Por Renato Miranda
Parece que foi outro dia, mas já são quase quatro anos que a Copa do mundo de futebol no Brasil acabou e nos deixou 7×1 na lembrança que estará sempre em nossa memória e claro na dos alemães.
A derrota nas semifinais para a Alemanha foi tão marcante que quase ninguém fala de nossa derrota para os Holandeses de 3×0 na disputa do terceiro lugar.
Muito se comentou a respeito, e agora o assunto é sobre como a seleção irá reagir na Rússia, muito embora seja quase tudo diferente, inclusive a própria seleção brasileira. Outra equipe, técnico e mentalidade, fazem com que o cenário seja uma nova possibilidade de sucesso.
Alguns alunos me perguntaram qual seria o melhor caminho para se preparar em termos psicológicos a fim de termos uma seleção forte no aspecto mental e emocional.
As habilidades psicológicas, tais como as físicas são diversas, tais como: concentração, motivação, autoeficácia, controle da ansiedade e outras. Se nas habilidades físicas nós temos habilidades correlacionadas e sistêmicas, como: força, resistência, agilidade, velocidade e outras, com as habilidades psicológicas há o mesmo fenômeno.
Como a Copa do mundo de futebol é um torneio curto, e com vários jogos eliminatórios e com possível disputa em regime de prorrogação e pênaltis, decerto a habilidade concentração é aquela que pode influenciar as outras tantas e também as várias emoções.
Assim sendo surge a questão: quais seriam as diretrizes para providenciar um bom nível e treinamento para a concentração?
Em breves palavras resumiria assim minha orientação:
Concentrar na situação presente. É fundamental que sucesso e fracasso anteriores tenham repercutido lições que sedimentará o caminho atual, mas sem o valor emocional representado pelo excesso de confiança, em caso de sucesso anterior e vingança ou medo em função do eventual fracasso. Ou seja, a concentração é destinada ao presente.
É necessário planejar, sintetizar e visualizar soluções para transpor as dificuldades, e com isso as contingências (aquilo que não está no controle!) não abalar a concentração e como consequência a autoconfiança. Ou seja, sempre haverá um plano para se colocar em ação. Muitas vezes, uma equipe sofre (ou faz!) um gol inesperado no início do jogo e a aflição invade a mente dos atletas e a deficiente capacidade de pensar/agir (concentração!) da equipe levam à desmobilização de qualquer reação.
Para que o dito plano de soluções seja eficaz, é necessário se concentrar de forma consciente e relaxada. Isto significa dizer, entre outras características, que a consciência é a capacidade que o atleta tem de controlar o máximo daquilo que possa vir acontecer em uma disputa. Ou seja, consciência em saber utilizar técnicas e táticas variadas em alto nível e desenvolver o controle emocional e do comportamento em qualquer situação. Portanto, o atleta consciente sabe o que fazer diante de: uma falha, provocações do adversário, erros de arbitragem. Assim, se adapta facilmente às modificações táticas, toma decisões com boa lógica de ações e outros, enfim é o que se consagrou chamar de “atleta consciente!”.
Ao mesmo tempo é necessário não exacerbar as emoções. Qualquer tipo de emoção seja alegria, tristeza ou tensão nervosa. Quando se exacerba a emoção a capacidade de concentração se torna muito restritiva, pois a aflição invade a mente e com isso dificulta a capacidade de perceber, comparar informações, avaliar e decidir o quê fazer. Ou seja, do pensamento até a ação eficaz todo o processo fica prejudicado.
Você já deve ter escutado a seguinte frase de alguns técnicos brasileiros: “Não nos preocupamos com nenhum adversário, não temos que adaptar nosso jogo ao de ninguém, os adversários é que têm que se adaptar ao nosso”.
Nossa seguinte orientação é justamente o contrário. Para um ótimo nível de concentração é fundamental que a equipe esteja preparada para se adaptar constantemente às diversas situações e ritmo dos jogos, adequar as táticas conforme o adversário e sempre pensar que pode-se perder a qualquer momento, e com isso, é fundamental ter em mente variadas formas de atuação e se concentrar, portanto, nos momentos decisivos de cada ação (escanteio, faltas, finalizações variadas, defesas, marcações etc).
Por último, para um ótimo nível de concentração é especialmente oportuno, não pensar sobre resultados futuros e sobre consequências negativas. Fundamental é simplesmente realizar ações técnicas e táticas com a melhor qualidade possível como se cada tarefa fosse a própria finalidade. Ou seja, agir com prazer em realizar cada movimento.
Tais diretrizes é um resumo daquilo que está ao alcance dos atletas, se bem executadas, repercutirão em equilíbrio emocional e principalmente substituirá a ansiedade por alegria e controle.
Por fim seria bom lembrar que a disputa de uma Copa do Mundo é o auge da carreira de um atleta de futebol. E quando se está no auge, a tensão vivida sob controle é motivo de alegria.