por Renato Miranda
O esporte é uma ótima oportunidade para o desenvolvimento de crianças e adolescentes no que tange boa parte dos fenômenos físicos, emocionais, cognitivos e sociais. Seja na melhoria de habilidades, no aprendizado de enfrentamento de desafios ou na socialização, o esporte pode contribuir, e muito, no auxílio para uma ótima formação do jovem.
A questão é quando um (a) jovem, por exemplo, começa desde cedo a demonstrar um talento especial para a prática esportiva. Nesse caso, há uma forte tendência do meio social e em muitas situações, a própria família projetar um possível caminho a seguir para a profissionalização.
Talvez se fizermos uma comparação com a formação escolar, o mesmo acontece. Jovens que começam a se despontar, por volta dos 12 anos, como um grande potencial intelectivo, são vistos como os prováveis calouros dos cursos mais concorridos nas universidades.
Assim sendo, em pressuposto, muitas famílias, com jovens talentosos começam o mais cedo possível a investirem no esforço do jovem; seja para o esporte ou nos estudos.
Ao abordar especialmente o esporte infanto-juvenil, proponho também uma reflexão especial àqueles pais que também têm filhos talentosos para qualquer área de atuação.
Um garoto, em exemplo, por volta dos 12 anos que começa a se destacar no futebol, rapidamente aparece em sua volta pessoas (profissionais ou não!), a dizer que o mesmo deveria ir para um grande clube de futebol.
Quando o jovem reside em uma cidade em que há o referido grande clube, as facilidades são maiores, pois, não há muita modificação da rotina de vida da família. No entanto, quando o jovem reside em uma cidade do interior, por exemplo, e que não há clube de futebol em destaque, inicia-se em princípio uma dura jornada.
Primeiramente testes, que em função do grande número de praticantes de futebol em tenra idade parecem ser quase sempre algo perto do aleatório e inteiramente contingencial. Ou seja, o imprevisto e as circunstâncias fora de controle acabam definindo o sucesso ou não do jovem no determinado teste.
Considerando sucesso nessa primeira etapa, o jovem passa a enfrentar o drama, desde cedo, particularmente por volta dos 12 aos 14 anos de morar longe da família e a ter, ainda em tenra idade, um destino profissional definido.
Ao mesmo tempo, fatores estressantes permeiam as emoções desse jovem: exigência de desempenho, expectativas da família, conflitos do tipo ("Será que sou capaz?" "E se eu não conseguir me tornar um jogador?"), e outros.
A exigência de estar entre os melhores e, portanto, de manter um desempenho desejável pode desencadear, muitas vezes, um nível exacerbado de estresse que repercutirá em forma de nervosismo, distúrbios no sono e apetite, preocupações constantes e um medo permanente em cometer erros, decepcionar as pessoas e fracassar.
Como desenvolver um jovem talento de forma positiva
1º) Diminuir o impacto da experiência esportiva (não fazer projeções futuras em longo prazo!);
2º) Qualificar profissionais que trabalham com jovens;
3º) Oferecer condições de desenvolvimento das habilidades esportivas em um ambiente de qualidade e divertido;
4º) Evitar o excesso de exigência de desempenho precoce e promover outras atividades paralelas (escola regular, lazer, atividades livres com amigos e outros) podem auxiliar no desenvolvimento positivo do jovem talento.
Muitos envolvidos no esporte infantil (dito de "base") podem dizer que tais recomendações são incompatíveis com as exigências atuais e tudo o mais. Acontece, no entanto, que é a sociedade (adultos e demais profissionais) que molda tais exigências ao longo do tempo. É fundamental mudar as estratégias de ação.
Ademais, observe quantos clubes profissionais de futebol no Brasil têm em seus quadros, titulares que foram os iniciantes que ali chegaram anos atrás? Silêncio…