por Patricia Gebrim
Outro dia me percebi na seguinte situação… estava abrindo a porta de casa, em cada dedo de minha mão uma sacola pendurada com as compras do mercado, o gato miando loucamente como se tivesse acabado de chegar de um campo de concentração, o telefone tocando e eu aflita para atender porque poderia ser o tão esperado técnico que milagrosamente poderia colocar em ordem a banda larga, a vizinha que bem naquela hora resolveu ser simpática e conversar comigo, tudo ao mesmo tempo… socorro!
Dizem que nós, mulheres, somos capazes de fazer várias coisas ao mesmo tempo, mas não exagerem!
Deixei a vizinha falando sozinha, me lancei abruptamente para dentro de casa, larguei as sacolas no chão com tanta pressa que o gato fugiu assustado e corri para atender o telefone. Afinal eu não podia perder a visita do técnico, não podia! Tropecei no fio do abajur e meio desequilibrada, tirei o fone do gancho … a tempo de ouvir o irritante som de linha… tinham desligado!
Olhei para trás e vi o rastro desastroso de minhas decisões. A vizinha com os olhos arregalados e cara de assustada, as sacolas espalhadas pelo chão da sala, o abajur quebrado, o gato escondido sob o edredom. Parecia que a casa tinha sido abalada por um terremoto.
Às vezes é isso o que criamos em nossas vidas, um verdadeiro caos. Tudo fruto de nossas escolhas! Por que não priorizei o que de verdade importava? Por que não fui amigável com a vizinha? Por que não abri a porta calmamente, convidando-a para entrar. Por que não acariciei o gatinho que só queria um pouco minha atenção? Será que era mesmo tão importante atender aquele telefonema? Daquela forma?
Precisamos reavaliar nossas prioridades. Vivemos sob tanta pressão que perdemos nossa capacidade de perceber o que de verdade importa. Como se não bastasse o mundo ter enlouquecido nos exigindo mais e mais, acabamos enlouquecendo com ele, achando que seríamos capazes de dar conta de todas essas exigências. Não somos! É simplesmente impossível. Precisamos entender isso sem nos sentir incapazes, precisamos aprender a relaxar mesmo tendo sempre tantas coisas ainda por fazer.
Bem, o que salvou aquele dia foi o meu bom humor… quando vi a cara da vizinha parada na porta, olhando para mim como se eu fosse uma maluca, algo mágico aconteceu… tive o mais delicioso ataque de riso dos últimos anos. Ela começou a rir também e rimos por uns bons minutos, até lágrimas saltarem de nossos olhos, até a barriga doer. Depois disso ela me ajudou a recolher a bagunça, nos sentamos no sofá e conversamos longamente sobre a vida, saboreando um delicioso cafezinho com bolo de laranja, exatamente como faziam as mulheres sábias, aquelas que viviam no tempo em que a vida não as levava a enlouquecer. Que saudade dos tempos de antigamente …