E quando o paciente quer remédios?

por Luís César Ebraico

Um de meus pacientes, recém-saído de um surto de euforia descontrolada – a que, tecnicamente, chamamos de mania) – estava tomando sua dose diária de um determinado remédio durante a cada uma de suas sessões (cinco por semana). Certo dia, mal entrado em meu consultório, dirigiu-se a mim aos berros:

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PACIENTE: — ME DÁ ESSA CARTELA DE REMÉDIOS!

LC: — Sem problema, por favor, sente-se!

PACIENTE (já sentado e evidentemente surpreso com minha resposta):

— Você vai me dar a cartela?

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LC: — Claro! Com uma condição…

PACIENTE: — Qual?

LC: — Convença-me de que isso é uma boa idéia.

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PACIENTE: — Blá, blá, blá, blá, blá, blá…

LC: — Não convenceu.

PACIENTE: — Blá, blá, blá, blá, blá, blá…

LC: — Não convenceu ainda. Mas não se preocupe, temos bastante tempo e, logo que você me houver convencido, passo-lhe a cartela.

PACIENTE: — Blá, blá, blá, blá, blá, blá…

LC: — Não convenceu ainda. Mas, se você não tiver pressa em receber a cartela, pode pensar um pouco, entre a sessão de hoje e a de amanhã, e – quem sabe? – encontra algo para me dizer que me convença. Se tive pressa, há outra alternativa.

PACIENTE: — Qual?

LC: — Mudar de psicólogo.

Parece que essa última alternativa não o satisfez muito, porque mudou de assunto. No fim da sessão, ao dispedir-se de mim, extravasou:

PACIENTE: — Obrigado por você não me haver dado a cartela.

Claro que ele sabia que ia fazer besteira. Estava apenas testando se eu tinha força suficiente para defendê-lo de sua própria loucura.