por Regina Wielenska
Qualquer sentimento, seja de amor, inveja, ciúmes, medo, ódio ou ternura, não é controlável do jeito que supomos ou desejamos.
Eu quero dizer que situações, que contextos de vida inevitavelmente podem nos atingir: atiçam nossas vísceras, mecanismos de neurotransmissão entram em ação e o corpo fica diferente, pensamentos e imagens são evocados. Há uma pegadinha nesta minha argumentação e preciso salientar que estou, ao menos por enquanto, estritamente me referindo ao domínio do sentir, que abrange as emoções e os pensamentos correlatos a elas.
No trânsito, por exemplo, quando uma motocicleta corta nossa frente de modo imprevisto e perigoso, sentimos medo, susto, irritação e/ou raiva. Parte dessas reações é fruto da história de evolução da espécie, nosso corpo fica naturalmente agitado, em prontidão para se defender de um ataque, de tocaia contra o que nos ameaça, seja um tigre (no caso do homem pré-histórico) ou um veículo mal dirigido, na contemporaneidade.
E daí? De que vale saber dessas coisas? A questão é que há pessoas que ficam num estado alterado por muito mais tempo, ou numa intensidade absolutamente desproporcional à ameaça representada pelo motociclista imprudente. Alguns saem em perseguição, outros disparam uma arma de fogo em direção à moto, a gente fica sem saber quem teve ou deixou de ter razão num caso desses. Imprudência no trânsito resultando em violência urbana, esse seria o resumo desta historinha.
Há também o caso do motorista que não reage explicitamente ao deslize do motociclista, mas cuja pressão arterial sobe naquele exato momento ou que chega ao trabalho espumando de raiva e descarregando a irritação no office-boy, que de nada teve culpa.
Pois é, a agressividade de um sujeito ao pilotar a moto deflagraria a agressividade ou o adoecer de outro sujeito, o qual pode se tornar agressivo com terceiros. OK, tudo aqui é de faz-de-conta, mas eu garanto que tramas similares são plausíveis no mundo real, fora das novelas das oito. Agressividade gerou raiva, que gerou mal-estar e mais agressividade.
Lá no começo eu disse que não dá para controlar o que se sente. Então um apressadinho concluiria que estamos fritos e nada há para se fazer. Nada disso. Podemos, na verdade, exercer algum controle pessoal e de uns sobre os outros, mas em termos do que fazemos, e não em termos do que sentimos.
Que escolha eu faço quando piloto como búfalo selvagem? Quem sou eu, que resolve conflitos com balas de revólver? Que desconexão existe entre o que eu faço e valores que supostamente eu afirmaria defender, como a compaixão, prudência, amizade etc.?
É possível planejar estratégias sociais para promoção de comportamentos de paz e de bem-estar. No meu artigo eu poderia falar do papel do poder público, dos responsáveis pela lei e por sua real implantação. Poderia, outrossim, falar de fé, de religiões e de amor ao próximo. Prefiro outro caminho. Podemos aprender a aceitar o que sentimos (raiva intensa, por exemplo) sem precisarmos reagir aos sentimentos que forem pouco benéficos a nós e aos outros.
Você sabia que praticantes regulares de yoga e de meditação costumam ter reações físicas e emocionais menos exaltadas frente ao mundo? Essas pessoas aprendem, através de um treinamento bem orientado, a aceitar seus sentimentos, mas a permanecerem em contato com a dimensão construtiva do mundo, seus organismos são mais compassados e suas emoções são compassivas. Aprendem a julgar menos (a si mesmos e aos outros) e a se acalmarem mais, mantendo o foco nos valores mais relevantes, relacionados ao bem-estar individual e coletivo.
Procure informações a respeito de práticas como meditação e yoga, aceite suas emoções, e eduque seus atos amorosamente. Este é um bom começo para uma sociedade melhor, e trata-se de um caminho que só depende de você.