por Renato Miranda
Frequentemente o fenômeno do estresse é abordado como uma experiência negativa ou prejudicial para o ser humano. No entanto, no esporte como na vida cotidiana o estresse não precisa ser sempre considerado negativo. Há situações em que o estresse é muito bem-vindo. Isto se explica ao admitirmos o estresse como reação psicofísica do organismo a quaisquer estímulos (reconhecidos também como pressões ou cargas) seguidos de reações generalizadas do organismo a fim de se adaptar a esses estímulos presentes nas mais variadas situações de nossas vidas. Pressuposto conclui-se que o estresse pode ser um fenômeno positivo.
Quando recebemos um estímulo físico frequente, que nos permite de maneira natural e funcional mobilizar todos os nossos esforços sem alterar exageradamente nossa frequência cardíaca, agimos com vigor muscular e conseguimos produzir ação motora sem provocar esgotamento, esse estresse será positivo, pois o esforço do organismo para se adaptar e resistir a esse estímulo o tornará mais forte e eficaz. Com o passar do tempo e na medida em que esse processo de estímulo-reação-adaptação se consagre continuamente, ficaremos mais resistentes e fortes, física e psicologicamente. Basicamente, é dessa maneira que ficamos em boa forma física e com ótimo bem-estar psicológico.
Emoções agradáveis também provocam estresse
Em outra situação, quando recebemos um estímulo emocional agradável, como um elogio ou uma notícia que aguardávamos com boa expectativa, nosso organismo desencadeia um processo de reação psicofísica que acarreta um estado de alarme interno, que tal como no estímulo físico, haverá variação de frequência cardíaca, aumento da pressão arterial, disparo de hormônios e outras reações simpáticas típicas da situação estressante.
No entanto, nos sentimos motivados, alegres, recompensados e confiantes, pois, essa reação provocará uma adaptação positiva em nosso organismo com consequente estado psicológico favorável. Isso também é estresse.
Um outro exemplo é o estresse provocado por um estimulo químico. Nesse caso também poderemos vivenciar uma experiência positiva. Observe a seguinte situação: Se ao levantarmos pela manhã e sentirmos cansaço e com baixa ativação psicofísica (desânimo!), um estímulo químico estressor será aconselhável, ou seja, caso não haja nenhuma restrição médica, uma boa xícara de café sem açúcar e fresco, causará uma reação interna simpática típica dos eventos anteriormente citados, além de ativar nossa ação cerebral. Em consequência ficaremos mais excitados e todo aquele desânimo poderá ser drasticamente reduzido. E mais, se somarmos a isso alguns movimentos físicos intensos com os braços e pernas, como algumas flexões e alongamentos, mesmo com poucas repetições, teremos uma ótima experiência estressora.
Há também a possibilidade do estímulo estressor cognitivo (relacionado aos nossos pensamentos e organização mental). Quando experimentamos alguma forma de exigência intelectual, por exemplo, aprender alguma habilidade linguística (como uma expressão idiomática em uma língua estrangeira), e nessa oportunidade a experiência é adequada, em outras palavras o estímulo (exigência intelectual) é compatível com nossa aptidão, estaremos mais uma vez, vivenciando um estresse positivo.
Em síntese, com esse estímulo intelectual compatível uma reação favorável interna em nosso corpo será disparada: músculos sem espasmos (contrações repentinas e com duração e intensidade variável), respiração ótima, vigor psicofísico, sentimento de recompensa, autoconfiança e motivação. Esses fenômenos irão providenciar uma adaptação favorável do nosso corpo e assim persistindo, por determinado período, uma resistência benéfica será verificada e estaremos cada vez mais preparados a novas aprendizagens.
