por Eliana Bussinger
“Brigas sobre dinheiro são uma constante em minha família”
“Cada vez que se aproxima o início do mês e as contas começam a chegar pelo correio, eu não consigo mais dormir”
“Meu ex-marido nunca paga a pensão em dia, então não consigo honrar as contas do colégio dos meus filhos, minhas enxaquecas são cada vez mais constantes”
“Não suporto mais essa situação”
Para algumas pessoas a ansiedade e o estresse já atingiram níveis desnorteantes: sentimentos de inutilidade, fadiga, insônia, inabilidade de concentração e até mesmo, pensamentos recorrentes de suicídio estão contidos nessas declarações. Muitas pessoas, no Brasil, estão considerando suas situações financeiras insuportáveis, pior, incontornáveis. Com a saúde financeira prejudicada a saúde do corpo imediatamente fica abalada, não raro de maneira permanente.
O que é o estresse financeiro?
Segundo relatórios médicos, o estresse – seja qual for sua designação – não é em si um diagnóstico, mas um processo. Por isso a intensidade com que ocorre depende da forma como as pessoas reagem diante de diferentes situações que provocam sentimentos como ansiedade, raiva ou medo, por exemplo. Muitos são os fatores estressantes (ou estressores) que disparam a produção do hormônio cortisol, que por sua vez provoca o estresse.
O perigo iminente é certamente o principal deles (e a principal razão pela qual produzimos cortisol). Além do perigo, outros estressores (citados nessa ordem em várias pesquisas) são: preocupação com trabalho, dinheiro e família.
As variações da Bolsa de Valores, ultimamente, têm sido associadas com a palavra estresse nos noticiários dos jornais, quase que adjetivando o mercado financeiro. Algumas pessoas, que compreendem que esse nervosismo faz parte dos movimentos do mercado de renda variável, não chegam a se abalar com o sobe-e-desce da bolsa. Outras, no entanto, reagem com preocupação excessiva e acabam danificando a saúde e as relações sociais.
O estresse financeiro resulta de um sentimento de medo ou de incapacidade de lidar com situações financeiras futuras: incapacidade de pagar contas, de realizar planos, de aposentar-se com dignidade, de dar estudo aos filhos, de manter o padrão de vida anterior. Dada a importância que o poder, o sucesso e a segurança financeira assumiram na sociedade moderna, o estresse financeiro acaba resvalando em muitos outros aspectos de nossas vidas, prejudicando além da saúde física, os relacionamentos sociais. O estresse financeiro destrói casamentos, diminui a produtividade do empregado, abala amizades e os contatos familiares – falaremos sobre cada um deles em artigos posteriores.
Efeitos do estresse financeiro sobre a saúde física
De acordo com os estudos realizados por um esforço conjunto da Money Magazine, do Wall Street Journal e da Universidade de Virginia entre outros, os primeiros sinais de estresse financeiro incluem:
Dor de cabeça e enxaqueca, preocupação e nervosismo excessivo, hipertensão, ansiedade e depressão, insônia, problemas estomacais, fadiga e fraqueza, abuso de drogas, álcool e fumo, desordens alimentares, úlceras, dificuldade de concentração, irritabilidade, moral baixa, dificuldade de relacionamento com a família e amigos, problemas cardiovasculares e psicológicos.
Os sete agentes estressores
As dívidas certamente ocupam o primeiro lugar: o medo das contas que chegam, a ansiedade com a possibilidade de inadimplência, o nome que pode ir para as associações de cobrança são estressores poderosos que resultam em muitos dos sintomas acima citados.
O segundo estressor é a busca incessante pelo sucesso, pela habilidade de ser capaz de comprar não apenas as coisas que necessitamos, mas principalmente aquelas que desejamos. É o way of life que as sociedades capitalistas nos impõem.
O que nos leva ao terceiro estressor: o medo de perder o emprego ou a fonte de renda e com ele a habilidade de prosseguir com os próximos passos da escada do sucesso.
Um quarto fator que dispara o estresse financeiro é o medo do envelhecimento sem qualidade. Isso explica, por exemplo, o enorme avanço da previdência privada no Brasil. Esse medo ainda que resida em algum momento de um futuro distante para muitos de nós, é uma ameaça permanente diante de tanta instabilidade econômica e política.
Um quinto estressor é o medo de retroceder na posição social. Ou seja, não ser capaz de manter o status quo, ou o estilo de vida a que se está acostumado: o envelhecimento do carro que não se consegue substituir, o bairro onde se vive que começa a ficar decadente, o casamento que parece estar ruindo (Como será viver divorciado, com recursos menores?); a empresa que vai demitir (Será que consigo emprego com o mesmo salário?), etc.
Um sexto estressor financeiro decorre do lugar em que vivemos. Sim, claro, se hoje você mora nos EUA, certamente acorda todos os dias pensando na crise que ruge no horizonte. Em 2002, os pesadelos de quem vivia no Brasil (empresário ou investidor principalmente) eram mais apavorantes do que qualquer filme de terror e torçamos para que a crise americana não respingue no hemisfério sul.
Além disso, quem mora em diferentes lugares do Brasil, independente de crise ou não, sente o estresse financeiro de maneira diferenciada: no campo, na cidade, São Paulo, Fortaleza…
Um sétimo estressor financeiro está relacionado à raça, gênero, idade. Ou seja características pessoais, sobre as quais também falaremos mais em outros artigos.