Por Marta Relvas
O adolescente não só convive com aspectos sociais, ele também tem uma explosão de fatores intrínsecos que perpassam por sua biologia orgânica e pelos seus processos psíquicos emocionais, devido a uma avalanche de hormônios que buscam uma homeostase constante interna do corpo. Por uma série de questões e incompreensões, que provocam alterações comportamentais, o adolescente precisa de escuta e orientação.
Temos que ter cuidados com os estereótipos construídos para os adolescentes. Estereotipação é uma generalização que reflete impressões e crenças a respeito de uma categoria ampla de pessoas. Todos os estereótipos carregam uma imagem de como é um membro típico de um grupo específico.
Depois de atribuído um estereótipo, é difícil abandoná-lo, mesmo diante de evidências contraditórias. Por exemplo, sobre os adolescentes se diz:
– Querem um emprego, mas não querem trabalhar.
– São todos preguiçosos e só pensam em sexo.
O problema de hoje é que os adolescentes ganham tudo com muita facilidade, Eles são autocentrados. Na verdade, durante a maior parte do século XX e o início do século XXI, os adolescentes têm sido retratados como anormais ou desviantes.
Adolescência: ganhos positivos
Atualmente novas interpretações sobre a adolescência vêm sendo repensadas, como ganho positivo dessa fase e desenvolvimento como:
Competência, que envolve a percepção positiva das próprias ações em áreas de domínio específico – social, acadêmico, físico, carreira etc.
Confiança, que consiste em ter uma noção positiva global de autoestima e autenticidade e eficácia.
Conexão, que caracteriza-se pelas relações com a família, pais, escolas, comunidade.
Caráter, que é o respeito pelo outro nas regras sociais, integridade do certo ou errado.
Compaixão, ou seja, inteligência emocional ao se colocar no lugar do sofrimento da outra pessoa.
Importante destacar alguns aspectos biológicos que justificam cientificamente o comportamento do adolescente.
O cérebro do adolescente ainda não está totalmente desenvolvido nessa fase, pois, a teia neuronal precisa ser fortalecida, e as conexões aumentam pelos processos da aprendizagem cognitiva, emocional, social. Durante esta etapa da vida, o sistema nervoso passa por uma reorganização, pelo qual sofre perdas ou podas neurais e que, em alguns organismos, alcançam seu ápice de maturação.
O desenvolvimento cerebral tem dos grandes princípios: a produção de neurônios e conexões nervosas, e logo depois o remodelamento dos sistema nervoso central. Até a puberdade milhões de novas sinapses ocorrem, durante a adolescência e alguns neurônios são desativados, sendo outros fortalecidos, podendo essa fase ser denominada de poda neural, ou seja, o que não é usado é descartado. Esse processo ocorre para que haja um refinamento das estruturas e funções cerebrais, podendo muitas vezes influenciar o comportamento juvenil.
Constata-se que até o período da puberdade a substância cinzenta é formada por uma grande quantidade de corpos celulares de neurônios distribuídos na superfície dos hemisférios cerebrais e do cerebelo envolvidos no controle muscular, percepção sensorial, visão, audição, memória, emoção, fala. Nesta fase essa substância diminui, enquanto acontece o contínuo aumento de substância branca subcortical, que é formada de prolongamentos de neurônios, os axônios.
O aumento em volume da substância branca ao longo da infância e da adolescência corresponde ao espessamento das fibras nervosas, resultante da mielinização que isola eletricamente os axônios, permitindo que os impulsos sejam mais rápidos. A formação de mielina funciona como fixador das conexões neurais.
No desenvolvimento embrionário o cérebro desenvolve-se de baixo para cima em camadas intrincadas de neurônios, e nas laterais da parte mais inferior para a superior, fixando-se através da região denominada aderência intertalâmica, no corpo caloso, que une os hemisférios direito e esquerdo.
O córtex do lobo frontal é a última grande divisão do cérebro a “amadurecer” (por volta dos 30 anos) em estrutura, funções cognitivas e emocionais mais elaboradas ligadas a planejamento, representações mentais, raciocínio lógico e produção da fala. Ele também é responsável pela inibição de impulsos e utilização da aprendizagem do passado para aplicar em situações atuais ou criar estratégias futuras.
