por Patricia Gebrim
– Como se vende tanta ilusão?-– perguntou a luz à sombra.
– É uma questão de sedução. Basta separar o um em dois e direcionar o foco, colocando o holofote sobre o minúsculo pacotinho de bônus, com muita destreza e de tal forma que ninguém perceba o mar de ônus que o rodeia — respondeu a sombra, toda faceira.
– Basta criar esse tipo de cegueira e pode-se fazer com que acreditem no que quer que lhes interesse! — acrescentou.
Pensei em quantos relacionamentos, pessoais ou profissionais, se dão nesse tipo de dinâmica, na qual as pessoas enganam a si mesmas. É preciso muita coragem para olhar de verdade para a nossa vida, sem panos quentes, sem véus, sem mentiras, apenas olhar para aquilo que é. Sem esse olhar a vida se torna um autoengano. Sem olhar de verdade para aquilo que precisa ser transformado, vamos empurrando a vida, mentindo para nós mesmos, vivendo uma vida medíocre, desperdiçando aquilo que temos de mais precioso: a nossa capacidade de criar o novo.
Você pode estar se perguntando:
– Por que fazemos isso?
Fazemos isso por medo. Medo de que nosso mundinho idealizado não seja tão perfeito como imaginamos e desejamos que seja. Medo de olhar de verdade e acabar descobrindo que não gostamos nem um pouco do nosso trabalho. Medo de olhar para nosso relacionamento e descobrir que o amor acabou. Medo de descobrirmos que não queremos mais morar onde moramos.
E comodismo. Porque se descobrirmos algo assim, teremos que nos mudar, teremos que terminar coisas, e começar outras, e nos mover, e isso dá trabalho, então preferimos enfiar a cabeça em um buraco, como faz o avestruz, e seguir, como se a verdade não estivesse lá.
A consequência disso é uma vida cada vez mais empobrecida e infeliz. E tristeza, doenças, tensão. Tudo vai se tornando tão falso e forçado que a vida vai perdendo o sentido, e com ele se vai nossa alegria, nosso entusiasmo, nosso brilho, nosso amor. Vamos ficando secos, vivendo vidas falsas e vazias, e não existe ninguém que possa nos tirar desse lugar, a não ser nós mesmos, a nossa coragem de olhar de verdade para a nossa vida e o comprometimento de fazer o que for necessário para que ela se torne viva novamente. Pulsante. Real.
Queridos, ampliem sua percepção, integrem o que está fora de seu campo de visão, façam conscientemente o trabalho das polaridades, aceitando a luz e a sombra dentro de cada um de vocês. Desejem ser reais enquanto seres, e não apenas satisfazer seu pequeno ego medroso e preguiçoso. E, a partir da aceitação do todo, façam escolhas mais conscientes.
A escolha é uma ferramenta poderosa que só pode funcionar quando olhamos para tudo com olhos que não julgam. Quando aceitamos tudo que vem na nossa direção, sem julgamentos, sabendo que aquilo veio por um motivo, para nos ensinar, para nos tornar mais inteiros. Isso é integrar, e isso traz paz.
Só então vocês encontrarão a realidade. Pode não ser confortável, mas, eu lhes garanto, vocês estarão a salvo.