral.
Não é incomum na prática diária ouvirmos casos de pacientes com quadros variados de abuso ou dependência de substâncias que não conseguiram permanecer em comunidades terapêuticas durante todo o tempo preconizado por essas instituições. As razões são as mais variadas, como por exemplo: crença de já estar recuperado, pressão familiar para retornar à vida funcional, preocupação com os compromissos e pessoas deixadas fora da instituição, fissura intensa, tédio ou cansaço, etc. Essas razões devem ser discutidas com o paciente por profissionais altamente qualificados na matéria e sempre embasados em evidência cientifica de bom prognóstico/resultado.
O objetivo do tratamento, além da cessação do consumo de drogas, é a adequada re-inserção social do paciente. Estando também em tratamento, os familiares adquirirão habilidades para lidar com o paciente e com o problema da dependência química de forma mais saudável, especialmente nas situações de crise.
A internação domiciliar, desde que adequadamente recomendada e indicada por profissionais qualificados, pode ser realizada, desde que o paciente seja aderente e motivado e os familiares sejam adequadamente orientados sobre os procedimentos necessários para tal. Caso contrário, este tipo de manejo será evidentemente desastroso.
Também, a internação domiciliar não é para a vida toda, naturalmente; trata-se de um processo relativamente curto, onde o acompanhamento por profissionais deve ser bastante estreito, tanto para o paciente quanto para os seus familiares. O objetivo máximo desse processo é evitar o contato com qualquer droga, propiciando um ambiente seguro para a desintoxicação.