por Thaís Petroff
Relacionamentos humanos são fonte de muito bem-estar e alegria, mas também de desconforto, chateação e sofrimento.
Isso ocorre porque são dois seres, cada qual com suas fragilidades, projeções, histórias de vida… interagindo e muitas vezes misturando o que é de um e de outro.
Há questões que são nossas e há questões que são dos outros.
Assim, precisamos aprender a separar para que isso não contamine ou atrapalhe as interações que estabelecemos.
Quando não temos consciência do que é nosso e o que é do outro, passamos a fazer uma confusão, pois podemos enxergar no comportamento do outro conteúdos (que dizem respeito a nós) e passar a criar situações que, a priori, nem deveriam estar presentes.
Recentemente ocorreu comigo o seguinte: ao contar a uma pessoa próxima os planos que tenho para fazer uma viagem, ela disse:
– Você não tem medo de passar mal com a alimentação de lá? Você precisa ver isso antes de ir para lá.
Ouvi o que ela tinha a dizer e disse que compreendia sua preocupação e a levaria em conta. No entanto, disse que essa atitude me deixava triste, pois esperava que ela ressaltasse as partes boas do meu intento ou demonstrasse alegria por eu poder realizar esse desejo.
Em resposta à minha fala, ouvi que havia alegria, mas que ela não poderia deixar de me alertar sobre o que percebia de perigoso, caso contrário, estaria se omitindo e que não poderia me deixar fazer algo que posteriormente me fizesse sofrer. Houve então um silêncio sepulcral.
Utilizo esse exemplo para demonstrar como em uma breve conversa há inúmeros elementos que demonstram os conteúdos de cada pessoa envolvida na interação e que, ao serem misturados, criam um problema e/ou um mal-estar.
Eu com minha expectativa de ser reforçada na minha escolha sobre a viagem, senti frustração por falta de estímulo. A pessoa envolvida com sua crença de que o mundo é um lugar perigoso, ativada com a notícia que dei e, com seus pensamentos automáticos de que coisas ruins poderiam acontecer, disse que preciso ficar alerta para evitar que as coisas deem errado.
Na interação dessas duas pessoas contaminadas por seus conteúdos resulta uma chateação mútua e está feito o estrago momentâneo.
Se as pessoas não puderem se afastar um pouco da situação e de suas emoções, ficarão alimentando a percepção de que o outro não a compreende e isso gerará mais afastamento e mal-estar.
Se, pelo contrário, é possível se colocar um pouco na posição de observador e perceber, com menos envolvimento emocional, que o que houve foi um choque de conteúdos e não de pessoas, isso pode mudar grandemente o desfecho.
O que quero dizer é: se ambas as pessoas compartilharem seu ponto de vista e demonstrarem bem como receber afeto da maneira como sabem fazer, não haverá desgosto entre elas.
Quando olhamos a situação com um pouco mais de distanciamento, percebemos o quanto muitas vezes não há necessariamente o certo e o errado, mas sim pontos de vista que são contrários ou pelo menos não se encaixam.
Se pudermos nos desapegar um pouco de nosso desejo de estarmos certos, teremos a oportunidade de enxergar que são as minhas questões e as questões da pessoa que levam a um conflito e não necessariamente as pessoas em si. Desse modo é possível relativizar um pouco mais as coisas, bem como criar estratégias de como lidar com a situação de modo mais eficaz.