É possível lidar com as tentações?

Ouço frequentemente frases como Fulano não sabe se controlar na comida, Beltrana gasta mais do que ganha e não consegue parar e o jogo arruinou a vida de Sicrano.

Comportamentos excessivos, descontrolados, prejudiciais ao individuo podem ser entendidos à luz de distintas dimensões. Alguns podem ter uma base na evolução da espécie: o homem pré-histórico não tinha esta ideia de quando teria sua próxima refeição, o ambiente adverso o obrigava a se mexer bastante, com maior gasto energético, até para obter comida. O comportamento voraz fazia sentido, comia-se muito enquanto houvesse alimento, não havia garantia de quando seria a próxima refeição.

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A vida mudou muito, o gasto energético se reduziu, exceto se nos mantivermos muito ativos por meio do esporte ou de uma intensa atividade profissional braçal. Aumentou a disponibilidade de alimentos, nem sempre com a devida qualidade. Hoje há meios de produzir grandes quantidades, distribuir e armazenar adequadamente. Ainda há fome no mundo, infelizmente. E há também obesos desnutridos,

Somos influenciados de diversas formas, mas há como driblá-las

Se alguém quer ou necessita comer melhor e mais moderadamente precisará desenvolver estratégias que driblem várias formas de influência negativa sobre o comportamento alimentar. Isto significa aprender comportamentos favorecedores da moderação e que possam competir com as tentações. Por exemplo, no almoço no escritório vou ao por quilo, cheio de delícias hipercalóricas, ou escolho uma marmita fit, cheia de alimentos coloridos, nutricionalmente bacanas e fico com os colegas que escolheram esta vertente mais favorecedora dos meus objetivos?

Provavelmente ir ao por quilo resultaria em escolhas mais fartas e pouco sensatas. Entrar com os amigos na lojinha de doces ao lado do trabalho, só para acompanhar o pessoal, vai resultar na compra e consumo de um bombom. Melhor ficar do lado de fora, ir escovar os dentes antes dos demais ou ver e-mails pessoais. Nesse exemplo espero ter ficado claro que ter autocontrole não é deixar de sentir desejo pelos alimentos menos saudáveis, mas sim corresponde a ativamente ter ações que favoreçam o sucesso e ajudem a combater oportunidades de contato com o que nos é nocivo.

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Compulsão por jogo 

Uma novela recente mostra um rapaz que perdeu fortunas próprias e alheias sucessivas vezes na roleta do cassino, já roubou para cobrir dívidas jogo, se envolveu num casamento de conveniência, a família não lhe dava qualquer voto de confiança. Esse sujeito possuía um comercio e liquidou quase todo estoque para fazer dinheiro. Compadecida, a ex-noiva lhe dá uma soma elevada para ajudá-lo a se reerguer.  E nesta ocasião recebe a visita de um “amigo” do cassino. O cara fica sabendo da soma recebida e lhe sugere gastar “apenas” a décima parte em apostas, para multiplicar o capital, óbvio que perdeu tudo novamente.

Estratégias para lidar com tentações, excessos e compulsões  


Para combater a dependência comportamental há remédios, terapia individual e em grupo, fraternidades de ajuda mútua, e também a necessidade de mudar o estilo de vida. Se afastar ativamente de amigos que lhe empurram para o jogo, descobrir novas habilidades que ofereçam algum prazer (grupo de ciclistas, trabalho voluntário, aprender meditação de atenção plena etc). Desenvolver recursos de qualidade para manejo de estados de frustração, raiva, medo, inveja, tédio etc está na ordem do dia para alguém que tenta resolver tudo numa mesa de roleta ou carteado.  De novo, a mudança equivale a aprender comportamentos de valor, capazes de competir com as ações habituais, que tanto dano causaram.

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Para quem está atolado em dívidas por gastar fortunas com irrelevâncias também haveria uma jornada de aprendizagem pela frente. Desenvolver controle não significa deixar para sempre de ter vontades de comprar indevidamente.  O mais preciso seria entender  como as tentações atuam sobre nós, observar como elas jamais nos saciam e como o prazer da compra é breve e raso. As preocupações com dinheiro, a vergonha de ter o “nome sujo”, o corte do crédito, a censura dos familiares, tudo isso dura muito tempo, infinitas vezes mais do que o prazer flamejante de se adquirir o fone de ouvido da moda. Há muitas coisas a se fazer e em quase todas a lógica é buscar ações positivas, que possam concorrer com as perniciosas, reduzindo o poder das tentações.

Como vocês podem ver, a luta pode demorar, terá altos e baixos, mas é um processo de transformação viável e enriquecedor. Una-se a agentes que facilitem o resgate, que vistam sua camisa. Há solução para a maioria dos excessos e compulsões, estes comportamentos impulsivos, repetitivos e aparente pouco controláveis.