por Lilian Graziano
Engajar-se em uma causa social pode ser uma excelente oportunidade de exercitar nossas forças e virtudes (e de colocar a felicidade na pauta pública)
Nessas últimas semanas, mesmo fora do Brasil, acompanhei essa espetacular mobilização brasileira por causas diversas, mostrando que o povo acordou de sua inércia e procurou conscientizar-se dos problemas do Estado brasileiro e de seu poder como cidadão.
A despeito da revolução social que isso seja, que merece profunda reflexão sobre os novos paradigmas ideológicos, de articulação social, liderança política e outras questões para os sociólogos nos explicarem, vejo microrrevoluções, com interferências também possíveis, no contexto de toda a nossa sociedade.
Vejo oportunidades de profundo engajamento, exercício de emoções positivas e reflexões sobre a vida que cada uma dessas pessoas que se manifesta por uma causa social, quer para si. Um caminho trilhado para quem, enxergando sua existência a partir dessa perspectiva, está disposto a empregar o melhor de si em benefício não só de si, mas de outras pessoas. Vejo aí o altruísmo, a justiça em prática, as forças pessoais em ação sob o guarda-chuva das virtudes intrínsecas elencadas como universais a partir de extensa pesquisa da Psicologia Positiva (PP).
Vejo ainda uma grande brecha para repensarmos o Estado, em suas divisões essenciais, como instituição positiva, que considere prioritariamente o bem-estar de seus cidadãos, inclusive o subjetivo, fora, hoje, das pautas públicas brasileiras, mas evidente em iniciativas privadas e em políticas pelo mundo afora. A pergunta assim se estende do que é requerido para si, para o que é que queremos para nossa sociedade?
Então, relembro informações que já dei neste espaço, sobre o exemplo dado pelo FIB (índice de Felicidade Interna Bruta) criado pelo Butão. O índice considera a riqueza do povo desse país não só pelo reconhecido Produto Interno Bruto, o PIB, ou pelo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). Considera, ainda, para além do poder econômico do país, do bem-estar social com seus quesitos tradicionais de subsistência cumpridos, o bem-estar psicológico dos cidadãos, identificando demandas nesse sentido, a pautar políticas públicas em completa convergência com o que se prega em Psicologia Positiva.
Estou certa de que o que se reivindica hoje nas ruas do Brasil, muito embora estejamos longe do bem-estar tradicionalmente reivindicado e cuja responsabilidade é atribuída ao Estado, não são só os 20 centavos. Nem é só o fim da corrupção, a saúde de melhor qualidade, a CPI dos estádios. Até em sua “faísca” de origem, o Movimento Passe Livre, o que se vê são outras reivindicações. O grupo que quer baixar as tarifas de ônibus, também quer acesso livre às cidades e tudo de bom que ela proporciona – e o que é isso senão muito mais do que a clara mensagem de que a “a gente não quer só comida…”?
Sim, queremos uma sociedade não só justa, mas feliz e isso dependerá, e muito, de como promoveremos e usaremos nossas forças e virtudes em nossa casa, nossa vida e, consequentemente, na esfera social.