Empatia é bem mais do que se colocar na pele do outro

O jornal “Folha de São Paulo” publicou recentemente um caderno sobre Profissões. Uma matéria, nessa publicação, afirma “Funções que exigem empatia estão com futuro garantido” e cita a psicologia como uma das carreiras que estariam garantidas, ou seja, não seriam substituídas por robôs ou “Inteligência Artificial” por conta dessa capacidade.

Empatia e psicologia

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O que seria essa capacidade de empatia tão necessária para o exercício de nossa profissão? Diz o dicionário: empatia é a habilidade de imaginar-se no lugar da outra pessoa; a compreensão dos sentimentos, desejos, ideias e ações de outrem. Gostaria aqui, de ficar com dois verbos utilizados nesta definição: imaginar e compreender. As ações evidenciadas por eles falam de uma capacidade sensível e simbólica. Não se trata de estar no lugar de, ou fazer pela outra pessoa; não é uma mistura ou indiscriminação, mas uma diferenciação importante entre eu e o outro, onde são mantidas as “separações” entre as duas pessoas mesmo quando elas estão em um contato profundo e transformador.

Por que o analista precisa fazer análise?

E o que é que torna a conversa entre duas pessoas um trabalho analítico profundo? Ou, qual a qualidade de nossa atuação cotidiana que permite uma transformação? Ainda durante seu intenso relacionamento com Freud, Jung propôs a necessidade da análise do próprio analista. Acreditava ele que, para que uma pessoa pudesse ser um terapeuta, era importante que ele se conhecesse a fundo, que soubesse mais de si mesmo e que portanto, pudesse estar mais atento às questões levantadas pelo processo do paciente, diminuindo assim as chances de uma “mistura” ou de um “contágio”.

Na pele do outro, sem sair da minha 

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Ora, isso é fundamental quando pensamos na empatia. Não basta sentir com o outro, colocar-se em seu lugar, é imperativo poder não ficar aí preso, não atuar, não fazer pelo outro. Imaginar… pressupõe poder ouvir o que o paciente diz sentindo como é “estar em sua pele”, mas, sabendo, ao mesmo tempo, qual é a minha pele e não saindo dela, ou não sair de meu lugar como terapeuta. Compreender, pressupõe também uma separação importante: entendo o que diz, mas não faço por você, não concordo ou não expresso concordância ou discordância, procuro ampliar o que diz oferecendo novos olhares, novas possibilidades.

Empatia é fundamental em nosso trabalho cotidiano no consultório assim como também o constante trabalho de compreender quem sou e quem é o outro com quem trabalho, sem hierarquia ou valoração. Uma verdadeira empatia permite a apreciação do diferente e só então sua possível transformação.