É possível ser generoso sem ser lesado pelo outro?

por Patricia Gebrim

Em tempos como os de hoje, falar sobre o medo me parece atual, propício e mais do que tudo necessário. Basta andar por aí e a gente vê o medo passeando por todos os lados. Medo com cara de medo, medo com cara de raiva, medo com cara de desprezo, medo com cara de superioridade, medo com cara de corrupção… não importa a cara, não se engane, é tudo medo.

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Nada contra essa emoção, chamada medo, que tem lá seu lado bom. Afinal, se não tivéssemos medo saltaríamos do oitavo andar com uma toalha amarrada nas costas, dando um grito reinventado de super-herói, só para testar se chegaríamos vivos lá embaixo. Se não tivéssemos medo provavelmente nem estaríamos vivos a uma hora dessas… o que quer dizer que o medo existe com uma função real: SALVAR A SUA VIDA… A MINHA… A NOSSA!

O problema, que se tornou praticamente uma epidemia nos tempos atuais, é que o medo ganhou dimensões desproporcionais. E tanto medo acabou virando pânico, e só quem já sentiu isso sabe o medo enorme que dá. E de tão assustador, as pessoas vão ficando cada vez mais acuadas, e se bobear já nem saem de casa, de tanto medo de sentir medo. Ou saem correndo, como fazem os animais em disparada, criando ainda mais confusão.

Se a gente pudesse sentar em uma nuvem fofinha lá no alto do céu e olhar para baixo, íamos entender bem melhor tudo isso. Íamos ver as pessoas correndo assustadas para lá e para cá, colidindo umas com as outras no meio do caminho. Íamos ver todo mundo de olhos fechados, assustados, com medo do escuro. E íamos pensar… por que não abrem os olhos?

Se abrissem os olhos, de repente, enxergariam tudo tão diferente. E se fizessem isso repetidamente, talvez até fossem capazes de sorrir daquele caos todo. E esse sorriso seria como uma bênção para suas vidas. Como uma pureza reconquistada de criança. Como se de repente se lembrassem de que aquilo tudo era só uma brincadeira de mocinho e bandido, e que poderiam brincar de outra coisa agora mesmo.

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Quando o Dalai Lama esteve em São Paulo, tive a oportunidade de ouvir uma de suas palestras. Encantada, percebi que no final de sua fala, uma pessoa da plateia lhe fez uma pergunta sobre o que era o medo e como poderíamos lidar com ele. Embora eu não lembre as palavras exatas, lembro que ele disse que aquilo que nos assusta no mundo externo é um reflexo do que existe dentro de nós. Eu sorri ao ouvir a resposta e me senti muito sintonizada com essa ideia.

Se dentro de nós existe amor, tendemos a ver o amor ao nosso redor. Tendemos a perceber, mesmo entre muitos fatos não amorosos, a presença cálida desse sentimento que transborda de nosso coração. Pense no amor como uma luz. Quando manifestamos amor, a nossa luz se acende.

Da mesma maneira, se o nosso interior está imerso em ondas de medo, para onde quer que voltemos a nossa visão, lá estará o medo acenando para nós com sua mão peluda, aquela mesma mão monstruosa que eu tinha horror de imaginar aparecendo de repente na janela do meu quarto de criança.

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É claro que, se olharmos ao nosso redor, facilmente encontraremos milhões de motivos mais do que concretos para sentirmos medo. Sequestros, assaltos, violência, ataques terroristas, catástrofes. Ok! É um fato que precisa ser aceito e considerado. Mas a partir do momento que já fizemos tudo o que estava ao nosso alcance com relação a isso, de que adianta ficarmos conectados e propagando essa energia ao nosso redor? Isso só nos conecta cada vez mais com ela, acredite!

Por outro lado, se mesmo em meio ao medo, qualquer medo, formos capazes de manter vivo nosso coração, se formos capazes de manter nosso centro, nossa paz, se conseguirmos não ser engolidos por ele, então a nossa luz permanecerá acesa; a escuridão se tornará menos assustadora e eis que de repente encontramos respostas, indicações, direcionamentos e saídas. Eis que somos ajudados pela coragem e pela força que dormiam em nós. Eis que nos tornamos maiores e mais sábios, tão sábios que agradecemos até mesmo ao medo por nos ter conduzido até esse lugar.

É possível ser generoso sem ser lesado pelo outro?

por Patricia Gebrim

Eu sonho com um momento planetário onde exista mais amor. Onde as pessoas se lembrem que possuem taças douradas que transbordam de seus peitos.

