por Nicole Witek
David Servan-Schreiber: um cientista rigoroso e determinado Aos 50 anos, morreu em 24 de julho o neuropsiquiatra David Servan-Schreiber. O diagnóstico de tumor no cérebro foi descoberto por ele mesmo em 2003 e tinha uma expectativa de vida de apenas dois anos. Mas David utilizou todos os recursos para afastar a doença, inclusive os alternativos ou complementares que, com um espírito de pesquisador incansável e perfeccionista, foi revelado ao público no best-seller “Curar”. Este livro (foto), um sucesso internacional, foi traduzido em 28 idiomas e teve 1.3 milhões de exemplares vendidos.
Ele defendeu as teses dos mecanismos de autocura e elaborou um método que requer mais da inteligência do corpo do que da inteligência intelectual.
David foi uma voz extraordinária por varias razões:
Era um verdadeiro cientista
Tudo era pesquisado, comprovado, estudado e passado à peneira. Buscava informações nas mais técnicas e especializadas publicações para divulgar outros métodos de cura fora dos caminhos convencionais. Não informava nada sem ter nas mãos todo o respaldo necessário. Seu nível de exigência era fora do comum. Mesmo quando aos 30 anos recebeu o diagnóstico de câncer no cérebro, ou seja, 12 anos antes de diagnosticar o tumor.
Pesquisador excepcional
Nascido numa família de políticos, David resolveu dedicar-se a um novo ramo da ciência: as ciências neuronais. Com o câncer, teve de ser submetido a uma cirurgia no cérebro que o deixou ainda mais sensível, mais capaz de se doar, mais presente e mais atencioso aos pacientes. Sentiu uma empatia e uma compaixão que fizeram dele um médico excepcional.
Graças à doença, encontrou um elo com seus pacientes e explorou o mundo emocional. Os livros “Curar”, em 2003 e “Anticâncer”, em 2007, nasceram dessa busca, mesmo através da sua própria doença. Queria compartilhar, contribuir e dar um sentido ao sofrimento humano.
Medicinas alternativas
Quando as medicinas alternativas começaram a ser pesquisadas, David entrou na esfera das medicinas chamadas “complementares”: yoga, taichi, chigong, meditação, massagens terapêuticas, coerência cardíaca, rituais de cura, como também práticas xamânicas ou amerindianas. Hoje conhecemos bem melhor essas técnicas. Estudos comprovam a sua importância para o tratamento do sofrimento psíquico e físico. Foi necessária uma alma corajosa, forte e lutadora para convencer, dentro do meio científico e hospitalar, da inauguração do primeiro centro hospitalar dedicado a essa abordagem complementar.
Busca de excelência
Depois dos estudos de medicina na França, David foi para os Estados Unidos onde foi nomeado professor assistente de psiquiatria na faculdade de medicina de Pittsburgh. Também liderou a divisão de psiquiatria no Hospital Shadyside dessa Universidade. Nesse contexto de pesquisas neuropsicológicas, estudou os efeitos das medicinas complementares. Sua curiosidade fora de série levou-o à busca da inovação, à exploração de novas sendas.
Própria cobaia
A jornalista Ursula Gauthier do Nouvel Observateur, diz que o câncer “foi uma prova a ser superada e ao mesmo tempo uma oportunidade de explorar a fundo, de descobrir sensações, experiências e ideias desconhecidas”.
É com esse espírito que enfrentou a morte, com serenidade, como se fosse a última oportunidade de viver mais um evento excepcional.
Desejo de compartilhar
Médico e pesquisador, David era consciente do valor da experiência que poderia levar os pacientes em direção à cura e às mudanças na trajetória da doença.
Seu desejo de compartilhar levou-o a usar suas últimas forças depois de uma remissão de 20 anos. Ou seja, ganhou 20 anos de vida gracas às técnicas que ele divulgou, principalmente técnicas de yoga. David transmitiu sua última mensagem, próxima ao espírito do yoga, no seu último livro “Podemos dizer várias vezes adeus”, que diz: "A morte faz parte da vida e todos nós passaremos por esse processo… “Curta agora, faça tudo que for importante para você”.
Eu gostava de usar os artigos de David como fonte de informação, devido ao fato de que a sua visão se aproximava muito da visão do yoga e, sendo médico e pesquisador, ele tinha acesso à informação em primeira mão, até as de vanguarda.
Para mim, ele era um aliado invisível para divulgar ciências complementares, principalmente o yoga e a meditação como recursos para a cura. David permanece esse mesmo aliado… ainda mais sutil e desencarnado. O espírito dele continua através dos livros e dos artigos que podemos encontrar nas mídias, através da divulgação maravilhosa que ele cumpriu.