por Jocelem Salgado
Dentre os inúmeros minerais presente no nosso organismo o ferro é considerado um dos principais. É responsável pelo transporte do oxigênio nas hemácias, que é fundamental na produção da energia corporal.
Na dieta ocidental o ferro é abundante. Pessoas que se alimentam de forma adequada não têm deficiência de ferro.
Existe uma grande preocupação sobre a ingestão de ferro em países pobres e no Brasil, pois esse é deficiente em parte dessa população que tem como consequência a anemia ferropriva. Essa falta de ferro é ruim para o organismo, em algumas pessoas o seu excesso leva a problemas sérios de saúde.
Entenda a hemocromatose
Hemocromatose é uma doença na qual ocorre depósito excessivo de ferro nos tecidos. Normalmente o ferro é ingerido através da alimentação e sua absorção se dá no intestino, sendo que quando o seu depósito está adequado, automaticamente a sua absorção pelo intestino diminui para evitar acúmulo.
Em casos de hemocromatose o mecanismo que regula a absorção de ferro está alterado, e o organismo continua absorvendo o ferro independentemente dos depósitos e com isso leva ao excesso progressivo desse mineral no organismo (sobrecarga).
O fígado, o pâncreas, o coração e a hipófise são os principais locais de depósito e que podem perder, progressivamente, suas funções. A hemocromatose pode ser hereditária, quando é causada por uma anomalia genética, ou secundária, quando é provocada por outra doença.
A origem da disfunção é um defeito no braço curto do cromossomo 6, porém fatores ambientais colaboram para que a patologia seja desencadeada. A doença não tem cura, mas tem tratamento. A combinação adequada dos alimentos, que contribuem para a redução da absorção do ferro associado às flebotomias periódicas (retiradas de sangue) contribui para a melhor qualidade de vida do paciente evitando ou retardando as consequências mais graves da doença.
A hemocromatose hereditária (HH), descrita inicialmente por Von Recklinghausen em 1889, é a mais comum doença genética, hereditária, alcançando uma em 200 pessoas descendentes de nórdicos ou celtas, na maioria dos casos. Como já dito anteriormente trata-se de uma prediposição para a absorção excessiva de ferro na alimentação, que leva ao seu acúmulo pela falta de um mecanismo eficiente no ser humano para a sua eliminação.
• A absorção normal de ferro em um adulto normal é da ordem de 1 mg por dia. Nessa doença pode ser absorvido até 4 mg.
• A quantidade total de ferro do corpo está em torno de 3g a 4g. Nas formas avançadas da doença, pode passar de 20g.
A doença é causada principalmente por dois genes mutantes – C282y e H63d – que foram mapeados em 1996. No entanto, muitos portadores de hemocromatose com recorrência familiar não são portadores de nenhum desses genes, o que indica que há outras mutações ainda desconhecidas.
Sintomas
Entre os sintomas iniciais da patologia estão a fadiga, fraqueza, dor abdominal, perda de peso, amenorreia (ausência de menstruações), dor nas juntas, insuficiência hepática (por cirrose e/ou carcinoma hepatocelular: tumor malígno no fígado), sintomas do diabetes, perda da libido, insuficiência e arritmia cardíacas.
Geralmente os sintomas se manifestam a partir dos 40 anos de idade e a doença acomete mais homens que mulheres, pois essas têm a proteção da menstruação, com eliminação mensal de ferro e da gestação e parto, onde também ocorrem perdas.
Tratamento
O tratamento mais comum se baseia na retirada do excesso de ferro, por flebotomia ou seja uma sangria terapêutica, como uma doação de sangue, com a diferença de que o sangue é descartado após a coleta e/ou em uso de agentes sequestrantes de ferro, como a deferoxamina, sendo o uso dessa medicação reservado aos individuos com contraindicação à flebotomia, como os portadores de anemias. Coforme citações, são realizadas retiradas periódicas, em duas etapas: a primeira, com períodos pequenos, de uma a duas vezes por semana. Na segunda, aumenta-se o período entre as coletas de acordo com a melhora do paciente.
