por Edson Toledo
Falarei neste artigo sobre a eletroconvulsoterapia, também conhecida como ECT, método que utiliza estímulo elétrico para gerar convulsão. Esta constitui um elemento terapêutico e nada tem a ver com o eletrochoque empregado como meio de tortura e punição; especialmente nos antigos países da Cortina de Ferro, onde falsamente se atribuíam aos presos políticos problemas psiquiátricos.
Em 1885 que o médico húngaro Ladhaus Von Meduna começou a estudar a cânfora, injetada nos pacientes para provocar convulsão, e constatou que ocorria melhora, pois existia a crença de que pacientes epiléticos que tinham convulsões não apresentavam psicoses.
Mas foi a partir de 1938 que os médicos Ciarleti e Bini da Universidade de Roma começaram a usar estímulos elétricos cerebrais para induzir convulsões, a partir de um estudo piloto em um paciente romano conhecido por suas histórias de internações; e que vivia perambulando pelas ruas com um discurso repleto de fantasias. A melhora indescritível que ele apresentou depois do eletrochoque, reforçou a tese de que realmente o estímulo elétrico poderia ser usado para induzir convulsões com fins terapêuticos e tornando-se o primeiro tratamento biológico com eficácia inquestionável em psiquiatria, só lembrando que as principais medicações psiquiátricas só surgiram duas décadas depois, ou seja, nos idos de 1950.
Atualmente, equipamentos modernos permitem um controle preciso da carga elétrica fornecida e introduziu-se a anestesia geral com relaxante muscular e oxigenação, além de monitoração detalhada das funções vitais durante o tratamento.
A anestesia tornou-se obrigatória, com fármaco de curta duração e manuseio controlado, promovendo inconsciência e amnésia no período peri-convulsivo (período antes da convulsão), assim como relaxamento muscular parcial, evitando fraturas e dores musculares.
Atualmente a ECT é indicada para: *transtornos afetivos graves, ** catatonia (tipo de esquizofrenia), impossibilidade de uso de medicamentos (mulheres grávidas e pacientes idosos), pós-síndrome neuroléptica maligna, risco de suicídio, ***psicoses refratárias (resistentes) e Parkinson.
A eletroconvulsioterapia é um método bastante seguro, se respeitadas todas as etapas na triagem clínica e se realizada de maneira adequada. Os pacientes são acompanhados por monitores durante o processo de anestesia, tratamento e recuperação e os riscos são aqueles relacionados a qualquer procedimento anestésico.
Ainda por conta da avaliação inicial, é feita avaliação odontológica, avaliação clinica (consulta pré-anestésica) e assinatura de termo de consentimento informado pelo pacientes ou seu responsável.
Casos em que a ECT não é recomendada:
– Processos cerebrais expansivos ou outras condições que aumentem a pressão intracraniana.
– Hemorragia intracerebral recente.
– Infarto agudo do miocárdio recente (últimos seis meses) ou quadros anginosos (insuficiência coronariana).
– Aneurisma cerebral.
– Hipertensão arterial sistêmica não controlada.
– Feocromocitoma (tumor raro que pode aparecer na glândula suprarrenal).
– Uso de anticoagulantes orais.
– Glaucoma e descolamento de retina.
– Trauma cervical.
O tempo total de um procedimento de ECT é cerca de 30 minutos. O paciente recebe uma anestesia de curta duração (Etomidato ou Propofol) e permanece na sala de recuperação sob os cuidados da equipe de enfermagem, até sentir-se bem. Após, recebe um lanche reforçado e pode retornar para casa.
Quanto ao número de aplicações, a ECT costuma ser realizada três vezes por semana, sendo necessárias, em média, de 6 a 12 aplicações para que se atinjam os resultados esperados. A frequência e o número de aplicações são decididos em consenso entre o médico do paciente que indicou a ECT e a equipe especializada.
Os resultados, em geral, são superiores aos da medicação. A taxa de resposta pode chegar a 90%, com a diferença de que os efeitos da ECT são mais rápidos.
Quando se compara a ECT aos psicotrópicos em geral, as evidências apontam para um benefício maior da ECT, principalmente tomando-se como critério a eficácia e a rapidez de ação, principalmente nos casos com risco de suicídio.
Ao contrário do que possam pensar alguns, o uso da ECT em idosos e gestantes é reconhecidamente mais seguro do que a utilização de medicamentos. Confirmando essa convicção de segurança, sabe-se que nos serviços que realizam esse procedimento, os idosos representam alta porcentagem de clientes, exatamente porque a ECT tem alto perfil de segurança clínica quando comparado a algumas alternativas farmacológicas.
A ECT deve ser considerada como possível tratamento de primeira escolha para casos nos quais sintomas psicóticos ou catatônicos estão presentes, para pacientes nos quais há necessidade de resposta terapêutica rápida, tais como pacientes com alto grau de suicidalidade ou recusa alimentar e problemas nutricionais sérios. Além disso, recomenda-se atualmente que se considere a possibilidade da ECT para pacientes com um alto grau de intensidade e gravidade dos sintomas, prejuízos funcionais muito relevantes, e pacientes refratários a tratamentos farmacológicos bem conduzidos previamente.
Por fim, a ECT é um procedimento que tem regulamentação referendada pela resolução 1640/2002 do Conselho Federal de Medicina (CFM) e encontra-se respaldada no âmbito do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (CRM-SP), como mostra o texto da consulta nº 118.723/04. Portanto, trata-se de procedimento médico reconhecido nacionalmente e internacionalmente como uma opção terapêutica em psiquiatria.
* Exemplos: transtornos afetivos bipolar com sintomas psicóticos agudos (alucinações), pacientes com depressão grave e/ou sintomas suicida presente.
** Catatonia é uma perturbação do comportamento motor que pode ter tanto uma causa psicológica ou neurológica. A sua forma mais conhecida envolve uma posição rígida e imóvel que pode durar horas, dias ou semanas. Mas também pode se referir à agitação motora sem propósito, mesmo sem estímulos ambientais. Uma forma menos extrema de catatonia envolve atividade motora muito lenta.
*** A esquizofrenia refratária (ou resistente) pode ser identificada quando, apesar do tratamento adequado, o paciente mantém sintomas agudos da doença.
Atenção!
Este texto e esta coluna não substituem uma consulta ou acompanhamento de um médico e não se caracterizam como sendo um atendimento.