Essa estrutura cerebral é responsável pelo desenvolvimento psicossocial, e durante a adolescência é mais bem compreendida como a região da busca do autoconhecimento, de respostas às perguntas “Quem sou eu?”. As mudanças que ocorrem durante os anos da adolescência, o surto de crescimento, o despertar sexual, o ingresso para uma escola maior e impessoal, mais amizades íntimas e a aceitação de riscos, tudo desfia o adolescente a encontrar sua “identidade”, ou seja, sua autodefinição a estabelecer a integridade da personalidade. Ou seja, alinhar as emoções, o pensamento e o comportamento para que mantenham a consistência quaisquer que sejam o lugar, o momento, as circunstância e o relacionamento social.
O córtex do lobo parietal é uma das primeiras regiões corticais a iniciar o processo de amadurecimento, atingindo o seu volume máximo nos meninos aos 12 anos e meninas aos 10 anos de idade, período esse onde ocorrem as maiores transformações da puberdade.
A partir dai, começa-se o refinamento sensório motor, proporções corporais o que impacta na autoimagem.
O córtex do lobo temporal durante a adolescência, mesmo que o cérebro já tenha chegado às suas dimensões adultas, ainda se podem observar variações progressivas, mielinização, e regressivos processos sinápticos. O lobo temporal é envolvido nas funções da linguagem, memória e audição, chegando ao ápice da sua expansão durante a adolescência, aos 16 ou 17 anos. Essa área é fundamental para a compreensão da linguagem e para assimilação da memória e o processamento emocional (hipocampo e amigdala cerebral). Um incremento da mielinização dessa área acelera a integração das informações visuais e auditivas que recebe das áreas de percepção primárias e pode melhorar as funções linguísticas, como por exemplo, a leitura.
Importante destacar que no lobo medial do lobo frontal, acharam-se alterações no volume da amigada cerebral, com correlação positiva nas performances de memória e aprendizagem dos adolescentes; essa região também tem uma importância pela participação no sistema límbico e o processamento das emoções, que são centrais no desenvolvimento social e pessoal do adolescente.
Amigdala cerebral é uma estrutura responsável pela formação de estímulos e recompensas, refletindo em nossas expressões. A amigdala nos alerta de algum perigo, esse sentimento que normalmente é chamado de “medo”. Outra função fundamental está ligada ao sistema de recompensa, “conjunto de estruturas no cérebro responsáveis por premiar com prazer ou bem-estar comportamentos que acabaram de se mostrar úteis ou interessantes”.
Química do prazer
No cérebro, o prazer é proporcionado pela molécula dopamina, que é um neurotransmissor. Os adolescentes possuem um terço dos receptores para a dopamina, por isso, precisam de experiências mais intensas, que estimulem mais a liberação da substância, para sentir prazer. Essa mudança, por si só, é a principal responsável pela maioria dos comportamentos típicos do adolescentes, como a busca de novidades, os excessos e o comportamento de risco, que também gera euforia e produção de dopamina. E é nessa fase que ocorre a grande descoberta o “sexo”, cujo o prazer só é possível porque o sistema de recompensa se torna sensível aos hormônios que promovem o prazer sexual. E tudo isso não pode ser considerado ruim, mas um aprendizado com responsabilidade na busca da independência e autonomia. Os cérebros dos adolescentes também apresentam mudanças cognitivas significativas.
Embora o adolescente seja capaz de sentir fortes emoções, seu córtex pré-frontal não se desenvolveu adequadamente até o ponto em que consiga controlar essas paixões. É como se o córtex pré-frontal não tivesse o “freio” necessário para reduzir a intensidade emocional da amígdala cerebral. Uma análise a ser considerada é que o cérebro do adolescente sofre intensa plasticidade neuronal devido às experiências ambientais vividas e que influenciam o seu neurodesenvolvimento.
É no período da adolescência que se aprende a tomar decisões, quais amigos escolher, com que pessoa namorar, fazer sexo ou não, ir para escola ou universidade.
Ser capaz de tomar decisões competentes não garante que os indivíduos façam isso na vida diária, na qual uma série de experiências geralmente entra em cena. A maioria das pessoas tomam melhores decisões quando estão calmas do que quando excitadas emocionalmente, podendo ser uma verdade essa condição para os adolescentes.
Vale a dica: o adolescente precisa de escuta e orientação.