por Luiz Alberto Py
Voltando à questão das origens do problema da perda da autoestima natural, é importante enfatizar que a criança aprende muito por imitação. Ela percebe como os outros se comportam e procura se comportar da mesma forma, ou o mais parecido que consegue.
Quando uma criança vive num ambiente no qual é estimada e valorizada, ela aprende deste exemplo. "Papai e mamãe gostam de mim, os outros gostam de mim, eu vou gostar de mim também." É uma reação instintiva, faz parte da natureza do aprendizado e coincide com a atitude natural de autoestima.
Mas a grande maioria dos pais tem medo de que o filho saiba o quanto eles o amam. Simplesmente por que sabem que estão muito vulneráveis a este amor. Minha experiência de pai me mostrou que meu amor pelos meus filhos é absoluto. Gosto deles apenas porque são meus filhos e os amo tanto quanto a mim mesmo. Eles são partes de mim, que se destacaram, têm vida própria e gosto deles de graça. Gosto incondicionalmente, ou seja, não estabeleço condições. Não gosto deles apenas quando tiram nota boa ou quando são bonitos ou quando se comportam bem. Gosto deles sempre. Fico triste, aborrecido se eles não correspondem a alguma expectativa que tenho. Mas sei que este aborrecimento não diminui o meu amor por eles. E tenho – como todos os pais e mães têm também – medo de que eles saibam disso e pensem que se o pai e a mãe gostam deles mesmo quando se comportam mal, mesmo quando tiram nota baixa, então eles podem fazer qualquer coisa.
Esse tipo de medo leva os pais a esconderem do filho o quanto eles gostam dele. Em consequência, os pais começam a dizer para os filhos que não gostam deles quando se comportam mal, que só gostam deles quando tiram boas notas e quando são obedientes. A criança começa a ter esta informação equivocada de que o amor que recebe é condicionado a coisas variadas como seu comportamento, sua beleza, etc, de que ela merecer e conquistar este amor. O que, já sabemos, não é verdade.
Na medida que a criança entende dessa forma e aprende essa lição, passa a copiar esse modelo como referência e começa também dizer para si mesma que só pode se gostar se… E aí esse 'se' começa a estabelecer condicionamentos: ..se for uma pessoa bem-sucedida, … se for uma pessoa bonita, … se agradar os pais fazendo o que eles esperam. Isto resulta em um prejuízo permanente da autoestima.
A partir daí, as pessoas, crianças e adultos, todos os que passaram por esse tipo de aprendizado em maior ou menor grau começam a condicionar o amor por si mesmo a determinadas exigências do tipo: 'se eu não for bonito, inteligente'; 'se não conseguir passar no vestibular', etc, não gosto de mim. A pessoa fica derrotada na sua autoestima. Vemos constantemente jovens e adolescentes que não conseguiram sucesso em algum tipo de desafio ou de exigência que eles se fizeram ou que lhes foi feita e ficam arrasados, com a autoestima baixa. O que se ganha com isso? O que ganhamos quando torpedeamos a autoestima dos nossos filhos?
É muito importante que o filho saiba que gostamos dele mesmo se ele não passar no vestibular, mesmo se ele ou ela namorar uma pessoa que achamos que não vale a pena, que não merece… Podemos distinguir perfeitamente bem o que é ficar contente com um comportamento e o que é amar ou deixar de amar. Isso significa separar, colocar em dois pontos completamente diferentes do nosso coração, o que é o nosso amor pelo nosso filho e o que é a nossa satisfação com ele e com o comportamento dele. Quando separamos isto conseguimos também ensinar os nossos filhos a separar o que é a autoestima do que é o sucesso. E a autoestima não fica mais dependendo do sucesso, da realização, da conquista, do atendimento às exigências. Quando autoestima (ou o amor próprio) fica independente, o amor volta a ser de graça.
O processo de recuperação da autoestima consiste em desmentir os valores equivocados que nos foram ensinados e que estabelecem o sucesso como condição para gostarmos de nós mesmos. Somente com esforço e atenção é que seremos capazes de, com o tempo, reavermos a possibilidade de nos querermos bem independentemente de quem somos. Voltarei ao assunto para desenvolver uma reflexão sobre este processo de recuperação da autoestima.