por Patricia Gebrim
Preconceitos… Todos sabemos, ao menos racionalmente, que atitudes preconceituosas fazem mal. Não só à vítima do preconceito, mas também à sociedade como um todo e a nós mesmos. Ainda assim, ainda nos dias de hoje, como andam “vivas” tais atitudes. Mais camufladas, mais escondidas (afinal não é considerado “bacana” ser preconceituoso), no entanto ainda tão vivas.
Mesmo as pessoas que se consideram não preconceituosas, se fizerem uma busca cuidadosa em seu íntimo, encontrarão sinais de que, em algum nível, como em todos os outros, se esconde dentro delas essa raiz, mesmo que não seja percebida do lado de fora da terra .
Como ainda julgamos e atacamos tudo o que consideramos diferente… mas eu sei que você já sabe de tudo isso!
Hoje em dia pessoas consideradas mais bonitas ainda se saem melhor ao procurar um emprego, pessoas mais gordas ou magras são vítimas de piadinhas inadequadas, mulheres ganham menos do que os homens em cargos de igual responsabilidade. Eu poderia ainda falar sobre as atitudes preconceituosas contra a homossexualidade, sobre as questões raciais… e não pára por aí. Basta não se “enquadrar” para estar na mira do preconceito. Se uma pessoa se veste de maneira “alternativa” é chamada de “bicho grilo“ , termo tão preconceituoso quanto “patricinha” ou “perua“. O julgamento está por toda a parte!
Por que é tão difícil permitir que cada um seja como é? Por que nos incomodamos tanto?
Minha intenção é pensar nas raízes de nossas atitudes preconceituosas. Minha intenção é, por alguns instantes, ser capaz de desviar o foco que direcionamos ao mundo, voltando-o para nós mesmos.
Em primeiro lugar precisamos compreender um pouco mais a força da nossa separatividade. Ainda não percebemos, grupalmente, que somos como as células de um corpo humano, todas igualmente necessárias para que exista saúde e um bom funcionamento desse organismo. Será o pulmão superior ao fígado? Será a perna superior à mão?
Já sei! Faça um exercício comigo… Imagine que os tempos atuais, com suas atitudes preconceituosas, possam ser representados em seu corpo. Como seria um corpo preconceituoso?
Provavelmente a sua mão estaria derrubando óleo quente sobre o seu pé, justificando isso ao dizer que afinal o pé é “sujo“, “inferior”, fica em contato com o chão e às vezes não cheira lá muito bem. O seu coração deixaria de bombear sangue ao seu fígado pois diria que o fígado tem uma forma estranha, não é nobre, não sendo merecedor de receber esse rico alimento bombeado pelo “superior” centro cardíaco. O seu cérebro, por sua vez, estaria elaborando um plano para desarticular o seu coração, considerado emocional demais para ter tanto poder.
Você terminaria com o pé queimado, o fígado comprometido e sem coração.
Isso faz sentido?
E se não faz, eu me pergunto novamente, por que ainda não paramos de recriar isso?
Porque estamos absolutamente cegos a nosso próprio respeito.
Não importa quais sejam as nossas fraquezas ou deficiências, somos únicos, maravilhosos e absolutamente necessários ao todo sendo exatamente como somos. Ah… Se pudéssemos aceitar os nossos defeitos… Mas ainda não podemos. E quanto mais rejeitamos em nós as partes que consideramos feias ou inadequadas, quanto mais nos julgamos, mais fazemos isso com os outros também.
Por sermos incapazes de suportar as nossas falhas, precisamos desesperadamente acreditar que elas estão fora de nós.
Ah, que conforto… assim projetamos nos outros o que tanto nos angustia. Como se disséssemos: “EU” não tenho defeitos… O “MUNDO” é que é cheio de pessoas erradas! Então escolhemos pessoas a quem acusar de imperfeitas. Feias, gordas, magras, altas, baixas, negras, gays, pobres, ricas, estranhas, “nerds… seja lá o que for.
Tudo isso para nos proteger da dor de perceber que a imperfeição está em cada um de nós.
Nós ainda não somos capazes de abraçar a inteireza de nosso ser. Ainda nos separamos de partes de nós. Ainda queremos nos dividir pela metade. Uma metade é desejada. A outra é abominada. A metade desejada é linda, generosa, inteligente, perfeita, tem cabelos lisos e dentes brilhantes. A outra metade é tão feia que não a suportamos e, sem pudor, tentamos jogá-la fora. A amassamos bem, como se não nos pertencesse e a jogamos sobre as pessoas a quem destinamos nossas atitudes preconceituosas. E passamos a abominar as pessoas.
Quanto mais forte for o preconceito em você, maior a sua dificuldade em aceitar as próprias falhas.
A intensidade com a qual você se sente incomodado pelo outro revela o quanto você ainda se incomoda com você mesmo.
Preconceito é desamor. Não falo só da óbvia falta de amor pelo outro, mas principalmente da falta de amor por nós mesmos. Se você se amasse de verdade, ninguém no mundo iria incomodá-lo, acredite.
Eu sou imperfeita.Você também. Somos todos. Aceite isso.
Não se separe de você mesmo, não importa o quanto isso seja difícil. No meu entender, esse é o único caminho sólido para a transformação da questão dos preconceitos em nossa sociedade. E depende de cada um de nós.