É possível prever o futuro?

Por Roberto Goldkorn

Não, fiquem tranquilos que não vou falar da nova novela da Globo, isso foi só um truque para chamar a sua atenção. Vamos falar do Jucelino, sem 's' mesmo. Não, também não vou falar do saudoso (para alguns) presidente. Esse é o nome de um profeta paulista – Jucelino Nóbrega da Luz – que está colocando em polvorosa muita gente pela precisão matemática de suas predições.

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Segundo ele, todas registradas em cartório para não deixar dúvidas sobre a data em que foram feitas, sempre com bastante antecedência em relação aos eventos preditos. Jucelino foi a um programa de TV e fez algumas previsões, além de falar das que já havia feito (o desastre do vôo 1907 que chocou o país e o mundo) dando inclusive o nome de um dos pilotos americanos.

Já circula na Net uma série de previsões atribuídas a ele, com previsões pra lá de sombrias e, segundo alguns, apavorantes. Tenho falado com algumas pessoas que dizem estar dispostas a comprar um sítio, para ali se refugiarem em caso de acontecer algumas das previsões catastróficas de Jucelino.

Confesso que também fiquei preocupado, pois tenho uma família e sempre me senti muito responsável pelos destinos deles. Mas como profissional e curioso dessas áreas cinzentas do conhecimento humano, não posso me deixar simplesmente arrastar por essa onda (ele previu um tsunami bem pior do que a anterior) sem contribuir com algumas reflexões.

Há dois grandes grupos de pessoas, ou de comportamentos diante dessa possibilidade. O primeiro é de 'crentes'. Pessoas que acreditam ser possível para alguém prever o que ainda não aconteceu. Nesse grupo estão desde pessoas altamente inteligentes e cultas até os mais simplórios. Estes sabem ou por terem lido, ou por terem tido uma experiência própria pessoal, que é possível para alguns indivíduos rasgarem o véu denso do futuro. O outro grupo é composto de pessoas religiosas, que acreditam na frase/conceito "o futuro a Deus pertence" e não aos jucelinos da vida, e/ou de gente absolutamente cética, que só acredita na 'ciência', no visível e provável.

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Tenho sido abordado para opinar sobre esse fenômeno há pelo menos 30 anos. Agora com o aparecimento do novo profeta, as demandas aumentaram é claro. A pergunta se resume a responder isso:

É possível alguém saber com antecedência e com riqueza de detalhes o que vai acontecer em algum ponto do futuro?

A resposta é sim. A história nos fornece alguns exemplos disso. Por isso foram criados os vocábulos, píton, pitonisa, profeta, profetiza, e alguns locais ficaram famosos por serem centros de 'adivinhação' como os Oráculos de Delfos só para citar alguns. A literatura especializada tem milhares de páginas sobre sonhos premonitórios, transes mediúnicos através dos quais o/a médium fazem previsões (que mais tarde se mostram acertadas), a atuação de sensitivos, etc.

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Nos estados Unidos chegou a existir (nem sei se existe ainda) um centro mundial de previsões, para onde as pessoas que tivessem tido uma pré-cognição de algum desastre ou acontecimento dramático enviavam suas previsões. Os mais céticos argumentam com toda razão, o seguinte: se existem pessoas com esse talento, por que não se evitou o ataque de 11 de setembro às Torres Gêmeas? Ou por que não se evitou a tragédia do tsunami na Indonésia? Ou mais perto de nós ainda: por que não se evitou o desastre com o vôo 1907 da Gol?

A resposta a essa pergunta tão racional, não é tão simples quanto poderia esperar o meu amigo cético hipotético. Na Antiguidade existia um péssimo costume de se matar o vidente, que vaticinava maus presságios como se isso tivesse o poder de evitar as predições. Na verdade esse costume avestruzóide perdura até hoje. Apenas não matamos fisicamente o portador do augúrio. Nós o matamos colocando-o sob o manto da desqualificação, não lhes damos um microfone, não lhes damos voz, nem crédito, assim ele e suas previsões sinistras deveriam simplesmente sumir, desaparecer.

A nossa sociedade assim como os políticos mais experientes têm essa capacidade de fazer sumir os incômodos, pela mágica de roubar-lhes a voz, ou a credibilidade. Caso alguma das suas profecias venha a se realizar, o procedimento é simples: ele não existiu, o que aconteceu foi uma fatalidade, inevitável, coisa dos desígnios insondáveis de Deus. E se por acaso ele o profeta tivesse tido a capacidade de furar essa cortina de obscuridade e divulgado para um público maior as suas previsões que se mostraram acertadas? Aí se joga uma nova cortina de fumaça, ou se busca novamente desqualificar o mensageiro, acusando-o de fraude, de ter pactos como demo, ou de ser mais um lunático em busca de notoriedade ou grana.

Uma menina de dez anos me disse: não seria mais fácil observar se alguma das previsões se realizam para depois usá-lo para evitar novos desastres? Mas um menino contra-ataca: mas se usarmos as informações dele e, por exemplo, desviar o vôo da Gol, como saberíamos que a previsão dele estava certa? Bingo de novo (essas crianças estão ficando terríveis.). Se déssemos ouvido aos profetas e conseguíssemos evitar tragédias, e outros acontecimentos desagradáveis com constância (como no filme do Tom Cruise Minority Report) como saberíamos que as previsões catastróficas realmente aconteceriam sem a nossa intervenção?

A coisa é complexa, como complexo é o espírito humano. Não há duvidas, porém, que estamos vivendo tempos difíceis, construídos por nós mesmos, e por uma série de circunstâncias entretecidas. Se acredito no Jucelino? Vamos esperar um pouco para ver o resultado das eleições. Segundo Jucelino, Lula irá perder as eleições. Mas comprar uma chácara e plantar alguns alimentos não é má ideia.