por Flávio Gikovate
Durante os primeiros anos de vida a questão amorosa e incomensuravelmente mais importante do que a sexual; esta se torna mais importunadora a partir da puberdade.
Para o bebê a questão vital é se a mãe está por perto ou não. Sua dependência é total e o pavor do abandono nessas condições é o fruto obrigatório da atividade cerebral.
Agradar a mãe e tê-la ao alcance dos olhos é uma questão de vida ou morte. O pavor essencial é o da rejeição, ou seja, do abandono ao seu próprio destino.
Em nossa cultura o amor é a primeira arma pedagógica. A obediência se dá em virtude do pavor da rejeição. Agradar a mãe, continuar a ser cuidado por ela e continuar a obter seus deliciosos carinhos são os objetivos do bebê quando se empenha em andar, falar, controlar a micção noturna etc.
Com o passar dos anos e sem perceber, vai se tornando mais independente, mais capaz de sobreviver pelos seus próprios meios. Ensaia suas primeiras rebeldias e encontra a reação negativa da mãe; mesmo não precisando dela de uma forma tão essencial; percebe como lhe dói sua rejeição: atitudes de desafeto, expressões de desagrado e de desinteresse por ele. Cede e se submete.
À medida que se torna mais independente para cuidar de si, se percebe claramente dependente do modo como é olhado e tratado. A dependência física cede lugar à dependência emocional.
O pavor de desamparo persiste mesmo quando se atinge a autossuficência. Isto de certo modo nos persegue como resíduo, cicatriz do que foi vivido, ao longo da vida adulta. Se sentir tratado com ternura, olhado com carinho persiste como grande atenuador de nosso desamparo.