É possível melhorar o nível de concentração de uma criança?

por Renato Miranda

Um pai de um iniciante no xadrez me perguntou sobre como melhorar a concentração de seu filho no esporte mesmo em tenra idade, por volta dos oito anos.

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Escrevemos em texto anterior (veja aqui), sobre como a concentração é fundamental para a boa qualidade da tarefa. Somente com um bom nível de concentração é possível melhorar o desempenho naquilo que fazemos.

Para entender como e a partir de quando é possível melhorar a concentração, é necessário conhecer o nível de informação que a pessoa tem da atividade em questão e outras informações correlacionadas que vão facilitar o foco naquilo que se tem de perceber, ou seja, a atividade em questão.

Portanto, um garoto de oito anos poderá melhorar sua concentração no esporte. Todavia é compreensível que suas vivências, ainda não permitem um vasto rol de informações arquivadas na memória, com consequente limites naturais no ato de se concentrar.

Mesmo considerando aquelas crianças que nos surpreendem com suas habilidades mentais e poder de concentração, os estudiosos no assunto destacam a importância de reconhecer que as experiências de vida que formam nossa base de informações arquivadas na memória, na infância, ainda não permitem um alto grau de concentração por um longo período de tempo. Por isso, é oportuno que pais, professores e técnicos exercitem a paciência quando as mesmas estão em processo de aprendizagem e treinamento.

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Assim sendo, consciência é o termo significativo para a palavra mente. Em outras palavras, a consciência que temos de qualquer fenômeno é o resultado de nossas vivências registrado em nossa mente. Em consequência se a concentração está ligada ao processamento (quantidade e qualidade) de informações aí está o limite da consciência e, por conseguinte, da capacidade de se manter concentrado. Em outras palavras, quanto maior e melhores informações armazenadas melhor a capcidade de concentração.

Por isso, podemos afirmar que a qualidade da informação que é disponibilizada (percebida) pela mente (consciência) do atleta determina a quantidade e a qualidade de suas ações. Nesse sentido, não há consequência positiva se um técnico esportivo propuser exercícios ou tarefas altamente complexas para atletas iniciantes, mesmo que eles sejam bastante aptos.

Caso o técnico insista nessa estratégia, simplesmente não funcionará, porque tais informações não serão percebidas, visto que há um limite de consciência do iniciante, em função das poucas experiências adquiridas e armazenadas como informações úteis para as tarefas a serem desempenhadas.

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Em síntese podemos dizer que nossa mente é limitada para se manter concentrada e, portanto, para nos preparar para a ação, através de um processo que vai desde a busca da informação armazenada na memória até a tomada de decisão, como podemos observar nas etapas a seguir:

Encontrar a informação armazenada na memória e conduzi-la ao foco de percepção consciente (perceber):

Quando a criança (nosso exemplo) recebe uma informação, a mesma interpreta esse estímulo com base naquilo que ela tem na memória e que se correlaciona com a tarefa a ser realizada (estímulo). Se há registro dessa determinada experiência ou outro relacionado, possivelmente a criança perceberá aquilo que ela mesma terá de focalizar.

E toda a experiência já adquirida influenciará em sua percepção. Portanto, antes de tudo, é fundamental quando de uma proposta de tarefa o técnico descobrir o quê a criança percebeu da instrução para a execução ou se realmente ela entendeu (percebeu!) o que foi dito ou mostrado.

Talvez seja por isso que o falecido estudioso da psicologia da educação Carl Rogers afirmou: “Aprender é perceber. Sem percepção não há aprendizagem.”

Ajudar a criança ou o jovem atleta a perceber o que é preciso ser feito e aumentar gradativamente informações para serem armazenadas solidamente na memória, são estratégias fundamentais para o desenvolvimento da percepção e, por conseguinte, da concentração. E isso são consequências naturais das vivências motoras, cognitivas e emocionais – de qualidade positivas – proporcionadas frequentemente pelos adultos que fazem parte da vida desses jovens atletas.