por Renato Miranda
Perfeitamente compreensível os Jogos Olímpicos serem um dos assuntos mais comentados especialmente no país que os organiza. Afinal, é um evento que mobiliza centenas de países para uma gigantesca atividade em uma única cidade. No Brasil, o assunto jogos olímpicos repercute em várias áreas: esporte (naturalmente!), política, segurança, educação, cultura, meio ambiente e outras áreas diversas.
Instado frequentemente a falar sobre a importância da preparação psicológica no desempenho dos atletas assuntos como concentração, motivação, estresse, ansiedade e outros, em uma palestra, todavia uma pessoa me perguntou o que eu pensava sobre o que vem antes do treinamento, ou seja, sobre nossa realidade para o desenvolvimento do esporte. Escrevo então sobre essa questão!
Uma discussão, diria clássica, no meio esportivo e nas escolas superiores de educação física e desportos, é sobre o desenvolvimento da cultura esportiva no Brasil. Nos mais diversos assuntos discutidos a melhoria de nosso desempenho nas competições olímpicas e o aumento da prática esportiva da população nas mais diferentes faixas etárias principalmente entre as crianças e jovens as discussões são rotineiras.
Procuro escutar as mais variadas opiniões e concluo que uma cultura esportiva sólida, oriunda da prática esportiva, desde a tenra idade, que cria a tradição do aprendizado de vários esportes, como instrumento para favorecer a educação, saúde plena e divertimento, é o grande desafio do País.
Dessa tradição que une o aprendizado, desenvolvimento saudável e o divertimento, surgirá o impulso para as pessoas se manterem em boa forma física para a vida toda e é a mesma tradição que proporciona a revelação (primeiramente pela própria pessoa) de talentos.
O grande desafio é que essa pretensa ideia exige em si mesma certa sofisticação de desenvolvimento geral do País. Para dar fluidez a esse pensar, é necessário que as questões básicas de educação, renda, segurança, transporte, saúde das famílias estejam asseguradas.
Se um país, como o Brasil, não garantiu esse patamar básico de desenvolvimento, tratar de esporte e suas diretrizes para o desenvolvimento pleno é algo que exige um esforço quase que sobrenatural.
Não é por menos que os países que enfrentam problemas graves nessas áreas básicas quando têm sucesso olímpico é frequentemente fruto de esforços individuais de atletas muito talentosos, ou por outro lado, resultado de um esporte que recebe investimento especial em função de uma determinada tradição local ou interesses diversos.
No entanto, o sucesso no esporte não se resume na consagração olímpica em uma específica modalidade. O sucesso olímpico em várias modalidades, em exemplo, se relaciona com as diversas oportunidades de aprendizagem esportiva nas escolas, na escolha para aprender esportes, no estímulo para a profissão de professores e técnicos esportivos, no investimento para a construção de estruturas esportivas seguras, atrativas e de qualidade e na formação acadêmica superior para o desenvolvimento de recursos humanos especialmente qualificados.
Sem uma estrutura coerente sólida é difícil vivenciar as consequências desejadas que o fenômeno esportivo possa almejar. Antes das exigências dos desempenhos atléticos em alto nível, é necessário refletir sobre os pré-requisitos e a realidade de nossa cultura esportiva. Observe o exemplo do ensino superior para esportes.
No Brasil parece haver um distanciamento permanente entre a formação de profissionais em educação física e o esporte (aprendizado, treinamento e lazer).
Faça um teste: veja quantas modalidades olímpicas são oferecidas em todos os jogos (atualmente em torno de 28 modalidades – sempre há uma variação em função das modalidades em teste) e a grade curricular dos cursos superiores em educação física. Você descobrirá rapidamente que o esporte não é um tema privilegiado. Paradoxo!
Por outro lado, observe nos cursos de pós-graduação (mestrado e doutorado) e faça a seguinte pergunta: qual a quantidade de dissertações e teses sobre esporte produzidas nos últimos anos? Em suposto o número de trabalhos em esporte será insignificante. Que tal o Comitê Olímpico do Brasil fazer esse levantamento?
Outro dado: observe quantas delegações utilizarão espaços de universidades públicas ou privadas para fazerem sua aclimatação para os jogos olímpicos?
Por fim acredito que o Brasil será reconhecido como força olímpica e que valoriza a tradição esportiva, mas não será nesses jogos!