por Nicole Witek
Muitas vezes pais ansiosos me perguntam se eu posso atender crianças e "dar aulas" para seus filhos.
Estou falando de crianças entre dois e mais ou menos oito anos. Costumo responder que "não". Não é minha praia, não me interessa, por várias razões:
A definição de criança é o movimento, a atividade, correr, brincar, crescer, descobrir o mundo. Pedir que uma criança fique imóvel, em silêncio, me parece muito divergente na minha visão do yoga e acho que só posso dar algo incompleto, já que o resto da semana a criança volta numa atmosfera antiyogica.
Numa aula particular, o tempo investido é grande e o retorno pouco satisfatório para ambos.
Antes da adolescência
Existem certas circunstâncias nas quais eu aceito dar aulas, trata-se mais de uma "educação corporal" do que uma aula de yoga. É a implantação de novos hábitos para a respiração, que talvez com seis anos de vida, pode já estar prejudicada. Novas sensações como a verticalidade e as tensões corporais; aprender a diferença entre um corpo erguido, firme, escapando da força da gravidade e um corpo abandonado e fechado pela ignorância da sua posição no espaço; aprender a des-tensionar o corpo, a afastar as ansiedades; perceber os pensamentos tóxicos; ter confiança nas possibilidades e finalmente aprender a reunir toda a atenção, sair da dispersão e experimentar, desde muito jovem, o estado de serenidade.
Excepcionalmente, nessas circunstâncias, sim, dou aulas
As razões que me levam a aceitar dar aulas para crianças são:
– Quando percebo que a agitação interna da criança vem de uma grande ansiedade com relação ao quadro escolar ou familiar;
– Quando vejo que a função respiratória é travada pela postura, o que modifica os padrões respiratórios e emocionais;
– Quando existe uma falta de confiança e uma competição doentia com relação aos outros (irmãos, colegas de escola, etc);
– Quando existem dificuldades para dormir e nervosismo exagerado.
Na adolescência, é outra coisa:
É muito importante que o yoga esteja integrado à vida cotidiana, já que ficar sentado o dia todo na escola encurta a musculatura e prejudica a atitude geral do corpo no espaço. Os asanas (as posturas e movimentos do yoga) serão indispensáveis para manter o corpo com saúde integral.
Ainda mais, no plano mental, o yoga permite a integração desde a adolescência de bons hábitos de pensamentos que sustentam uma construção sadia da personalidade.
Melhor ainda: aprender como concentrar sua atenção de maneira eficiente, usar a visualização para memorizar melhor, usar a programação mental para ter ferramentas para as provas ou em entrevistas. O reforço da confiança em si será integrado à pessoa desde muito jovem, o que evitará muitas decepções e dramas na vida adulta.
E se a escola pudesse integrar o yoga nas aulas!? Por que não? A escola acompanha a criança desde a infância até o fim da adolescência. Seria uma alavanca maravilhosa, um complemento educativo semeado desde pequeno.
Hoje podemos nos questionar sobre o conteúdo dos programas escolares, já que a grande fonte de informação vem da internet. O que os professores devem transmitir às crianças? Será que técnicas e valores para se tornar um ser humano equilibrado não seria a chave para o futuro do ensino?
Os professores não precisam se formar para que se tornem eremitas, nem sadhu (1).
Nem precisam se converter à nova filosofia ou religião.
Professor não precisa se tornar um "iniciado"
Basta integrar boas bases de comportamentos físico e psíquico durante as aulas. Isso requer bom senso, abertura de espírito e visão. Quem se gaba de ser "professor" já possui o altruísmo e a dedicação necessária para cumprir essa meta.
Seria fantástico se o professor pudesse utilizar de 10 a 15 minutos, todos os dias, antes das aulas para a prática do yoga.
Veja, em poucos pontos, o ganho para nossos filhos:
– Colocar-se na intenção de receber novos conhecimentos, compartilhar novas
atividades;
– Relacionar-se harmoniosamente com os outros;
– Eliminar os pensamentos negativos desde a infância;
– Ter uma boa postura que libere a respiração;
– Respirar bem e saber usar a respiração como uma ferramenta para controlar o estado emocional;
– Prestar atenção ao corpo;
– Cultivar o relaxamento;
– Apaziguar a mente;
– Utilizar a visualização criativa para memorizar melhor;
– Utilizar a programação mental para preparar-se às provas, sem ansiedade;
– Saber concentrar a atenção e concentrar conscientemente seu espírito;
– Começar já com a contemplação e a meditação;
– Experimentar e saborear a serenidade
Ensinar para crianças requer da parte do professor o ensino do yoga tradicional tendo como alicerce os textos tradicionais do sábio Patanjali (2), que podem ser adaptados e praticados de forma mais lúdica, sem perder seus benefícios.
Já imaginou como seria a geração dos novos adultos: uma geração excepcional dotada de um espírito aberto, com capacidades multiplicadas pelo uso do cérebro de forma equilibrada e o coração aberto… podemos sonhar, é o primeiro passo para a ação!
(1) Sadhu : eremita e renunciante
(2) Os Yoga Sutra compilados por Patanjali provavelmente datam de 150 d.C.. É uma pequena obra, redigida em linguagem muito condensada, constituída por vários aforismos sobre a prática e a filosofia do yoga. O Yoga é uma das seis escolas da filosofia hindu, um sistema de meditação prática, ética e metafísica. Patanjali tem sido frequentemente chamado de fundador do Yoga por causa desta obra.
(3) Micheline Flack : professor de yoga, especialista para as crianças, criou EURYE, "Yoga na Educação", que foi aprovado pelo Ministério da Educação no Brasil pelo governo do Presidente Lula, em 2010. O projeto foi concebido para o Centro de Ciências da Educação, Universidade Federal de Santa Catarina, que também opera com oficinas opcionais para alunos http://www.eurye.eu/index.php?opti />
Atenção!
Este texto e esta coluna não substituem uma consulta ou acompanhamento de um médico e não se caracterizam como sendo um atendimento.