É possível manter a delicadeza – ternura – nos dias de hoje?

por Patricia Gebrim

Ontem estava um dia lindo. Sempre achei impossível ficar dentro de casa em dias assim, então calcei meus tênis e fui ao parque. A temperatura estava agradável, meu humor estável, tudo propício para um dia feliz.

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Gosto de parques mais rústicos, desses de chão de terra, que me dão a sensação de que estou em uma trilha no meio do mato. Gosto também de caminhar em um ritmo forte, me dá a sensação de que faz bem às minhas pernas, que precisam abrir novos caminhos em minha vida.

Eu já caminhava assim por uns quarenta minutos quando, de repente, algo saltou à minha frente, fazendo meu coração brincar de sapo saltador em meu peito. Que susto levei!

Parei e me dei conta de que era um pequeno macaco.

UM MACACO… em um parque em meio a essa cidade enlouquecida… imaginem vocês que luxo!

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Parei na hora, esqueci de todas aquelas teorias que dizem que se paramos em meio ao exercício aeróbio, deixamos de queimar calorias, blá, blá, blá… NADA era mais importante para mim do que contemplar o macaquinho, que tinha dado um salto desesperado a fim de se unir a um outro colega peludo que o aguardava em um galho não muito distante de onde eu estava.

Fiquei lá parada, com cara de boba, achando aquilo a coisa mais maravilhosa do mundo. Uma coisa tão pequena… um macaquinho surgido do nada. Algumas pessoas paravam e contemplavam ao meu lado, mostrando aos seus filhos os macaquinhos. Outras passavam direto sem nem mesmo mostrar curiosidade em saber por que tanta gente olhava naquela direção.

Pequenas maravilhas paulistanas

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Coisas assim pequenas me interessam cada vez mais. Aquela pitangueira perdida em meio à praça Benedito Calixto… as amoreiras carregadas da praça da Granja Julieta… as florzinhas que foram plantadas ao redor da Marginal Pinheiros. Tem mais coisas… o cafezinho no meio da semana com a amiga querida, o alpino que me dou de presente após o almoço, o sorriso que o manobrista distribui gratuitamente todos os dias, sem falhar uma vez sequer.

Estou enjoada de coisas grandes sabe? Descobri que quanto menor é a coisa, mais faz a nossa alma sorrir. Isso porque a nossa alma é delicada como a mais delicada das borboletas. Coisas grandes correm o risco de lhe esmagar as asas, ainda mais quando são atiradas o tempo todo em nossa direção. Para tocar a alma a gente precisa de certa delicadeza, de certa ternura.

Outro dia li um trechinho de um livro que falava sobre a ternura. Acho linda essa palavra… ternura. O sentimento, então, é dos mais preciosos. Quando penso em ternura penso em cuidado, penso em carinho, penso em filhotes. Filhotes de homem ou de bichos nos fazem sentir ternura, talvez porque quando estamos com um filhote podemos abrir mão das armaduras que usamos no nosso dia-a-dia. Não precisamos nos defender de um filhote – que alívio (!) – podemos simplesmente ficar lá e ser quem somos.

E somos ternos em nossa essência, todos nós. (Até você que pode estar achando este texto um tanto brega, até você é terno, eu sei que é!).

Perder a ternura é, a meu ver, coisa das mais graves. É perder a capacidade de ser afetuoso, é perder a capacidade de sentir compaixão, é prender a borboleta a um quadro com um alfinete, é endurecer o coração. Nunca deixe algo assim acontecer a você, não importa o que esteja vivendo.

Talvez, vez ou outra na vida, você se esconda do mundo ou das pessoas para se proteger. Mas nunca se esqueça de sua verdadeira natureza. E confie que a vida, doadora que é, sempre colocará em seu caminho um ou outro sinal que o ajudarão a recuperar a memória. Basta estar atento. Caminhe decidido pela vida se assim desejar, mas nunca deixe de olhar ao redor. Procure pelos macaquinhos, pelos pica-paus, pelos esquilos, pelas pitangas, amoras e jabuticabas. Não exercite apenas as pernas, ligue para um amigo querido de vez em quando só para exercitar a ternura em você.

Sorria mais vezes, fique atento aos pequenos e singelos gestos da vida.

Sua alma estará lá, por trás de cada um deles, como uma maravilhosa borboleta de asas translúcidas, você verá!