por Antônio Carlos Amador
Ao nascer a criança se encontra num estado de total dependência da mãe. Durante todo o período da infância é a mãe quem providencia a satisfação de todas as suas necessidades. Ela alimenta a criança, lhe dá banho, acalma-a e é fonte incessante de calor afetivo, absolutamente necessário para aquela sensação de segurança, que é fundamental a um crescimento saudável e tranquilo.
Os psicólogos consideram a mãe, provedora de tudo isso, como a primeira figura de apego para a criança, instaurando-se uma relação afetiva primordial e privilegiada.
A relação de apego à mãe, o modo como ela se desenvolve, constitui o modelo ao qual toda a vida futura, consciente ou inconsciente, se referirá. Sabemos que a ausência da figura materna ou de alguém que a substitua sempre cria ansiedade e mau humor na criança pequena. Mas, à medida que ela vai crescendo, consegue suportar melhor uma separação momentânea da figura de apego, porque a experiência já lhe ensinou que uma ausência momentânea não significa abandono, e que, se a mãe se vai por um instante, é para reaparecer mais tarde.
Na adolescência o horizonte afetivo se alarga para além da família e a necessidade de apego se transfere, parcialmente dos pais para o(a) amigo(a) preferido(a) ou para o grupo de amigos. Apesar disso, os pais continuam a ser figuras importantes, que garantem um ambiente de amor e segurança. A efetiva possibilidade do jovem dar os primeiros passos em direção à própria autonomia depende dessa segurança afetiva que ele parece “deixar” para trás, mas que na verdade traz dentro de si. Vez por outra passa por separações momentâneas dos pais e sai em busca de seu próprio caminho.
Durante um bom tempo é importante e mesmo necessário que os pais estejam sempre afetivamente acessíveis e disponíveis, pois a dependência deles não é mais total como antes, mas persiste até que todas as etapas essenciais do desenvolvimento sejam superadas.
No início da idade adulta e durante a passagem da adolescência para esta a atenção se volta mais radicalmente para o exterior, numa substituição quase definitiva do objeto de apego, que passa a se identificar com a pessoa que represente a possibilidade de satisfazer as próprias necessidades afetivas e sexuais, e com a qual eventualmente também seja possível partilhar um momento posterior de desenvolvimento em direção a uma identidade mais definitiva.
O jovem adulto experimenta o amor como um sentimento que envolve um conjunto de considerações positivas: se o(a) companheiro(a) responde às próprias necessidades afetivas, sexuais e existenciais; se fica feliz quando o(a) companheiro(a) está feliz e sofre quando ele(a) sofre, criando um sentido de solidariedade que alimenta uma necessidade de dependência mútua. Quando se vive junto a alguém que “se empenha” em amar, cria-se um clima de serenidade que atenua a própria ansiedade que se traz internamente. Também é importante um(a) companheiro(a) com capacidades e qualidades que sejam complementares.
Apenas um desses elementos, alguns deles, ou todos juntos produzem aquele vínculo que conhecemos quando crianças e que chamamos “vínculo afetivo de apego”. Trata-se agora de uma espécie de fusão da qual deriva a necessidade de ficar juntos, um sentimento tal que, se o outro de alguma forma desaparecer da nossa vida, nos sentiremos sozinhos e perdidos.
O casamento, como resultado da união de um casal que quer se estabilizar, garante, por assim dizer, um caráter de permanência à figura de apego. Desse modo ele se transforma também em um meio para afastar o medo difuso de perder o objeto do próprio apego. Com o casamento, o vínculo afetivo é legalizado publicamente pela instituição civil.
O casamento pode ter uma função de inibidor psicológico das ansiedades individuais e de grande ordenador social. Essa função se desenvolve em vários planos: alívio do peso material da vida por meio de uma repartição de encargos de subsistência entre os cônjuges; definição social do indivíduo e, consequentemente, maior definição de sua identidade pessoal; criação de uma ordem social que tutele e garanta a reprodução da espécie.