Viver é fazer escolhas e nossas escolhas acabam por pautar a nossa história pessoal. Ao escolher, necessariamente optamos por algo em detrimento de um outro algo. No fim ganhamos fatos reais e perdemos possibilidades virtuais ao fazer qualquer escolha na vida.
A medicina moderna deu a mulher o domínio consciente sobre seus “ovários”, ou seja, o controle da natalidade. Desta forma a mulher pode escolher quando ou se terá filhos. Mais ainda, a ultra-sonografia e a análise do líquido amniótico abriram a possibilidade das mulheres passarem anos no exercício de uma carreira profissional e terem a perspectiva de dar a luz a bebês saudáveis.
Ao simplificarem a maternidade, as novas tecnologias da medicina trouxeram à tona, tensões por baixo do superficial véu que encobria os pressupostos tradicionais, sobre o que deviam ser as mães.
Instinto maternal
No ocidente até hoje prevalece a crença em que as mães criam e executam instintivamente o desenvolvimento de seus filhos. Será o instinto de criação algo nato numa mãe? Hoje sabemos que as mães não manifestam um compromisso automático e total com seus bebês, imediatamente após o parto (instinto maternal). Pelo contrário, a psicologia evolutiva afirma que o “instinto maternal” desenvolve-se gradualmente num processo que tem participação ativa dos bebês, o processo de reconhecer seu bebê, conhecer seu cheiro, o início da lactação, alteram o estado fisiológico da mãe. Em poucos dias após o parto, ocorre um relacionamento emergente de intimidade entre mãe e bebê, que dará origem ao chamado “instinto maternal”.
Se ser mãe é uma escolha para a mulher moderna, então o que determina uma mulher optar pela maternidade, e outra não, mais ainda qual o momento que ela toma essa decisão aos 20, 30, 40 ou 50 anos?
Dizem que somos nossa personalidade e esta por sua vez pode ser resumida pelo somatório de nossa herança biológica e de todas as nossas escolhas vivenciadas. Logo o que determina a escolha pela maternidade é a personalidade de cada mulher.
Tipos de personalidade e a maternidade
Em relação à maternidade costumo definir tipos de personalidade feminina; baseado em minha prática clínica:
1) Compulsiva: Este tipo de mulher tem como característica marcante a busca do “prazer” seja ele das mais diversas formas. Este tipo de mulher possui um perfil social “testosterônico”, ou seja, necessitam do prazer que só a realização pessoal/profissional pode oferecer. Elas tendem a pensar na maternidade mais tarde na vida e em muitas vezes chegam a uma determinada idade e optam pela maternidade como um complemento da vida e nunca como o motivo desta.
No passado estas mulheres, por falta de possibilidades de realização profissional, tornavam-se mães que lidavam mal com a renúncia de seus prazeres. Eram as típicas mulheres que depois de casadas e com filhos iniciavam um processo crescente de adoecimento somático. Atualmente, muitas dessas mulheres de perfil compulsivo optam pela não maternidade como um estilo de vida que algumas definem como “maternidade social” através de projetos profissionais que possuam também responsabilidade social e com o meio ambiente.
2) Perfeccionista: A mulher perfeccionista pensa na maternidade como um componente de sua ideologia de felicidade. Ela tende a ser mãe mais tarde, pois primeiro ela tem que reunir os atributos essenciais para ser uma mãe dedicada e feliz. Estes atributos geralmente são: uma certa estabilidade financeira e um parceiro que ela julgue que será um bom pai para seus filhos.
3) Sonhadora/Romântica: Este tipo de mulher tem a maternidade como o grande símbolo do seu amor pelo parceiro e como a grande motivação de realização pessoal. A romântica tende a ser mãe cedo e busca a realização profissional mais tarde motivada quase sempre em poder ser um bom exemplo para seus filhos.
4) Abnegada: Este tipo de mulher tem na maternidade a sua realização total. Sua vida só tem sentido se ela viver para servir de estrutura para a realização pessoal dos que ama. A abnegada pode até optar por ser mãe solteira e toma para si toda a responsabilidade da criação da prole.
5) Cética: Este tipo de mulher tende a negar seu desejo de ser mãe e pode acabar fazendo isto mais tarde na vida, quase sempre num ato de arrependimento. A cética, no fundo tem medo de não conseguir realizar seu sonho de se casar e ter filhos. Geralmente custa muito a acreditar no amor dos outros. Quando ela consegue enfrentar o medo costuma ser uma mãe dedicada e feliz, colocando sua realização pessoal/ profissional em segundo plano.
6) Parceira: Tem na vida a dois o grande motivo de sua realização pessoal. Tende a procurar homens com quais tem grandes afinidades intelectuais, éticas, de lazer, etc. Costumam optar pela pela maternidade ou não-maternidade por se sentirem completas com o parceiro, com quem tendem a ter uma relação estável e duradoura.
Como em toda classificação existente, as pessoas poderão encontrar simultaneidade e permutabilidade entre os tipos de personalidades apresentados. Por isso ressalto, deve-se optar pela avaliação das principais características em um dado momento da vida. O prioritário realmente é conhecer e entender a sua própria personalidade.
É importante a mulher aceitar o seu modo de ser e acreditar sinceramente em seus talentos, só o autoconhecimento será capaz de trazer a realização pessoal/profissional, seja ela com filhos e/ou sem filhos. E para tanto, a mulher persistir nessa empreitada com a curiosidade da criança e a paixão do adolescente; a determinação do adulto e a confiança serena da maturidade.
Fonte: Dra. Ana Beatriz Silva é psiquiatra