A empatia tem se transformado em uma das virtudes mais importantes do nosso tempo. Ela envolve a capacidade de compreender o outro ser humano, tornando lógicos (por assim dizer) comportamentos que nos pareceriam condenáveis ou absurdos sem ela.
Um exemplo clássico de empatia diz respeito ao modo como passamos a considerar a prostituição. Lá pelos anos 80 do Século XX não era difícil encontrar alguém que colocava a situação de prostituição na conta de algum tipo de defeito moral.
A avaliação que se fazia era a de que a pessoa prostituída havia optado por essa profissão em função de ser devassa ou, pelo menos, julgar que tratava-se de uma maneira fácil de ganhar a vida. Em ambos os casos, o que predominava era a atribuição de que o prostituído havia aderido à profissão por alguma imperfeição moral – da qual obviamente aquele que julgava não partilhava. Tratava-se de uma maneira simples de diminuir moralmente as outras pessoas que não haviam adotado estilos de vida padronizados – embora se tratasse de algo amplamente aceito e desejado pela sociedade.
O que é empatia?
Com o avanço da virtude da empatia, essa maneira de gerar juízos de valor foi sendo abandonada. De tal forma, que hoje o que nos interessa em alguém que seja prostituído é sua história de vida. É nela que nos concentramos com o objetivo de gerar compreensão, logo empatia. Assim, as experiências pregressas, uma situação de miséria, fome e outas necessidades imperiosas, são a justificativa mais comum nas narrativas empáticas das pessoas em situação de prostituição.
Quase ninguém coloca-se, hoje em dia, em uma posição moral superior quando avalia pessoas nessa situação. A atitude mais comum é tentar compreender os motivos que levaram alguém a tal ou tal situação. De certa forma, a empatia é um processo de justificação que torna lógico ou legítimo qualquer estilo de vida. Afinal, se compreendemos porque uma pessoa é como é, mesmo sendo absolutamente distinta de mim, então seu comportamento se torna compreensível, legítimo, aceitável e lógico. Isso não significa que eu mesmo adotaria esse padrão de vida e sim que eu me coloco em posição de compreender o outro, por mais absurdo que ele me pareça.
Tudo isso parece muito razoável e dentro da um certo padrão de ampliação do entendimento entre os seres humanos. Eu diria até que isso faz todo o sentido para o aprofundamento do cristianismo que caracteriza o mundo ocidental. Compreender o outro é, afinal de contas, um gesto de amor, de aproximação, de estabelecimentos de elos que antes nos pareciam um impedimento. Se trata exatamente de amor, da ampliação do amor aos confins da humanidade – algo que foi originalmente proposto pelo cristianismo. Foi essa religião quem apostou na possibilidade de universalização do amor.
O futuro da empatia
Mas não vamos fazer cavalo de batalha pela origem desse amor universal promovido pela elevação da empatia como virtude do Século XXI. Vamos tentar pensar o futuro dela. Se essa virtude se firmar efetivamente na cultura, como nos relacionaremos com os criminosos? Afinal, ela nos levará a compreender a lógica (agora ainda oculta) do comportamento criminoso. E, se tornando compreensível, poderemos aceitá-lo como legítimo – nos seus próprios termos, que é o que importa na empatia.
O ladrão de bancos rouba porque necessita comer e se vestir. O político corrupto teve seu comportamento prejudicado em função de uma educação moral familiar deficitária. Um estuprador pode ter sido abusado quando criança etc. A questão é clara: a expansão do amor a todos, o alargamento da empatia nos tornará a todos igualmente bem-vindos à comunidade humana e não haverá mais exclusão? Ou teremos compreensão sem aceitação? Nesse último caso, não entendo o que seria essa compreensão. Tudo leva a crer na iminência de um choque de valores que deverá alterar profundamente a maneira como vivemos. Quem viver verá.