Por Roberto Goldkorn
O estudo profundo do Feng Shui, me ensinou que grande parte das estruturas arquitetônicas que criamos para morar, são frutos de elaborações inconscientes de seres primitivos (nós), que viviam uma realidade baseada no tripé: atacar, se defender ou fugir. Começamos a construir casas, quando desistimos das cavernas, isso deve ter sido algo em torno dos 30 a 20.000 anos atrás.
De lá para cá, as oposições à sobrevivência da espécie foram inúmeras, e a vida dos nossos ancestrais era uma luta atrás da outra. Assim como os três porquinhos construíam suas casas para se defender do lobo, nós também começamos a construir casas para nos defender, dos lobos do reino animal e do reino hominal (sic).
Assim as casas guardam em suas origens e em seu posterior desenvolvimento a marca da agressividade e da violência. Os chineses começaram a mapear essas formas agressivas, e criaram denominações e remédios para evitá-las nos ambientes habitados.
"Ch'i de flecha"
Após milênios usando o machado como arma e ferramenta de corte, descobriram que as superfícies que acabavam em gume, eram nocivas. Paredes com quinas em ângulos de 90º, e pior ainda com angulações menores (45º por exemplo) emitiam o que eles chamavam de "Ch'i de flecha", ou seja, a energia Ch'i – energia sutil que existe na natureza e dentro de uma casa – era projetada pelas paredes por exemplo e saia com violência das quinas das paredes atingindo o que estivesse à sua frente.
É claro que como é uma energia muito sutil, não se sente as picadas das "flechas" mas com o tempo, irritação, nervosismo, agressividade, instabilidade poderiam ocorrer, dependendo ainda de outras variáveis.
Por isso também eles não gostavam de formatos triangulares, por invariavelmente apresentarem pontas. A trajetória das flechas, dos projéteis, a carga das cavalarias, sempre em linha reta, fez com que a linha reta fosse temida. Por isso eles não constróem caminhos retos até a porta de casa, pois sabem que o Ch'i se acelera e bate agressivamente contra as portas.
Já que falamos de portas, para os antigos chineses, as portas representavam, ou melhor elas eram (e são) a boca das casas. Através delas entra o "alimento" e sai "a palavra", a comunicação com o mundo. Se a sua porta estiver diante de um elemento "agressivo" ou destrutivo, por exemplo, um ferro velho, ou uma construção destruída, em ruínas, você vai se "alimentar' dessa mensagem cada vez que sair de sua casa.
Por isso eles recomendavam que em frente à sua porta você tivesse um panorama agradável, largo, alimentador da sua alma com estímulos positivos. Mas, como herdamos o medo, e a insegurança dos nossos ancestrais, não devemos posicionar sofás, poltronas ou cadeiras de costas para a porta, pois a porta é a última fronteira com a rua, e a rua, é o território, do "mundo", e o mundo é a morada dos "inimigos".
O nosso inconsciente primitivo, sabe que de costas estamos mudos, cegos e surdos (além de sem olfato, sem tato, etc), e não é bom sermos pegos desprevenidos, sem poder detectar a aproximação dos inimigos que vêm da rua.
Por outro lado, da rua também podem vir amigos e aliados, você não vai querer dar as costas a eles vai?
Muitas pessoas me perguntam, mas qual é o problema de dormir com a cabeceira da cama sob uma janela? Até uma revista "especializada" em Feng Shui colocou uma sugestão de quarto ideal na sua capa, com uma cama onde o infeliz ocupante ficaria com a cabeça em baixo da janela.
Casas são construídas à nossa imagem e semelhança
Da mesma forma que as portas, são a boca da casa, as janelas são os olhos, já que construímos as nossas casas a nossa imagem e semelhança. Através das janelas olhamos para o mundo lá fora, e o mundo nos espia também. Quando dormimos, devemos romper temporariamente com esse mundo exterior do qual nos assenhoreamos através dos olhos e dos outros sentidos.
Como a janela é o olho da casa, se dormimos debaixo da janela, o nosso inconsciente vai captar a sensação de insegurança, de estímulo de vigília, que pode atrapalhar o sono, e até interferir, na qualidade dos nossos sonhos. Isso pode com o tempo poderá gerar uma agressividade, uma desconfiança crônica, e até um estado de paranóia no indivíduo.
Já que estamos falando dos efeitos do mau Feng Shui no sono, e a cama com os "pés" na direção da porta? Aqui, o efeito é o inverso. Essa posição que os chineses chamam de "posição da morte", pode transformar o indivíduo em vítima, fragilizando-o, uma vez, que a porta "rouba" a energia vital que sai pelos seus pés enquanto dorme.
Há outras explicações também, mas por enquanto vamos ficar só com esta. Sei que para os céticos, isso pode parecer brincadeira de quem não é sério, ou não tem o que fazer, mas aos céticos talvez falte um conhecimento mais aprofundado de psicologias, e certamente mais humildade diante de mistérios que a ciência está a anos luz de conhecer.
Há cerca de 15 dias fui fazer uma consultoria de Feng Shui, numa casa de um condomínio fechado em São Paulo. O filho da dona, com 11 anos acompanhando a minha consulta, me disse, "sabe eu não acredito em nada disso." Do alto da sua enorme sabedoria e experiência de vida, ele decretava a falência de 5000 anos de conhecimento. Mas isso é normal, e muito sábios agem exatamente igual a esse menino.
A manifestação de estruturas agressivas e desestabilizantes está por toda parte: das colunas quadradas e paquidérmicas que aterram o ambiente, criando dificuldade ao fluir do Ch'i, e naturalmente ao nosso, às escadas em frente as portas, que literalmente "serram" a nossa presença, nos confrontando com o desafio sacrificial de escalar a "montanha".
As paredes rachadas e descascadas, que acenam ao nosso inconsciente com a ameaça da pobreza, das relações rachadas, da decadência. As cozinhas exíguas, apertadinhas, mal iluminadas nos sussurram que a "mãe provedora", não deve ser generosa pois está magra, e sem vida, incapaz de nos alimentar com abundância.
E o que dizer da "arte" que muitas vezes decoram casas e escritórios? Estátuas de pessoas mutiladas (em geral mulheres), quadros de lutas, paisagens devastadas, cenas de pobreza e miséria, casario em decadência, pessoas tristes, cabisbaixas. Olhar (mesmo sem ver) para esses estímulos todos os dias faz um estrago, que só não é maior por que não temos consciência dessa relação de causalidade.
Os sinais de um passado de graves dificuldades foram levados para dentro das casas, mesmo as casas dos ricos que hoje nem imaginam o que os seus ancestrais passaram. Isso acaba causando stress, desestabiliza as relações pessoais e familiares, estimula a violência, o medo, as doenças oportunistas.
A preocupação com a guerra no Golfo, deve nos lembrar que temos outras guerras, menores é claro, mas devastadoras por que são silenciosas como a neve que cai, dentro de nossas casas e ambientes de trabalho.
Qualidade de vida
Quem busca a paz, e a qualidade de vida, deve olhar para dentro de sua casa, de seu escritório, e descobrir onde está a artilharia, os aviões, e as minas terrestres inimigas. Neutralizar os focos de tensão e stress na arquitetura e decoração da casa, é tarefa urgente, e fundamental para quem quer paz e qualidade de vida.