por Angelo Medina
Nesta entrevista exclusiva o consultor Roberto Santos – com mais de 30 anos de experiência em RH de organizações multinacionais de grande porte -, responde questões essenciais relacionadas ao emprego: como ingressar, se manter e se recolocar no mercado de trabalho.
Roberto Santos é colaborador do Vya Estelar há mais de uma década.
Ingressar no mercado: estagiário ou escraviário?
Vya Estelar – Para quem ingressou na faculdade, quando iniciar um estágio?
Roberto Santos – Estágio profissional, principalmente quando se consegue estagiar numa área diretamente relacionada, o quanto antes melhor. Mesmo que ainda não se tenha muita noção da relação teoria e prática, a convivência com o ambiente de atuação profissional futura é muito positiva.
Vya Estelar – Quais critérios utilizar para escolher uma empresa para estagiar?
Roberto Santos – Recentemente, a revista "Agitação" do CIEE (Centro de Integração Empresa Escola) lançou a sua lista das melhores empresas, mas neste caso, as melhores para se estagiar. Os critérios não devem ser muito diferentes daqueles usados das melhores empresas para se trabalhar: ambiente físico e social de trabalho e gestão de pessoas focados em respeito ao indivíduo e oportunidades de crescimento e desenvolvimento pessoal e profissional. Além desses genéricos, saber há quanto tempo a empresa tem um programa estruturado de estágio, conhecer esta estrutura, saber o percentual de aproveitamento em efetivação e, se possível, conversar com ex-estagiários dessa empresa é o que pode fazer a diferença entre ser um estagiário e um "escraviário".
Vya Estelar – Esse estágio dever ser remunerado?
Roberto Santos – Trabalhar no que se gosta, aquilo que nos dirigiu a um vestibular e um curso superior já é muito bom. Receber uma remuneração direta e/ou indireta por isso, é melhor ainda! Infelizmente, nem sempre o jovem profissional que precisa pagar seus estudos consegue largar seu emprego para iniciar um estágio não remunerado. Na realidade, o estágio não deve ser remunerado como um empregado efetivo, embora seja correto que as empresas ofereçam pelo menos uma “bolsa auxílio”. Aliás, as empresas que levam a sério seu programa de estágio costumam oferecer, além de uma bolsa atrativa, alguns benefícios, e são essas que devem ser o alvo dos estudantes que estão buscando oportunidades de estágio.
Currículo não substutui entrevista, mas deve ser uma 'propaganda atrativa'
Vya Estelar – Quais dicas essenciais o senhor daria para preparar um currículo?
Roberto Santos – Na Internet, em livrarias e bancas de jornais existem centenas ou milhares de manuais com dicas de todos os tipos para se preparar um currículo. Então é quase impossível adicionar algo de novo ou revelador neste campo. Acho que meu resumo para esta resposta é o seguinte: (1) pense em quem vai ler o CV – ele/ela tem que entender o que você está querendo dizer, não apenas você; (2) no Brasil se utiliza o Português e seu uso correto já é um passo importante para uma pessoa esclarecida ler seu CV até o fim; (3) ter qualificações iguais a todos os prováveis candidatos a uma vaga não vai diferenciar seu CV de uma pilha deles ou em uma planilha de Excel. Se você acredita que tem um diferencial, garanta que ele seja comunicado e (4) o CV não substitui a entrevista, ele tem que ser uma "propaganda" atrativa sobre seu potencial de contribuir com a empresa à qual você está se candidatando para que a mesma queira chamá-lo(a) para uma entrevista… É verdade, o melhor CV é aquele que se ajusta a vagas específicas. Parte-se de um "padrão", mas ele precisa ser burilado com foco na vaga que estamos interessados.
Vya Estelar – Quais são os procedimentos para ser bem-sucedido numa entrevista?
Roberto Santos – Conhecer sobre a empresa e, se possível, sobre a oportunidade que está em aberto. Ir preparado para responder perguntas dos selecionados, mas também fazer perguntas (inteligentes e bem informadas) sobre a empresa e a vaga. E, mais importante, ser quem se é. Conseguir um emprego para outra pessoa, pode ter um prazo de validade baixo e logo se estraga no mercado de trabalho.
Manter o emprego: matar um leão por dia
Vya Estelar – O que é essencial para virar a 'menina dos olhos' da empresa e até se tornar a 'prata da casa', se é que isso ainda existe?
Roberto Santos – A "prata da casa" só se mantém na mesa da casa se estiver sendo constantemente polida e adequada a sua finalidade. A antiguidade ou senioridade como critério para promoção, aumento salarial e mesmo para se preservar um emprego é algo que está tão em desuso como anil para lavar roupa. Hoje a gente tem que se provar diariamente com desempenho e resultados, além de postura alinhadas aos valores da empresa – integridade, respeito aos outros, etc.
O artigo sobre talento (2ª parte) é exatamente sobre isso – clique aqui e leia
Recolocação no mercado
Vya Estelar – Existe um 'prazo limite' para a pessoa se recolocar no mercado?
Roberto Santos – Talvez simplificando em demasia, o prazo limite depende muito do nível e experiências anteriores do profissional, por um lado, e do que a pessoa ficou fazendo enquanto esperava a recolocação. Para um diretor se recolocar, o tempo é maior do que o de um gerente, que é maior do que o esperado para um técnico e assim vai…
O limite também tem que ser dado pela saúde mental da pessoa que está esperando (vide artigo sobre a relatividade do tempo de quem espera e faz esperar – clique aqui e leia). Não existe um número ótimo. Para quem está desempregado, é sempre, o quanto antes!!
Vya Estelar – Se extrapolar este prazo a pessoa deve pensar em redirecionar sua vida profissional?
Roberto Santos – De novo, não existe uma única resposta certa para essa pergunta… Mudar de carreira pelo motivo de estar tomando mais tempo do que o esperado para se recolocar na mesma área ou campo pode ser a decisão correta para o problema errado… ou vice-versa. Claro que é mais fácil falar do que fazer quando se tem contas a pagar, mas é importante não se enganar com mudanças de rota motivadas pelos juros bancários e diferenciá-las daquelas geradas por uma real mudança de carreira, caso contrário, aliviamos um problema e criamos outro.
Vya Estelar – Como se recolocar no mercado?
Roberto Santos – Acima de tudo, a rede de relacionamentos que se cultivou durante o período em que se estava empregado, é sabidamente o principal alavancador de recolocações no mercado. Só que isso não se conquista da noite para o dia e, especialmente, no dia em que recebemos o "cartão vermelho". Como uma planta que começamos a cultivar em nossos primeiros anos de escola, nossa rede de relacionamentos precisa ser regada e provida dos nutrientes de contatos frequentes para estar rendendo frutos quando temos sede do apoio de amigos e colegas.