por Blenda de Oliveira
"Tenho 30 anos e sempre fui muito cobrada pela minha mãe. Desde criança, era muito clara a forma como ela tentava realizar seus sonhos através de mim: me matriculava em escolas que sempre sonhou estudar, tentava me guiar para carreiras que ela queria pra ela. Graças a um certo discernimento, escolhi a carreira que queria e segui firme nela. Meus relacionamentos sempre foram muito complicados graças às minhas escolhas, porém, quando eu estava com um cara "bem de vida" ou que pelo menos parecesse isso, ela me apoiava, caso contrário, fazia campanha até eu terminar o relacionamento. E eu terminava. Nunca fui uma adolescente rebelde, pelo contrário, nunca dei trabalho. Com 28 anos, fiz um intercâmbio durante um mês e ela agiu como se eu tivesse morrido: não entrava no meu quarto e nem via minhas fotos. Quando voltei, me mudei para outro estado, fui morar sozinha. Oito meses depois, comecei a morar junto com um namorado, que futuramente, não iria receber a aprovação dela por não ter dinheiro e nem por ter família. Agora, um ano e meio de namoro, já voltei pra casa por conta de problemas financeiros, a tensão só aumenta e temos brigas horríveis. Minha mãe foi criada em orfanato e não conviveu em família, fui sua primeira filha."
Resposta: Para sua mãe, você é a possibilidade dela ser, existir. Dela poder ser várias coisas, inclusive a mãe amorosa e presente que não existiu para ela. É evidente que ela entende que o cuidado, o amor e a presença significam fazer de você tudo que ela não pôde ser, mas gostaria e, também, que deve a ela total obediência. A obediência garante o controle e a certeza que estará sempre com ela. Quando você sai de perto, ela se vê a mesma criança lá do orfanato que foi abandonada. Torna-se tão criança que nem mais quer falar, escutar ou ver você (como fez quando viajou). O tipo de relação que sua mãe estabelece com você é simbiótica, grudada. Não há lugar para a individualidade e para as diferenças.
De fato não é simples lidar com essa situação, já que ela vive um estado psicológico, na relação com você, bastante confuso e, ao mesmo tempo, regredido e desamparado. Entretanto, é importante que você cuide da sua vida e de você. Nào pode desistir e recuar. Claro que quanto mais sua individualidade se mostra, menos controle ela tem, e mais angustiada e desesperada fica. O resultado são brigas e discussões intermináveis.
Se puder e conseguir antever que algum assunto provocará brigas, evite discutir ou até mesmo contar para ela e não fique presente. Saia, busque alternativas que não a confrontem, mas que mantenha você mais protegida de entrar nas discussões que não levarão a lugar nenhum.
Seria interessante que vocês buscassem uma psicoterapia familiar para ter uma terceira pessoa que possa mediar e orientar algumas mudanças. Com certeza, seria muito útil, além de ser uma chance para dar a ela uma oportunidade de rever suas posições e suas ações. Em casos como o seu, é indicado, e com bom prognóstico, a presença de um psicoterapeuta, pois é uma situação delicada e carregada de muita tensão. Infelizmente, sozinhas custará mais a resolverem e nem sempre as resoluções serão sustentáveis.