Por Regina Wielenska
Mário e Cláudia (nomes fictícios para pessoas reais) foram clientes que tive, ambos relatavam uma dor emocional que não desapareceu até a vida adulta.
O pai de Mário era homem de muitas promessas não cumpridas. Uma delas, e não foram poucas: “se vocês forem bem na escola iremos pra Disney nas férias”. Cobrado pela promessa feita (os guris se esmeraram), o pai se enrolava, dizia coisas como “não era promessa, era só uma possibilidade para incentivar vocês no estudo”. Já adolescente, numa briga com o pai, Mário chegou a lhe perguntar: “Pai, o que você sentiria se teu chefe prometesse promover você na firma em no máximo seis meses e depois o cara passasse um ano desconversando quando você tocasse no assunto?”. A mãe do cliente era submissa ao marido e tentava prover justificativas frágeis para o comportamento instável do marido. O rapaz se desenvolveu como um sujeito arisco, nos estudos, trabalho e amor. Gato escaldado temendo água fria, passou a acreditar pouco nas palavras alheias, ficou mais fechado e tinha dificuldade em construir vínculos estáveis baseados na confiança no outro.
E Cláudia, o que houve com ela? Ela e os dois irmãos se acostumaram na família, desde cedo, a só fazer o que queriam. Mimados, faziam o maior escândalo quando contrariados. Chocolate em barra para começar o dia se assim o quisessem, brinquedos espalhados em todo o lugar, nunca guardados, gritos e palavrões não demoraram a aparecer. A vida da família era um horror e na medida em que os pais se sentiam impotentes, cansados e malsucedidos na tentativa de disciplinar os filhos, menos os pais cumpriam as ameaças feitas. “Cláudia, não faça mais isso, ou no fim de semana não vai ao passeio no zoológico. Mas como não levá-la se o resto da família vai? E lá ia a menina visitar os bichos. Os pais prometeram deixá-la sem o tablet, efetivamente retiraram o brinquedo dela. Mas foi tão fácil usar o da vizinha… Cláudia cresceu com baixa resistência à frustração, e descobriu a duras penas que o mundo não se curva aos seus desejos. Sofreu um bocado.
A palavra dos pais precisa caminhar em perfeita harmonia com seus atos. Sim é sim, não é não, promessas são para serem cumpridas. Tudo precisa ser combinado com diálogo, justiça, bom senso. Pais e filhos possuem direitos e deveres, num relacionamento respeitoso e afetivo.
Lembro até hoje de um cliente, Sérgio, que por anos esperou a visita do pai, que se separou da mãe e abandonou a família quando o filho tinha seis anos. Prometia vir pegar o menino para passearem, para passarem as férias juntos. Prometeu comprar presentes, jurou amor, não o visitou nem quando o filho teve meningite. Ao telefone era só palavras, melífluas e falsas. Sérgio não falhou com o pai: tinha vinte anos quando fez questão de ir ao sepultamento do pai e chorou muito por si e por ele, pela última vez.