O tratamento é eficaz desde que não haja danos definitivos, como uma cirrose. Segundo especialistas é possível conviver tranquilamente com o problema, bastando fazer o controle com exames de sangue periódicos. Atualmente temos informação de que Hospital Einstein dispõe de um exame específico para o controle de ferro nos órgãos. Trata-se de uma ressonância magnética desenvolvida para esse fim. Segundo o hospital, essa metodologia já ultrapassou a fase de pesquisa e já possui dados validados que garantem resultados mais confiáveis. O objetivo é avaliar os principais órgãos que estocam ferro, como fígado e pâncreas, e observar o grau de comprometimento causado pelo mineral.
Prognóstico
Com um diagnóstico precoce, pode-se evitar danos aos tecidos de diversos órgãos com a retirada do ferro em excesso. No caso da hemocromatose hereditária, como as manifestações de sintomas são bastante difusas e relacionadas a diversas enfermidades, em muitos casos o diagnóstico ocorre por pura sorte, no momento de um check-up geral, ao se observar pequenas mudanças em exames de sangue.
O papel da alimentação
Os indivíduos portadores de hemocromatose devem consumir alimentos que promovam a redução da oferta de ferro, ou dar preferência à combinação de alimentos que reduzam sua absorção, bem como a utilização de alimentos que tenham poder antioxidante, a fim de reduzir os efeitos adversos do excesso de ferro ao organismo.
Para reduzir os efeitos nocivos de excesso do metal no organismo, ingerir alimentos ricos em nutrientes com função antioxidante, tais como: vitamina C (porém não na mesma refeição que contém alimentos fontes de ferro), vitamina E, carotenoides, polifenois, flavonoides e selênio.
Habituar-se a consultar os rótulos dos alimentos, evitando o consumo excessivo de ferro.
Dieta e cuidados para o portador de hemocromatose
. Diminua o consumo de carnes vermelhas, pois elas contêm a forma de ferro com maior facilidade de absorção, chamada ferro heme.
. Evite comida com alto teor de gordura animal, pois gordura animal e ferro associados podem degenerar os radicais livres causando destruição de
radicais livres e danos gerais.
. Evite ingestão de vitamina C principalmente junto às refeições, pois a vitamina C aumenta a absorção do ferro contido nos alimentos.
. Cozinhe em utensílios de cerâmica ou vidro sempre que possível, pois as panelas de metal podem soltar partículas no alimento.
. Evite ingerir bebidas alcoólicas, pois o álcool aumenta a fixação do ferro no organismo, danifica o fígado e, caso exista cirrose, evite completamente.
. Evite temperar saladas com limão.
. Evite alimentos muito açucarados, pois o açúcar também aumenta a absorção do ferro.
. Evite também fontes alimentares de vitamina A, betacaroteno, vitamina B12, ácido fólico e outros ácidos orgânicos e riboflavina, pois estes nutrientes participam da hematopoiese (formação de células sanguínea).
. Coma muitas frutas e verduras, pois esses alimentos contêm fibras e antioxidantes, que iníbem a produção de radicais livres.
OBS.: frutas e vegetais contém ferro não heme que não é facilmente absorvido pelo organismo. Além disso, a absorção do ferro não heme pode ser diminuída
quando os alimentos são ingeridos associados com chás, café, ovos, fibras ou suplementos de cálcio.
. Coma castanhas, uva-passa, arroz e amendoim, pois esses alimentos são ricos em fibras e em ferro não-heme.
. Consuma alimentos ricos em cálcio junto às refeições com maior oferta de ferro, pois o cálcio reduz a absorção do ferro.
. Evite peixes, ostras e alimentos marinhos crus, pois eles contêm a bactéria Vibrio Vulnificus, que pode ser fatal para pessoas com níveis altos de ferro.
Além disso, tome cuidado ao caminhar descalço pela praia para não se machucar em conchas contaminadas.
. Beba chás ou café com as refeições sempre que possível (não recomendado para pessoas com danos no fígado), pois essas bebidas contêm tanino que
inibe a absorção do ferro.
. Habitue-se a consultar os rótulos dos alimentos, evitando o consumo excessivo de ferro.