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Hoje em dia estamos todos doentes. Doentes de alma. Doentes de esquecimento. Nos esquecemos daquilo que é fundamental. Nos esquecemos que somos todos divinos e que dentro de nós existe algo que vale mais do que o maior diamante do mundo, maior do que o que quer que exista de mais valioso no mundo…

Dentro de nós existe o nosso próprio Ser … belo, dourado e infinito.

Dentro de nosso peito existe uma taça de onde brota um rio de interminável vida, acreditem. Nós poderíamos alimentar infinitos planetas com essa energia, somos prósperos e ricos em nossa essência, todos nós. Mas como não sabemos disso, tudo o que somos capazes de sentir é um vazio assustador no peito, e para preencher esse vazio que tanto nos angustia, como se fôssemos viciados em drogas, fazemos qualquer coisa. Usamos e lesamos as outras pessoas … como se pudéssemos preencher o buraco dessa forma.

No fundo as pessoas se sentem vazias e acreditam que a única forma de obter algo é retirando isso de outro alguém.

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Olho ao redor e cada mais vejo que se tornaram comuns as relações baseadas no uso, movidas por intenções meramente egoístas, onde o tratamento que as pessoas oferecem ao outro depende do que esse outro possa lhes oferecer. Hoje é comum que as pessoas tratem bem a quem pode lhes trazer algum tipo de ganho, seja o acesso a pessoas influentes, a cargos, ingressos VIP, ou o que quer que seja.

Vejo o tempo todo que as pessoas riem para quem não querem, adulam quem não merece, permitem quem deveria ser impedido; tudo em troca de ganhos pessoais. E assim se dissemina uma rede nociva de sangue-sugas profissionais, validados por cada um de nós, que lhes oferecemos de bom grado um bom tanto de nosso sangue em troca de … sei lá o quê?

– Fui generoso e acabei sendo usado!

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Eu já ouvi isso tantas vezes. Se aconteceu a você não se sinta mal. Às vezes acontece, mesmo aos mais atentos. Os nobres de coração têm a frágil ilusão de que todos são como eles, tornando-se presas fáceis aos predadores, sugadores profissionais. E generosamente permitem que suas riquezas sejam roubadas, suas casas invadidas, suas vidas profanadas. Quando se dão conta do ocorrido resta ainda a vergonha por ter-se deixado enganar.

Ouçam generosos: Sejam inocentes, sim; mas é urgente que percam a ingenuidade!

Se você é uma dessas pessoas generosas que vivem sendo lesadas, compreenda de uma vez por todas: nem todas as pessoas merecem aquilo que você tem para dar. Aprenda a diferenciar os verdadeiramente necessitados dos vampiros profissionais. Aprenda a observar um pouco mais as pessoas antes de lhes oferecer seu melhor, antes de abrir o peito em suave entrega. Dê de si mesmo sim, mas “apenas a quem lhe merecer”. Repito, pois é urgente que você compreenda: NEM TODOS MERECEM O SEU MELHOR. Alguns merecerão só um pouquinho, outros nada merecerão.

Aprenda que neste planeta existe tanto o bem quanto o mal. Você precisa estar atento e saber diferenciá-los. Não espere que o mal apareça vestindo roupa vermelhas, adornado com tridentes e chifres, segurando uma plaquinha com a palavra “diabo”! Muitas vezes o mal se veste de gentil cordeirinho. Muitas vezes o mal nem mesmo é consciente de sua maldade, nem por isso deixando de ser maldoso. Muitas vezes uma pessoa lhe faz mal por pura inconsciência, mas até mesmo dessas pessoas é preciso que você aprenda a se defender. (Você ficaria na frente de uma criancinha de 2 anos de idade que estivesse com uma arma carregada nas mãos querendo brincar de mocinho e bandido com você?)

De seu peito verte o néctar da vida, a cada instante, num fluir ininterrupto que pode instantaneamente trazer calor e nutrição. Mas saiba a quem oferecer desse néctar. Saiba cuidar de si mesmo em primeiro lugar. Não permita mais que as pessoas lhe roubem o que existe para ser doado de bom grado.

Você não ajudará a ninguém permitindo que isso aconteça!

Pelo contrário, ao se permitir ser lesado ou profanado você ajuda aquela pessoa a acreditar que você tem algo que ela não tem. Isso não é verdade.

Todos nós possuímos essa riqueza dentro de nós.

Quando compreendermos isso, não fará mais sentido algum tentarmos roubar nada de outro alguém.

Quando compreendermos isso os jogos do “egoísta que lesa” e do “generoso que se permite ser lesado” deixarão de fazer sentido e todos estaremos livres para viver relações mais sadias, que incluirão trocas equilibradas, respeito e amor.