por Elisa Kozasa
Em 25 de fevereiro iniciaram-se as festividades do Ano Novo Tibetano. Protestos têm marcado essa festividade em virtude da atual situação em que vive boa parte dos tibetanos que foram aceitos como refugiados em diversos países, e das condições em que vivem aqueles que continuam no Tibet, atualmente parte da China.
Por outro lado, esta data fez-me lembrar da feliz oportunidade que tive e estou tendo de ter contato com um pouco da cultura tibetana e do quanto ela pode contribuir para uma melhor forma de viver.
Quando falamos de Tibet é inevitável nos lembrarmos da figura do Prêmio Nobel da Paz de 1989, Sua Santidade o Dalai Lama com aquelas vestes vermelhas e amarelas de monge. O prêmio Nobel se deve à sua incansável busca pela não-violência para solução dos problemas de sua terra natal. Sua figura é um exemplo de um modo de vida bastante singular. Apesar de todo sofrimento e dificuldades que viveu nos seus mais de 70 anos, ele está sempre bem humorado, e parece controlar seu estresse de modo impressionante.
Ele também é um grande incentivador da ponte entre ciência e espiritualidade, tendo colaborado com inúmeros pesquisadores famosos como Paul Ekman, considerado um dos maiores psicólogos do século 20, Richard Davidson, professor da universidade de Wisconsin, uma das 100 personalidades mais influentes no campo da ciência, de acordo com a revista Time em 2006, dentre outros.
Boa parte dos avanços das pesquisas sobre práticas como a meditação e seus benefícios para a saúde física e mental se deve a seus esforços. Ele pessoalmente solicitou a colaboração de diversos monges como voluntários de pesquisas científicas.
Mas a importância da cultura tibetana não se resume ao Dalai Lama. Qualquer um que tiver a oportunidade de visitar por exemplo, a cidade de Dharamsala na Índia, onde há uma comunidade tibetana expressiva, poderá visitar os locais onde trabalham os artistas. Entre eles o Tibetan Institute of Performing Arts (TIPA), o Norbulingka Institute, onde se fazem as famosas Thangkas tibetanas (imagem ao lado), pinturas que representam divindades de maneira extremamente rica e colorida, e que também podem ser utilizadas em práticas de contemplação.
Outra visita imperdível é o Tibetan Children Village, escola onde estudam crianças e adolescentes, onde a educação não se restringe à sua cultura, mas também se aprende o indi e o inglês. Fiquei impressionada como as crianças demonstram uma alegria espontânea e dedicação aos estudos. Isso mesmo estando longe de seus pais que ficaram no Tibet. Neste sentido, os educadores fazem toda a diferença, estando sempre presentes e preocupados com uma formação num sentido mais completo e não apenas com o aprendizado formal. Ou seja, o indíviduo é preparado para a vida, tendo assim um auxilio digamos… filosófico-ético-existencial, que tem como objetivo o aprimorameno espiritual.
Medicina tibetana: curso pode durar até 20 anos
Em Dharamsala encontra-se o Tibetan Medical and Astrological Institute, local em que são formados os médicos dessa medicina tradicional. O curso básico é de cinco anos, podendo estender-se por até vinte anos. A medicina tibetana é resultado da contribuição das medicinas indiana, chinesa e persa, além de apresentar elementos próprios. Não apenas ocupa-se de tratar doenças, mas principalmente de preveni-las, apresentando recomendações específicas para o estilo de vida e dieta.
As pesquisas sobre a efetividade dessa medicina estão apenas no começo (como ocorre em boa parte das medicinas tradicionais), mas algumas contribuições parecem bastante interessantes no tratamento de doenças crônicas.
Há vários importantes aspectos dessa cultura que podem trazer benefícios para a nossa maneira de viver. Como por exemplo, ênfase à prática do respeito, à espiritualidade e uma visão de saúde mais integral (holística: mente-corpo-espírito) e não apenas orgânica.