por Dulce Magalhães
A vida é um imenso espaço vazio para ser preenchido por experiências de qualquer natureza. Às vezes, por medo de viver más experiências, desperdiçamos esse espaço de vida que nos é legado e ele permanece um espaço vazio.
Imagine que viver é colorir o caderno dos dias, montar o quebra-cabeças das horas, resolver a charada do momento. Você não vai acertar todas as respostas, mas jogar é que é divertido. Tornar-se um melhor jogador depende de jogar muitas vezes, errar, acertar, comemorar, recomeçar.
Ao acordar para o dia, você pode ter a ilusão de uma série de compromissos, de problemas para resolver, de coisas para fazer. Porém, nada disso é verdade, ainda. Só será depois que você vivenciá-las. Tanto é assim, que muitas vezes terminamos nosso dia com a lista de tarefas ainda por fazer.
Essa ilusão de que as atividades do dia e, consequentemente, da vida, já estão previamente definidas, por vezes, nos deixa um sentimento de impotência, como se não fosse possível alterarmos nada. São pressões na empresa, na família, na comunidade. E reagimos a essas pressões como se elas também fossem verdades. Tudo é virtual, mental. É por isso que mesmo quando algumas coisas planejadas não acontecem, a vida continua e o planeta ainda gira sobre seu eixo.
O novo dia é sempre uma tela em branco. Não importa quantos planos você tenha feito no ontem, você vai preencher o dia com aquilo que fizer hoje, nem mais, nem menos.
Somos tão conduzidos por crenças sobre a realidade, que muitas vezes nos enleamos em atividades, tarefas, compromissos ou relações que não são nem agradáveis, nem produtivas, mas que acreditamos ser nosso dever ou uma obrigação, ou parte da vida.
Tudo que faz parte da vida provém de nossas escolhas. Escolher mais coisas boas e recusar as ruins modifica toda a história. Quando um dia começa nada foi feito ainda, a não ser em nossa mente. É aí que tudo precisa mudar, pois esse é o campo das escolhas.
Modifique a história
Para reescrever sua história nos pontos que você não está satisfeito, basta que você se dê conta de que é o verdadeiro autor de suas experiências. Satisfação ou insatisfação, vitória ou derrota, acerto ou erro. Isso tudo é parte do projeto de vida que estamos realizando, mesmo que a gente não goste.
Pena que na escola não nos ensinem a viver a vida. Em casa a gente recebe algum treinamento, mas nem sempre muito completo. Nossos pais também passaram boa parte do tempo inconscientes. Para viver bem o dia, a cada dia que passa, precisamos acordar para a realidade e sair da ilusão de que tudo já está sendo definido pelo mundo.
A gente não sabe se vai viver a próxima hora, mas todos temos certeza de que vamos morrer em algum momento. A autoconsciência, o mergulho espiritual, a transcendência, portanto, são prioridades. Quando vemos a experiência da vida em perspectiva no tempo, entendemos que o que pensam de nós ou o que esperam de nós é irrelevante em relação ao que pensamos e esperamos de nós mesmos.
Saltar fora dos trilhos rígidos que nos impuseram a respeito de nossos limites e capacidades, é o mais importante dos saltos da vida. Desiludir-se não é perder a esperança, é ganhar confiança em si mesmo. As informações recebidas desde a infância moldam nossa forma de ver e fazer, mas não significa que sejam a melhor forma, nem mesmo a única.
Uma outra vida é possível
Todo óbvio é ululante, segundo Nelson Rodrigues. Mas ser óbvio não quer dizer que é percebido e compreendido. É óbvio que se podemos escolher o que vestir, o que comer, aonde ir, também podemos escolher o que fazer, como e com quem. Porém, o que é tão óbvio está enterrado tão fundo em nosso inconsciente que nem parece possível.
Outras escolhas na vida permanecem possíveis. Recusar, aceitar, escolher, aprender, fazer, experimentar, mudar, mudar, mudar. Caminhos para outras propostas de vida. Para que lado sopra o vento de sua trajetória? Qual será a próxima aventura de sua existência? Que momentos mágicos você vai colecionar?
Compre um novo álbum
Imagine o futuro como um episódio que começa… agora. Visualize você nesse futuro que acaba de começar e observe que o álbum do futuro está ainda vazio de imagens. As fotos com as quais você vai preencher esse álbum ainda precisam ser produzidas e reveladas. Que imagens, que situações, com que pessoas você quer preencher o álbum do seu futuro?
Você é o artista, a vida só vai fornecer o material no qual você vai compor sua obra-prima. A nossa esperança é, daqui da plateia, apreciar cada um de seus esforços, rir com suas melhores cenas, nos emocionarmos com seus momentos ternos e aplaudi-lo, em pé, ao final do ato que a gente costuma chamar de vida.