É possível suprir a ausência do pai sem mimar e superproteger?

por Silvia Maria de Carvalho

"Tenho 32 anos e uma filha de sete anos. O pai dela nunca lhe deu atenção, mas dou muito amor, carinho e atenção para suprir a ausência do pai. Sei que às vezes até dou demais, faço tudo que ela quer por conta disso. De uns tempos para cá, ela anda muito chorona, manhosa e rebelde. Isso tem a ver com a ausência do pai? Ela nunca conviveu com ele"

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Resposta: Quase impossível encontrar uma mãe totalmente tranquila e segura, quando o assunto é a qualidade de vida dos filhos.

De um modo ou de outro, gostaríamos de fazer mais e melhor. Quem nunca se questionou se o filho não seria mais feliz se isso e não aquilo tivesse acontecido? Não podemos esperar que tudo fique completamente ajustado, não é? Primeiro: porque isso não existe e segundo: que chato não ter nada pra conquistar! A vida vai acontecendo sem pedir licença.

E o que fazemos com aquele modelo ideal de família?

Como lidar com a sensação de que se está fazendo pouco ou menos do que deveria?

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Pensamos que, caso tivéssemos a família perfeita, estaria garantida a felicidade das crianças. E com isso, corremos o risco de desvalorizar o que realmente podemos proporcioná-las.

Se o contato com o pai não for possível, precisamos cultivar relacionamentos com adultos disponíveis e próximos. De que adianta "chover no molhado"?

Na tentativa de suprir o lugar do pai, o que é impossível, você corre o risco de causar outros problemas. O sentimento de culpa em relação ao que falta aos filhos, atrapalha muito no que diz respeito aos limites e educação das crianças.

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De que os filhos, de fato, precisam?

Está cada vez mais provado de que a qualidade de cuidados que uma criança recebe nos primeiros anos de vida é de importância vital para sua saúde mental futura.

Teoria do apego

Segundo John Bowlby (1907-1990), psiquiatra, psicólogo e psicanalista britânico que desenvolveu a teoria do apego, a criança pequena não é capaz de uma vida independente. Precisa de um adulto responsável para assumir esse cuidado e a garantia de um bom vínculo. O vínculo é o fator mais importante na vida psicológica de uma criança em desenvolvimento – assim como na vida de todos nós também. Até que possam fazer suas próprias escolhas, as crianças se vinculam aos pais, ou ao próximo responsável por elas, que lhes garantam atenção e cuidados básicos.

As relações humanas não são ideais e raramente foram em qualquer época da existência. O importante é que a criança viva num meio onde haja raízes, conexão e pertencimento; onde ela possa amadurecer e ganhar consistência no mundo e haja valores transmitidos pelo adulto responsável.

Pensamento de Bowlby

"Não somente para crianças pequenas, agora isso está claro, mas para seres humanos de todas as idades se constata que a alegria pessoal e a disposição e a confiança para empregar os talentos individuais para um aproveitamento positivo, tem por trás a existência de uma ou mais pessoas em que o indivíduo confia e lhe apoia em momentos de dificuldades. A pessoa de confiança fornece uma base segura pela qual o outro pode funcionar."