por Carminha Levy
Os ciganos são os últimos “homens livres” e por isso mesmo devem ser honrados pela sua integridade e coragem. Toda sabedoria cigana se baseia na tradição oral e sua herança ancestral foi pouco a pouco sendo reprimida sobre a pressão dos “gadjés” – os não ciganos.
Os detentores da cultura cigana, os “kakus”, mantêm hoje em segredo seus ensinamentos. Eles nascem com uma marca no corpo que indica a sua origem de adivinho e a sua tribo passa a ser a provedora total daquela criança que futuramente será o curador da tribo.
Durante a 2ª guerra mundial os nazistas dizimaram quase tantos ciganos quanto os judeus, mas infelizmente a história não dá foco necessário a esse tipo de holocausto, que não ficou confinado a campos de concentração, mas que brutalmente aconteceu em cada sítio ou carroça cigana, que percorriam as estradas da Europa.
Desse grande universo e por não ter seus ensinamentos escritos, chegaram até nós apenas alguns conhecimentos que Pierre Derlon nos traz no seu livro “Tradições Ocultas dos Ciganos”, do qual retirei alguns elementos básicos. O principal desses é o conhecimento sobre quem são os kakus. Eles desenvolvem com muita disciplina e austeridade percepções extrassensoriais com as quais já nascem. Os bizarros poderes dos kakus fazem parte do ramo da medicina que tem mais ou menos algo a ver com a homeopatia, medicina psicossomática e pura e simplesmente com a feitiçaria.
Seus métodos terapêuticos combinam sugestões psicológicas, técnicas de hipnose e a faculdade do olhar. Esse poder servirá a finalidades defensivas ou mesmo agressivas porém, frequentemente, é utilizado pelos kakus para apaziguar ou incutir confiança no próximo, por exemplo: com a força do olhar dirigido à face e aos olhos de alguém que o kaku sinta que está em dificuldade (sentimento que é captado telepaticamente e que pode ser percebido em qualquer tipo de ambiente).
O autor do livro acima citado, que recebeu a missão de preservar esses conhecimentos, conta que numa hospedaria a qual ele estava, percebeu uma mãe que tentava fazer seu filho tomar uma xícara de chocolate. Ela chorava copiosamente. Ele sente uma urgência muito grande e a presença da morte. Num relance percebeu que aquela mãe desesperada pretendia se suicidar.
Ele levanta vai até ela e com seu olhar prendendo o dela, ele fala: “Não estais mais sozinha, estou aqui e olhei para ti e tu estais bem.”
A fisionomia da jovem se transformou e ela diz “eu estou bem” como se estivesse hipnotizada. Ele volta a falar: “A tua vida pertence a esse menino e tu viverás”. A jovem falou: eu viverei, porque a minha vida pertence a meu menino.
Sob esse encantamento um suicídio foi impedido.
A leitura das linhas das mãos são outros instrumentos essencialmente ciganos. Os dedos tomados isoladamente simbolizam os astros. O polegar corresponde ao sol, o dedo indicador à lua crescente, o médio à lua cheia, o anular a lua minguante e o dedo mínimo ao planeta Vênus.
A fauna e a flora são usadas como também talismã e joias.
Mas o mais importante ensinamento que iremos conhecer é o culto a Sara, a Kali ou Sara a negra, cuja festa é sempre celebrada no dia 25 de maio. Este será o tema do nosso próximo encontro.