É possível reconstruir uma relação?

por Patricia Gebrim

Eu sei que ninguém escolhe – pelo menos conscientemente – que seja assim: mas muitas vezes em nossos relacionamentos passamos por períodos difíceis de crises e desajustes, onde tudo parece levar ao conflito. Não importa qual tenha sido o estopim, uma guerra é sempre uma guerra!

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Se você já passou por isso, não terá dificuldade em reconhecer o que digo. Cada parceiro se desloca para um lado do campo de batalha e de repente, de parceiros, se tornam adversários. As mínimas coisas se tornam irritantes, coisas absurdamente sem importância são percebidas através de uma cruel lente de aumento. Acredite, coisas como um inocente pigarro perece ser uma arma secreta usada pelo outro para atrapalhar nossa leitura, um sutil movimento na cama é percebido como uma invasão intencional de nosso espaço noturno, um atraso como um confronto aberto.

É enlouquecedor!

O casal está em guerra e bem sobre suas cabeças sobrevoam mísseis de cinismo, explodem bombas de agressão, granadas de ironia, ou pior… ocorre um terrível ataque de gás gélido paralisante (classificado como DesPRez0XN pelas forças armadas, considerado pelas forças da inteligência como a arma de grau máximo de destruição em massa).

E, se o casal não for capaz de agir a tempo, se a guerra durar tempo demais, é inevitável que em algum momento olhem ao redor e se vejam em meio a um monte de destroços, pessoas feridas, corações partidos e muitas vezes congelados.

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Mesmo em meio a esse cenário triste e assustador, algumas vezes o amor resiste e sobrevive como uma pequena chama de esperança que nos faz perguntar a nós mesmos, e ao nosso parceiro:

– Será que é possível reconstruir uma relação? Reconstruir “esta” relação?

Para responder a si mesmo essa pergunta, pense em uma cidade no pós-guerra, ou após um desastre natural e devastador. É possível reconstruí-la?

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A princípio, é claro que sim. E ainda melhor do que era antes! Quando tudo cai por terra, ao mesmo tempo somos abençoados com a rara oportunidade de criar algo completamente diferente, mais organizado, mais funcional, mais belo. Mas para fazer isso, algumas condições me parecem necessárias. Pense na reconstrução de uma cidade. Sem dúvida existem dois fatores fundamentais para que isso seja possível. Se você está em um pós-guerra em seu relacionamento, avalie esses dois fatores com cuidado:

1) Avaliação dos danos e um planejamento do que se deseja construir

Para que um bom planejamento seja feito, é preciso que você e seu parceiro avaliem o que aconteceu. O que levou a tanta destruição? Quais eram os problemas reais dessa relação (e não aqueles problemas superficiais que em geral levam a culpa pelo desastre!).

Aqui estou falando de possibilidade de uma troca não defensiva entre vocês. Estou sugerindo que por um momento vocês baixem as armas e se tornem parceiros de novo, unindo suas forças na direção de uma busca por mais compreensão.

– O que falhou? Como andava a comunicação entre vocês? O grau de intimidade? O respeito? O companheirismo? A amizade? Os planos comuns?
Olhem para tudo isso da maneira mais aberta e cristalina que conseguirem e não hesitem em buscar ajuda, se necessário. Acreditem, nunca existe um inocente e um culpado!

LEIAM E RELEIAM ESSA AFIRMAÇÃO: NUNCA EXISTE UM CULPADO!!!!

Vocês dois são co-responsáveis por essa guerra, e por tudo o que aconteceu. E cada um de vocês precisa perceber, assumir e se responsabilizar por sua parte na criação dessa realidade.

É importante que vocês não se apressem demais nessa etapa. Pode até ser que, ao avaliar e compreender todo o ocorrido, cheguem à conclusão de que preferem não estar mais juntos, mas mesmo nesse caso, esta etapa é fundamental para que cada um de vocês não carregue as distorções desse relacionamento para os próximos. Para que criem mais paz em suas vidas.

Acreditem, se vocês quiserem reconstruir tudo rápido demais, correrão o risco de fazer uma simples réplica do que já existia. E se não funcionou antes… por que funcionaria agora?

2) Capital e mão-de-obra disposta a fazer um trabalho pesado e braçal

Uma cidade precisaria de dinheiro para ser reconstruída. Um relacionamento precisa de algo parecido, algo que vou chamar de ‘energia’.   Muitas vezes, após um período difícil e destruidor, as pessoas simplesmente se sentem cansadas demais para fazer qualquer coisa. Se esse for o caso, dificilmente a reconstrução se dará. Um pós-guerra de um relacionamento é um período difícil, a sensibilidade do casal está à flor da pele, ainda há feridas abertas…é um momento delicado que requer uma delicadeza ainda maior. Requer um enorme envolvimento. Comprometimento. Requer cuidado e atenção.

Então, se você for do tipo que não quer ter trabalho, ou que não se sente forte para fazer mais nada, esqueça… um relacionamento maduro não é para você!

É claro que tudo o que estou escrevendo aqui parte do pressuposto de que a etapa 1, de avaliação/planejamento, foi cumprida e que o casal chegou à conclusão de que quer de verdade tentar essa reconstrução!

Muitas vezes o melhor mesmo é uma separação. Muitas vezes as pessoas precisam seguir por caminhos diferentes para que continuem seu processo de crescimento pessoal, e nesses casos, o melhor a fazer é cada um seguir em frente com clareza e consciência, sem responsabilizar a si ou ao outro por essa mudança de direção. Uma separação com esse grau de consciência nunca pode ser considerada um fracasso. Essa relação foi bem sucedida enquanto durou.

Mas uma separação consciente é um movimento muito diferente daquela separação motivada pela busca ilusória de perfeição!

Ouça. Se você ainda tiver a ilusão de que existe o relacionamento perfeito, em que não terá que se esforçar; se ainda acreditar que é possível encontrar alguém que concorde em tudo com você e viver uma relação de puro conforto e prazer, tem todo o direito de fazer a sua escolha e sair por aí em busca desse paraíso perdido. Com certeza encontrará muitos que pensam como você pelo caminho. Pessoas que saltam de uma relação para outra quando as coisas ficam difíceis e pedem crescimento e transformação. Se esse for o seu caso, eu não estou escrevendo para você, ok?

Reconstruir é para aqueles que decidiram que querem ficar juntos.

Reconstruir é para aqueles que estão dispostos a realizar o trabalho que precisa ser feito em si mesmos e que já sabem que para isso precisarão aceitar o fato de que ainda têm muito a crescer.

Reconstruir é para aqueles que já descobriram que paraísos são construídos com uma boa dose de transpiração, e não magicamente ‘encontrados’ em alguma montanha do Tibet.

Se esse for o seu caso, se você for corajoso assim, e tiver a seu lado alguém tão disposto como você, vale a pena seguir em frente. As recompensas serão proporcionais aos seus esforços, eu lhes garanto! Por mais trabalhoso que seja, talvez um dia você olhe para trás – de dentro de sua nova e iluminada cidade – olhe para todo o caminho percorrido, e sinta orgulho de si mesmo, e se perceba maior, mais sábio, mais belo.

E olhe nos olhos de seu parceiro e lá enxergue a chama viva de seu próprio coração.

E se sinta mais perto dessa palavra tão desperdiçada e pouco compreendida, chamada Amor.

Eu desejo a todos que um dia possam ter essa visão!