por Aurea Afonso Caetano
Avanços nos estudos da genética, considerando todo o campo da epigenética, nos mostram que a antiga distinção entre natureza e cultura não pode mais ser considerada como uma dicotomia; entre tantas outras antigas polaridades, esta também parece ter caído por terra.
Sabemos que o desenvolvimento do organismo se dá a partir de uma interação constante entre o genótipo que aquele ser carrega e as experiências com o meio sociocultural no qual vive. As influências genéticas e o meio ambiente estão inter-relacionados e vão determinar o desenvolvimento; influências ambientais podem determinar, restringir ou acentuar a expressão de processos de desenvolvimento e não determiná-los de forma unívoca.
No entanto, muitos dos progressos nos estudos sobre o funcionamento do cérebro têm sido desconsiderados por nós, analistas ou psicoterapeutas. Temos dificuldade em discutir o que me parece pedra fundamental de nosso trabalho: não há mente sem matéria e não há matéria sem mente. Mente e matéria são uma e a mesma coisa.
Sabemos que a emoção é determinante para o desenvolvimento humano do ponto de vista sócioafetivo, mas o que descobrimos é que ela é fundamental também a partir do ponto de vista neurobiológico. Panksepp e Biven (2012), propõe a existência de sete sistemas afetivos ou emocionais que compartilhamos com outros animais. A partir de várias pesquisas chegam aos sistemas de: procura ou expectativa, medo, raiva, excitação sexual, nutrição, tristeza e alegria. Estas emoções básicas estariam ancoradas no chamado cérebro mamífero e são constituídas por estruturas neuroanatômicas e neuroquímicas similares em todas as espécies de mamíferos.
Segundo estes autores cada um desses sistemas controla tipos diferentes e específicos de comportamentos associados a mudanças fisiológicas superpostas e geram também diferentes tipos de consciência afetiva. Por conta da expansão de nosso cérebro, assim chamado, superior podemos experienciar a vida num nível cognitivo e podemos refletir sobre nossas opções.
Mas, dizem eles, nossas mentes mais sofisticadas permanecem enraizadas em nosso passado ancestral e os afetos primários são memórias ancestrais que nos ajudaram a sobreviver.
E, porque não dizer nosso corpo é, de forma constante e cotidiana, construído nesse lugar, nessa inter-relação, nesses afetos enraizados que constituem nosso ser.
Metáfora maior da relação entre natureza e cultura.
The archaeology of mind; Panksepp, J e Biven (2012)