Encontre o belo em cada momento do seu dia

por Patricia Gebrim

Outro dia recebi de uma pessoa muito querida um convite inusitado… acompanhá-lo a uma ida a uma rua de São Paulo conhecida por comercializar todo tipo de produtos eletrônicos.

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Claro que, se o convite fosse para me enfiar entre prateleiras cheias de bugigangas e artigos femininos eu nem titubearia, mas aceitei o convite e encarei como um desafio.

O dia estava bonito, isso ajudou. É incrível como a vida se move em alguns lugares da cidade. Com gente para todos os lados, até mesmo uma simples caminhada por aquelas ruas lotadas era arte digna de um equilibrista. A verdade é que o bom humor faz toda a diferença em momentos como esse. Abre nossos olhos e nos faz perceber coisas que passariam despercebidas aos mal-humorados. E foi assim que fui percebendo mais de perto a luta pela sobrevivência, me perguntando como seria a vida de cada uma daquelas pessoas que se empenhavam em disputar os possíveis clientes, em garantir a venda de seus produtos, o alimento de seus filhos que, em casa, aguardam pela volta dos pais após o dia duro de trabalho.

O fato é que, após algum tempo de caminhada, estava eu toda feliz, com um saquinho em mãos contendo alguns itens preciosíssimos que andavam faltando há tempos em casa e que eu não fazia a menor ideia de onde comprar.

Claro que para tornar tudo mais divertido esticamos a caminhada até o Mercado Municipal. Envolvida por aquela intensa mistura de cores e aromas, não era difícil me transportar aos maravilhosos mercados que se espalham ao redor do mundo. Na barraquinha em que parei na busca de temperos, conheci Igor (o nome foi trocado). Um rapaz doce e atencioso, de olhos vivos e brilhantes, por volta de 14 anos, que ajuda seu pai a vender temperos nos finais de semana. Conversamos brevemente e eu perguntei como era para ele trabalhar lá, ao que ele singelamente respondeu, com um sorriso lindo no rosto:

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– Meu pai sempre trabalhou aqui. Agora é a minha vez de ajudar minha família.

Ah, nem mesmo a pimenta malagueta da barraca ao lado aqueceria tanto meu coração. É bonito descobrir a beleza que se esconde por trás do caos, a docilidade camuflada, os olhos de um menino, brilhantes, vivos, orgulhosos de si mesmo. O olhar daquele menino me remeteu a um livro recente do pensador búlgaro Tzvetan Todorov, “A Beleza Salvará o Mundo”. Passeando pela vida de três personalidades passionais (Oscar Wilde, Rainer Maria Rilke e Marina Tsvetaeva ), Todorov nos leva a refletir sobre o sentido da vida.

“É preciso recusar a separação das experiências entre altas e baixas, nobres e banais, poéticas e prosaicas, e buscar o sublime no coração do cotidiano. Nossa época nos incita a situar essa beleza menos nas experiências coletivas (que nos trouxeram muitas frustrações no século 20) e mais nas individuais – e para essas não se torna necessário produzir obras de arte.” (Tzvetan Todorov)

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Precisamos aprender a encontrar o belo em cada esquina, em cada olhar, nas pequenas experiências do dia a dia, mesmo em meio ao caos em que muitas vezes nos vemos imersos.

Conversando com Igor, naquele sábado, eu tive certeza:

– A beleza está sempre lá, basta que queiramos de verdade encontrá-la.

Voltei para casa feliz, com as pernas mais fortes e o coração mais leve.

Isso sem falar que agora tenho como recarregar as baterias lá de casa, tenho um zattar delicioso para temperar os queijinhos de que tanto gosto e algumas experiências a mais, que transformo em palavras e divido com vocês.

Valeu!