por Carminha Levy
Percorremos várias vertentes do xamanismo, suas leis, técnicas curativas, filosofias, etc. Toda essa sabedoria como já foi afirmado no meu primeiro texto – clique aqui e leia -, tem origem na Aurora da Humanidade, no Matriarcado.
Essa realidade chega até nós através dos estudos do Ken Wilber no livro "Up From Eden". Apresento-lhes uma versão menos acadêmica e mais próxima de nós que parte dos cultos da Grande Mãe – a Terra, até sua cristianização como as Madonas Negras que podem ser encontradas em todos os países nos dias atuais.
O Xamã, como o artífice do Sagrado, aquele que em êxtase foi ao quinto nível da grande corrente evolucionária dos seres e lá encontrou o Arquétipo do Divino, iniciou a história da Origem da consciência e é o Grande Herói da maior aventura da Humanidade. Nada de Adão, Eva e a serpente – a maçã que a humanidade comeu foi ofertada pelo feito heróico do Xamã e seu culto à Mãe Terra, trabalho simples e persistente de sacralizar a vida através da Natureza, a luz da consciência.
No pensamento mágico dos primeiros humanos os animais, água, fogo, terra faziam parte de um todo. Não possuíam pensamento lógico, isso só começou tecnicamente quando surgiu a palavra. Portanto, quando eles viam o ventre da mulher crescer (não associavam também sexo e procriação) estabeleciam uma relação entre ela e a Terra que também dava seus frutos, suas raízes – a sobrevivência deles. Cada vez mais a Terra foi sendo reverenciada como a Mãe, a Grande Deusa de onde tudo provinha. Por isso a Grande Deusa foi cada vez sendo mais cultuada, mais poderosa. Como os filhos nasciam das mães à mulher foi dado este mesmo poder. Foi uma época de amor e partilha, vida em bandos, os filhos eram de todos os homens da tribo considerados como coadjuvantes do mistério da criação.
O poder do matriarcado estendeu-se até a época dos caçadores quando as hordas de bárbaros invadiram esse paraíso de culto à Grande Mãe tentando destruir esse imenso poder. Mas isso só foi possível após muito tempo quando os gregos e romanos dividiram a Grande Mãe nas várias deusas do seu pantheon cada uma com uma qualidade ou atributo desta. Mas esse paraíso também favoreceu a estagnação pelo prazer e a chegada do patriarcado veio como um gatilho acelerou para a evolução.
Essas representações da Grande Deusa eram estátuas de argila, negras como a terra e seu culto dava-se à beira de um regato, uma caverna (pois foi se tornando um culto proibido e eles tinham que se esconder) ou ainda em buracos em velhos troncos de árvore.
Devido a tantos anos sendo cultuadas, essas estátuas emanavam uma grande força do sagrado. Foi esse poder, essa força, que chamou a atenção dos primeiros cruzados ao invadirem as Terras Santas. Estavam imbuídos de destruir os "infiéis" e todos seus objetos de culto. Mas as pequeninas estátuas negras, redescobertas, eram tão poderosas e sagradas que paralisaram sua sanha assassina em nome do nosso pobre Cristo e a mão destinada a destruir teve sua força voltada para a criação de uma nova Mãe de Cristo.
Ao colocarem um manto e uma coroa eles cristianizaram a Deusa pagã que chega até hoje como a senhora dos milagres, da aceitação das diferenças e acolhida a todos seus filhos.
Madonas Negras no Brasil
As Madonas Negras representadas aqui no Brasil pela amada e venerada Nossa Senhora Aparecida. No fim do século XIX houve um grande boom de aparições de Virgens Negras sempre dentro de rios (Nossa Senhora Aparecida) lagos (Nossa Senhora de Copacabana na Bolívia) cavernas, troncos ocos, etc. E essas aparições sempre vinham acompanhadas de grandes milagres como esse ocorrido no México.
A imagem de Nossa Senhora de Guadalupe, Madona Negra cultuada no México, surgiu quando um índio colheu rosas no topo de uma colina em plena estação de seca e as guardou num lençol. Ao abri-lo, diante do padre local que negava a aparição, as flores formaram a imagem de uma santa negra com traços indígenas, apoiada sobre uma meia-lua.
As Madonas Negras voltaram para ficar, pois o mundo precisa dessa energia primordial AGORA! O tempo urge, as soluções para a Mãe Terra tem que ser encontradas sob outro olhar e é isso que o xamanismo matricial propõe casar o patriarcado com o que ele tem de positivo e empreendedor com o matriarcado e todos seus valores amorosos coletivos. E mais uma vez o Herói desse casamento é o xamã nessa nova vertente do xamanismo cujo nome por si só já diz a que ele veio. Matriz que vai servir ao mundo como tal.