por Ana Maria Costa
“Era preciso que ela soubesse que seus tremores se davam mediante uma forte ansiedade ao imaginar que as pessoas a julgavam o tempo todo. Esse é o funcionamento dos que sofrem de Ansiedade Social, acreditam que o tempo todo são avaliados por seu desempenho…”
Em 2009, realizava uma pesquisa para uma conhecida Universidade de São Paulo e foi devido a esse trabalho que realizei um atendimento muito interessante.
A Sra. J.L. me foi encaminhada por um médico devido a dores pelo corpo sem um diagnóstico conclusivo.
J. L. tinha 50 anos, era viúva, tinha grau superior e estava aposentada. Sua queixa era de dores pelo corpo, se dizia infeliz, isolada pela família e sem amigos.
Pude notar que enquanto falava comigo apresentava mãos trêmulas. Ela procurava disfarçar isso escondendo-as em baixo da mesa todas as vezes que podia, além de tremer os lábios enquando falava.
Exposição e episódios de angústia
Levantando sua história de vida pude notar que J.L. relatava episódios de muita angústia quando se via diante de situações onde tinha que se expor.
Desde pequena apresentava dificuldades para falar diante dos outros, tanto em sala de aula como em grupo de amigos. Com o decorrer do tempo não suportava essas situações e foi se isolando. Passou a adolescência praticamente sozinha e venceu os trabalhos escolares onde era preciso se apresentar na frente de todos, esquivando-se com as mais diversas desculpas.
Conheceu um rapaz com quem acabou se casando. Porém atribui a esse casamento o fato de ele não a escolher por gostar dela e sim porque ele havia perdido uma aposta tendo como castigo ter que casar-se com ela.
Quando mencionei minha observação sobre os tremores nas mãos, J.L. disse que sofria com isso, não podia segurar copos ou xicaras diante dos outros porque geralmente derrubava o conteúdo. Também comentou que tinha muita tristeza por nunca ter brindado com taças nas festas de final de ano, além de perceber que as crianças da família se assuntavam com esses tremores. Quando mencionei o tremor dos lábios, a paciente demonstrou surpresa, pois desconhecia que fazia isso.
J. L. já havia passando por vários profissionais de saúde sem que nada resolvesse suas queixas. Minha primeira atitude foi solicitar uma avaliação neurológica para afastar causas orgânicas para os tremores. Os resultados foram negativos confirmando que a paciente não sofria de qualquer problema nessa área.
Transtorno de ansiedade social
Dessa forma pude verificar que J. L. sofria do que chamamos de Transtorno de Ansiedade Social. Seu sofrimento podia ser explicado de tal forma que um tratamento psicológico seria muito útil.
A primeira conduta foi explicar para a paciente o que ocorria. Era preciso que ela soubesse que seus tremores se davam mediante uma forte ansiedade ao imaginar que as pessoas a julgavam o tempo todo. Esse é o funcionamento dos que sofrem de Ansiedade Social, acreditam que o tempo todo são avaliados por seu desempenho, suas competências, etc.
J.L. vivia sob forte tensão há muito tempo, o que justificava suas dores pelo corpo, sua angústia e isolamento.
Com o passar da terapia, foi possível para a paciente entender que somado a suas características pessoais, mais o ambiente que havia passando toda sua infância (recebeu fortes criticas e foi muito comparada com as demais irmãs), levou-a a uma visão de Si comprometida: com baixa autoestima e se desvalorizando a maior parte do tempo.
J.L. acreditava que era incapaz, sem competências e merecedora de muitos julgamentos ruins. Durante os momentos em que estava diante de pessoas pensava que não era interessante, inteligente e que todos pensavam isso dela.
Como técnica para auxiliar os resultados, realizei com a paciente o que chamamos de exposição progressiva. No inicio eu fazia uso de fatos imaginados por ela, situações onde ela, dentro do consultório, imaginava estar vivendo. Dessa forma buscávamos juntas como resolver os problemas que J. L achava que poderiam ocorrer.
Posteriormente passamos para situações reais onde aos poucos ela enfrentava o que mais temia. É muito interessante como o Ansioso Social acredita que todos estão olhando para ele e no momento que pedimos para que confirmem isso, ficam surpresos ao constatarem que não são o foco das atenções.
Quando percebi que a paciente conhecia bem como funcionava psicologicamente e que havia desenvolvido recursos para lidar com seus medos, solicitei a ajuda de um psiquiatra para que prescrevesse um medicamento próprio para os sintomas de tremor.
A paciente pôde testar como seria ficar sem tremer. J. L. relatou emocionada que pela primeira vez pode brindar na noite de Natal sem que tivesse medo de derrubar a taça e mais do que isso, entendeu que tremer era algo que não a resumia como alguém que fosse incompetente; passou a dizer que tremer era por estar nervosa, ansiosa e que controlando o que imaginava sobre a situação em que se encontrava, conseguia controlar e ter comportamentos diferentes.
A paciente escolheu como atividade de laser trabalhos manuais algo que sempre desejou fazer, mas que nunca pôde experimentar.
A Ansiedade Social pode se manifestar de várias formas. Seja como for, sempre é possível realizar um trabalho para diminuir ou até mesmo eliminar o problema.