por Renato Miranda
Quando um atleta está totalmente envolvido em sua atividade, com alta motivação intrínseca, não sente o tempo passar e sua concentração é tão intensa que ele não percebe a atividade separada de seu corpo, como se fossem uma mesma coisa, possivelmente o atleta estará fluindo.
Para esse fenômeno mental, um estudioso da Universidade de Chicago chamado Mihalyi Csikszentmihalyi, após várias pesquisas na década de 70, com posteriores publicações nas décadas seguintes, deu o nome de flow-feeling. Traduzido como sentimento de fluidez ou percepção de fluidez, é também conhecido como, fluir fluxo, experiência ótima e experiência máxima, todavia a expressão flow-feeling ficou consagrada no mundo.
No estado do fluir (flow-feeling), a consciência do atleta está totalmente absorvida pela ação que qualquer tipo de outro pensamento ou emoção é totalmente excluído.
Nesses próximos artigos trataremos das características do fluir. Para começar escreverei sobre as seguintes dimensões:
1º) Equilíbrio, desafio e habilidade
No esporte toda atividade deve ser desafiante para o atleta, contudo ele precisa ter potencial para realizá-la com sucesso. Desafios técnicos, táticos, físicos e psicológicos precisam ser incluídos nos treinamentos e competições buscando sempre elevar o nível de desempenho dos atletas. Portanto, o desafio dos treinadores, a fim do atleta fluir, é equacionar o grau de dificuldade da tarefa com a capacidade psicofísica do atleta.
Em outras palavras, é proporcionar atividades que exijam um devido investimento de energia psicofísica e que não poderiam ser realizadas sem as aptidões adequadas. Qualquer atividade contém uma gama de oportunidades de ação ou desafios, que exigem aptidões relativas à sua realização. Para aqueles que não possuem as aptidões devidas, a atividade não é desafiadora; é apenas inexpressiva.
2º) Objetivos claros e feedback imediato
O atleta necessita receber retro informações internas (ex. pensamentos) e/ou externas (ex. informações do técnico) sobre seu rendimento para poder ajustar seus movimentos, ações, metas, intensidades, etc. Em outras palavras, tentar com essas informações atingir o fluir.
É fundamental que o atleta desenvolva a percepção de que suas aptidões são adequadas para lidar com desafios imediatos, para avaliar constantemente seu desempenho. É o caso, por exemplo, de um jogador de voleibol que durante um jogo recepciona a bola depois do saque do adversário e sempre sabe o que fazer: seja passar a bola para o levantador e correr para atacar uma bola rápida, ou passar a bola o mais preciso possível para o levantador jogar com facilidade para o jogador ponta concluir a jogada. Cada vez que ele executa um passe, sabe se o fez bem ou não.
O feedback imediato é um elemento claro para se alcançar o êxito. Atletas que percebem, interpretam e avaliam seus próprios movimentos com tudo aquilo que importa e está em torno da atividade, são capazes de manterem-se concentrados (conectados) com o que estão fazendo e controlar-se em direção aos seus objetivos.
3) Perda da autoconsciência
Quando o atleta passa a vivenciar uma liberação de preocupações sobre ele mesmo, fica estimulado e energizado. Perceber estar bem preparado supera preocupações comuns como “Será que estou bem para competir?” e “O que pensarão de mim se eu for mal?”. Dessa maneira, todo o foco de atenção estará voltado somente para a ação esportiva.
Em outras palavras, quando o atleta flui, ele está absorvido pela atividade. Não há disponibilidade da atenção suficiente para que o atleta leve em conta qualquer outro estímulo temporariamente relevante. Em outras palavras, o atleta perde a percepção da consciência de si mesmo (posição do corpo no espaço se está com fome, se está sujo etc.). Em resumo, toda sua energia é disponibilizada para a ação e, por conseguinte não há espaço para se pensar em mais nada.