Eustress
Não é comum considerarmos estresse todas essas experiências acima, visto que a associação da palavra estresse é frequentemente aceita para aquilo que é desgastante, desfavorável, prejudicial ou algo do tipo. No entanto, a reação típica do estresse pode ser provocada por meio de estímulos positivos e/ou agradáveis. Essa possibilidade é denominada de eustress. Com isso, podemos repercutir que o fenômeno de estresse não é por si só negativo, o que o caracteriza é sua tipologia perante a pessoa que o vivencia.
Distress
Aquilo que frequentemente chamamos de estresse é o outro lado do fenômeno, ou seja, quando vivenciamos experiências ou estímulos que provocam reações desfavoráveis ao nosso corpo, como, por exemplo, variação abrupta e exacerbada da frequência cardíaca, fadiga, queda das funções respiratórias e/ou digestivas, dores inoportunas (por exemplo, cabeça, nuca e estômago) e disfunções psíquicas como, nervosismo, ansiedade contínua, problemas de concentração nas tarefas cotidianas, agressividade e outras reações tão comuns nos dias atuais, que em alguns casos podem levar a pessoa ao esgotamento, representam, em linhas gerais aquilo que se convencionou chamar de estresse. Mas na verdade essa é a adaptação negativa que o corpo providencia para resistir ou “avisar” que podemos entrar em colapso, é o que chamamos de distress.
Ocorre que nem sempre escolhemos os estímulos que provocarão estresse (eustress ou distress), portanto precisamos aprender a buscar e usufruir do estresse positivo (eustress) e administrar o estresse negativo (distress). Algumas pessoas me perguntam:
Por que não evitarmos o distress e sim administrá-lo?
A resposta é simples: porque nem sempre podemos evitar os estímulos desfavoráveis do cotidiano, desde um engarrafamento no trânsito a um aborrecimento no trabalho. Mas é possível administrá-los.
Essa administração se dá da seguinte maneira: aquele distress que não se pode evitar trate de criar certa resistência (tolerância), caso contrário você ficará muito suscetível às reações negativas e em consequência muito nervoso. É o caso daquelas pessoas que “não toleram nada” ou “não engolem sapos”. Tais comportamentos são muito comuns no trânsito das grandes cidades. Mas ao mesmo tempo não motive muito essa resistência, pois caso contrário, ficaria insensível aos comportamentos indesejáveis, por exemplo, ao ser muito resistente aos comportamentos violentos, você pode achar absolutamente normal, ofender, agredir e coisas correlatas quando de uma frustração ou desgosto qualquer.
Na verdade, quando o estímulo negativo (“ameaça”) for de origem psicossocial é aconselhável que sejamos o mais superficial possível e não valorizemos muito tal estímulo. Por exemplo, quando alguém é grosseiro conosco por um motivo fútil. No entanto quando o estímulo é físico (cansaço do dia a dia ), portanto, inevitável, a administração se dará no sentido de diminuir ou evitar manifestações prejudiciais ao nosso corpo. Para tanto, a prática regular de exercícios físicos e procurar viver em harmonia no meio ambiente são fatores intervenientes básicos.
Para usufruirmos do eustress e administrar nosso distress, proponho os seguintes passos:
– Procure assumir o exercício físico como uma atitude positiva em sua vida e o incorpore em sua rotina;
– Com orientação profissional, procure sempre aumentar sua resistência física;
– Planeje sua rotina de modo a reservar um período para compartilhar atividades junto à família;
– Melhore dia após dia a qualidade de seu relacionamento com as pessoas e o meio ambiente;
– Descubra e aprenda uma boa técnica de relaxamento;
– Para qualquer estímulo positivo (ex.exercício físico) procure adequar o estímulo (carga) à sua aptidão psicofísica.
– Pratique um hobbie: esporte, leitura, arte ou outra atividade positiva qualquer;
– Vislumbre possibilidades de melhorias de atuação profissional;
– Não vivencie internamente acontecimentos futuros e suas possíveis reações negativas;
– Aprenda a controlar-se quando começar a ficar irritado por algum motivo;
– Estabeleça um bom hábito alimentar e de descanso;
– Não sofra por qualquer evento banal.